Alta Roda nº 920/269 – 23 /12 /2016
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Fernando Calmon |
O avanço da direção semiautônoma e, em futuro não
distante, da condução autônoma completamente conectada a outros veículos e à
infraestrutura parece mesmo irreversível. Isso a despeito de incidentes graves
de percurso, ambos nos EUA, um fatal ocorrido com um Tesla; outro, mais
recente, envolvendo um Volvo XC90 do Uber ao varar um semáforo vermelho (um
pedestre aguardava na faixa, sem chegar a atravessar). Em ambos os casos, os
motoristas poderiam ter intervindo, mas não o fizeram.
Recursos semiautônomos de hoje atuam por apenas 10 segundos. Quem está ao
volante precisa tocá-lo ou o sistema se autodesliga. “Os carros como os
conhecemos agora em breve se tornarão história”, afirmou o presidente do
conselho da Robert Bosch, em recente seminário na capital alemã Berlim.
Estimativas da empresa, a maior do mundo no setor de autopeças e componentes,
indicam que entre 2017 e 2022 o mercado mundial de mobilidade conectada
crescerá 25% ao ano.
Automóveis serão parte integrante da IoT (sigla em inglês para Internet das
Coisas), aptos a se comunicar com outros modais de transporte conectados e até
mesmo com a chamada casa inteligente. Por ora, as pessoas ainda pensam em seus
veículos individuais, mas nos próximos anos o foco mudará em direção ao modo
mais conveniente de alcançar o destino. Poderão lançar mão do seu carro e em seguida
de trem, ônibus, veículo elétrico e até bicicleta. Ou mesmo fazer reserva em um
hotel e se conectar com um entregador para deixar uma encomenda em sua casa sem
ninguém para recebê-la.
Um veículo será o assistente pessoal do motorista, que se tornará apenas
passageiro, caso assim o deseje. Um simples aplicativo poderá planejar,
reservar e pagar um deslocamento de porta a porta. O potencial de economizar
tempo ainda nem foi de todo avaliado.
Contudo, as grandes de empresas telecomunicações e, em especial, as gigantes de
tecnologia da conectividade como Google e Apple não terão a vida fácil
esperada. Essa coluna já opinou antes sobre as imensas dificuldades que as
empresas do Vale do Silício californiano teriam em se aventurar na produção de
veículos próprios. Apple foi a primeira a desistir, mesmo sem nunca confirmar
de forma oficial suas intenções.
Google estuda carros autônomos desde 2009. Chegou a construir um pequeno
modelo, até sem volante e pedais. No começo deste ano houve conversas com a
Ford, sem prosperar. Agora acaba de anunciar que desistiu de qualquer aspiração
sobre veículo próprio. Preferiu acertar colaboração com a FCA, a menos
capitalizada das chamadas Três Grandes de Detroit, que por isso se atrasou
quanto à conectividade e ao desenvolvimento de tração elétrica ou mesmo de
híbridos.
A indústria automobilística sabe de suas limitações sobre crescimento futuro e
dos riscos inerentes ao negócio. Há enorme exigência de capital para
investimento e uma taxa de lucratividade que na média mal chega a 8%. Tem de
atender a normas cada vez mais rígidas de segurança e de emissões. Até mesmo
preparar infraestrutura de carregamento elétrico rápido em rodovias. Dinheiro
suado, porém empresas de smartphones e aplicativos costumam ganhá-lo sem muito esforço.
Quem sabe isso muda um pouco.
RODA VIVA
FIAT confirmou sua estratégia de lançar modelos de maior valor agregado.
Haverá dois novos em 2017: hatch para o lugar do Punto e do Bravo (feito em
Betim – MG); sedã substituto do Linea e em um segundo momento, do Grand Siena
(produzido em Córdoba – Argentina). Empresa busca lucratividade perdida com
superposição de modelos de projeto antigo.
CHERY retomará produção em Jacareí (SP), após quase seis meses de
paralisação para ajuste de estoques. Foco, a partir de agora, será em SUVs e
crossovers (Tiggo 2, 7 e 9) e em menor escala sedãs (Arrizo 3 e 5) ao longo de
2017/2018. Preocupação da marca chinesa é recompor rede de concessionárias.
Chegou a negociar com Grupo Caoa, sem definição.
AUTOMÓVEL feito para o motor e vice-versa. Golf 1.0 TSI traz o melhor
propulsor flex da atualidade ao aproveitar o etanol da forma mais eficiente na
relação desempenho-consumo. No dia a dia destacam-se baixo nível de ruído,
“pegada” em baixas rotações e câmbio manual de seis marchas. Ótimos bancos
dianteiros. Passa também impressão de solidez construtiva.
PROIBIDO comercializar e instalar comando elétrico de vidros um-toque sem
proteção contra esmagamento, a partir de 1º de janeiro próximo, por decisão do
Contran. Outra exigência, dessa vez descabida, é obrigar carros com pneus que
podem rodar vazios a portar aqueles tubos de spray emergenciais. Fabricantes de
pneus desaconselham o uso, mas Contran insistiu...
RESSALVAS: Renault corrigiu consumo informado do novo motor 1-litro,
3-cilindros. Sandero, cidade (gasolina/etanol), 14,2 km/9,5 km/l; estrada,
14,1/9,6 km/l. Câmbio curto quase iguala dados de cidade e estrada, a exemplo
de carros híbridos, o que não deixa de ser curioso. No Cruze Sport6, eixo
traseiro é 10% mais rígido e não as molas.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
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