QUANDO A VITÓRIA NÃO RESOLVE TUDO
As 19 vitórias da Mercedes, em 21 GPs de F-1, não foram
suficientes para manter a paz dentro de casa
Paddy Lowe (E) e Toto Wolff |
Nada mais ilusório que a máxima “em time que está
ganhando não se mexe”. Depois do surpreendente anúncio de divórcio entre Nico
Rosberg e a F-1, a equipe Mercedes envolve-se em nova situação de risco: uma
que envolve a permanência de Paddy Lowe na equipe.
Atual diretor técnico
executivo do Kampfpanzer que ostenta a estrela de três pontas, este britânico
nascido em Nairobi, no Quênia, já não parece tão à vontade na equipe alemã. No
entanto a causa disso, a propalada chegada de James Allison, a esse time poderá
resolver um outro problema igualmente importante, senão mais grave: a falta de
um piloto para preencher a vaga aberta com a saída de Rosberg.
Em um universo onde tudo é possível – ou “everything is
possible” no jargão do todo poderoso Bernie Ecclestone – o companheiro de
equipe de Lewis Hamilton em 2017 poderia ser o finlandês Valteri Bottas,
solução que tem tudo para se tornar um estudo de caso para quem pesquisa
manobras de engenharia financeira. Solução do estilo quebra-cabeça e que,
diga-se de passagem, poderia muito bem salvar a lavoura do Cerrado de Felipe
Nasr, que hoje sofre com a falta de insumo básico.
Felipe Nasr |
Vejamos, pois, este quadro em partes, capítulos ou arias,
já que tem todos os elementos de uma ópera digna como a história de Fosca, obra
em quatro atos de outro brasileiro, o campineiro Antônio Carlos Gomes. No
primeiro ato desta obra datada de 1873 e cuja estreia foi no Teatro Scala, em
Milão, sequestradores liderados por Cambro, irmão da heroína, sequestram Paolo,
noivo de Delia e amor secreto de Fosca e sua liberdade com vida é taxada em 100
moedas de ouro.
Ocorre que em meio à essa negociação Fosca tenta
convencer seu irmão Cambro a ficar com o dinheiro e deixar Paolo somente para
seu usufruto pessoal. Uma pequena revolta acontece e os comandados por Cambro
sequestram as donzelas de Veneza, gerando medo e confusão na cidade. Tosca se
arrepende e tenta convencer Paolo e sua noiva, Delia, a cometerem suicídio, mas
em uma reviravolta digna de mentes insanas, é ela quem acaba por se matar, o
que permite que Veneza siga sua vida como se quase nada tivesse acontecido.
Valteri Bottas |
A vaga aberta pela aposentadoria precoce de Nico Rosberg
pode custar à Mercedes algo como essas 100 moedas de ouro, com o valor
devidamente atualizado em juros e correção monetária em relação à história
acontecida no ano de 944. Aparentemente sem conseguir sequestrar pilotos de
ponta – tais como Fernando Alonso, Sebastian Vettel ou Max Verstappen, Toto
Wolff viu-se obrigado a olhar para Valteri Bottas, primeiro piloto de uma
equipe Williams que terá o canadense Lance Stroll, cujo currículo na F-1 ainda
está virgem.
Pat Symonds |
Liberar um piloto que parte para sua quinta temporada na
categoria, seria, portanto, algo doloroso para a equipe Williams. Concordar em
liberar Bottas seria herdar o problema que hoje aflige a Mercedes: procurar um
piloto experiente em um mercado onde a demanda excede a procura. Tarefa árdua,
mas nada que outro punhado de moedas de ouro, ou algo equivalente, não resolva.
Quem sabe, até mesmo uma solução mista: um desconto substancial na fatura do
aluguel de motores e a liberação de Paddy Lowe para assumir a direção técnica
da equipe. Vale lembrar que ele foi um dos cérebros responsáveis pelo
desenvolvimento da suspensão ativa dos Williams FW14 e FW 14 b.
Caso o patrocinador principal da equipe concorde com a
liberação de Bottas, a Williams resolveria não apenas dois problemas, mas três:
uma redução de muitos milhões de dólares na conta dos motores – fala-se em
torno de US$ 12 milhões, proposta rejeitada inicialmente – reforçar a a equipe
e preparar o sucessor de Pat Symonds, que já anunciou sua aposentadoria para o
final da próxima temporada. De quebra, ficaria bem com a Mercedes em uma
temporada onde um piloto da casa de Sttutgart, Estebán Ocón, vai pilotar para
Force India, outra equipe que usa os motores alemães.
E caso o quebra cabeça se resolva dessa maneira, o nome
de Felipe Nasr, até mesmo de Felipe Massa, voltam ao mercado. Ambos já
trabalharam com Frank Williams e sua família, o que facilitaria o entendimento
com a comunidade de Grove. Situação que ficaria mais difícil caso a Mercedes
intercedesse para outro de seus pilotos, o alemão Pascal Wehrlein. O jovem
campeão do DTM em 2015, porém, parece não ter impressionado o mercado como Toto
Wolff esperava. Nesse caso, só mesmo dobrando a oferta de moedas de ouro para
que essa ópera teuto-britânica não acabe em clima de tragédia grega.
FRAGA REJUVENESCE A STOCK CAR
Felipe Fraga acrescentou mais dois “primeiros” à sua já
longa lista de conquistas: em uma atuação madura em que dois incidentes
ajudaram a definir o resultado da etapa final da temporada de Stock Car, Fraga
conquistou o seu primeiro título de Campeão Brasileiro da categoria e tornou-se
o piloto mais jovem a conseguir tal resultado. O piloto nascido na cidade de
Jacundá (PA) em 3 de agosto de 1995, Fraga desde pequeno radicou-se no Estado de
Tocantins, consequência das atividades comerciais de sua família.
Autor da pole-position em sua corrida de estreia
(Interlagos, 2014), o campeão de 2016 é também o mais jovem vencedor da Corrida
do Milhão de 2016, Fraguinha é um dos expoentes da nova geração de pilotos
brasileiros. Estes dois resultados mostram que a opção por fazer carreira com
carros de Turismo - consequência de ter um corpo avantajado -, foi a mais
acertada, mesmo dividindo a equipe Cimed com o campeão de 2015, o paulista
Marcos Gomes. No ano que vem Felipe cede lugar para seu mentor, Cacá Bueno, e
assume a condição de primeiro piloto na estrutura que Bueno e William Lube
montaram junto com Duda Pamplona, ainda defendendo as cores do seu patrocinador
atual, a farmacêutica Cimed.
Diego Nunes |
Além de Fraga vale destacar dois outros nomes que também
deverão brilhar na próxima temporada: o já experiente Diego Nunes – que deve se
transferir para a equipe Full Time -, e Guilherme Salas, um ano mais velho que
Fraga. Salas brilhou na disputa do Brasileiro de Marcas e fez algumas aparições
na Stock Car: estreou com um segundo lugar na corrida de duplas (Junto com
Ricardo Maurício) e obteve o sexto lugar no encerramento da temporada.
Daniel Serra |
Na prova de Interlagos Fraga liderou as primeiras voltas
com folga, mas a entrada do Safety-Car anulou a vantagem. Mais tarde, uma
parada para instalar pneus de chuva em seu carro o deslocou para trás, mas
sempre mantendo posição que lhe garantia o título. Quem saiu ganhando com esses
imprevistos foi Daniel Serra, que garantiu a última vitória da equipe Red Bull,
que se despede da categoria. Rubens Barrichello chegou em segundo na prova e no
campeonato.
MUDANÇAS NA VICAR
A corrida de Interlagos marcou também a despedida de
Maurício Slaviero do comando da Vicar, empresa do grupo T4F voltada para a
promoção de eventos de automobilismo. Seu lugar será ocupado por Rodrigo
Mathias, até então responsável pela divisão de novos negócios do grupo gaúcho
RBS.
WG
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