Alta Roda nº 980/280 – 23 /02 /2017
Fernando Calmon |
A
suvinização, neologismo para a crescente aceitação de modelos do tipo SUV ou
mesmo de crossovers inspirados neles, continua sacudindo o mercado brasileiro.
De pouco adianta argumentar que são veículos pesados, gastam mais combustível,
têm menor desempenho e centro de gravidade desfavorável. As projeções, no
entanto, apontam crescimento, nos próximos três anos, de 15% para 20% na
preferência do consumidor. E o fenômeno se repete até na Europa, onde
alcançaram 25% das vendas totais.
Renault resolveu apostar duplamente nesse segmento: primeiro com o Duster, de
desenho mais rústico, e agora com o Captur, ambos partilhando a plataforma
mecânica. O segundo foi desenvolvido no Brasil e seu estilo vai inspirar a
atualização de meia geração do homônimo francês (menor e derivado do Clio IV)
já neste ano. O Captur tem linhas suaves, atuais e dispensou o indefectível
rack de teto. Há luzes diurnas de LED. A pintura de duas tonalidades, opcional
de R$ 1.400, é uma aposta do fabricante, que prevê procura superior a 80%.
Certas características do novo modelo – vão livre, 21 cm; ângulos de entrada e
saída, 23° e 31°, respectivamente – sugerem um visual para agradar a quem
aprecia posição elevada ao volante. O interior tem projeto atualizado, plásticos
bons só na versão de topo Intense e novo quadro de instrumentos (velocímetro
digital). Mas o volante só dispõe de regulagem de altura e continua a cair
pesadamente ao ser destravado. Alguns botões no assoalho são de acesso e
visualização ruins. Porta-malas de 437 litros está entre os melhores do
segmento (Duster, 475 litros, mas acesso é menos fácil).
A versão de entrada Zen (R$ 78.990) recebeu o novo motor SCe de 1,6 L/120 cv
(etanol), com 2 cv a mais do que outros Renault. Câmbio automático do tipo CVT
será opcional daqui a três meses. Com câmbio manual de cinco marchas tem
desempenho aceitável, porém menos ágil que o Duster, 60 kg mais leve. Essa
diferença é perceptível tanto em cidade quanto em estrada, apesar de o
fabricante ter tentado compensar com relação de quinta marcha mais curta.
Internamente é espaçoso graças à distância entre eixos de 2,67 m.
A versão mais cara (R$ 88.490) oferece para os novos bancos mais anatômicos um
revestimento parcial de couro. São pormenores desse tipo que ajudam a mantê-lo
acessível, nem sempre fácil de perceber. Pelo menos oferece rodas de liga leve
de 17 polegadas que ajudam a compor bem o seu perfil. Dispõe do motor de 2
L/148 cv (etanol) e apenas câmbio automático convencional de quatro marchas.
Mesmo sendo um projeto antigo, houve nítida evolução tanto em uso normal quanto
no modo de seleção manual. O conjunto motriz, de fato, não é o melhor do
segmento, sem chegar a decepcionar.
SUV de linhas atraentes a preço competitivo, o Captur deve conquistar espaço
logo que a Renault disponibilizar todas as opções. Terá de enfrentar, pelo
menos, seis rivais diretos: Hyundai Creta, Suzuki Vitara, Jeep Renegade, Honda
HR-V, Nissan Kicks e Chevrolet Tracker, entre outros. O Jeep Compass, de
entrada, seria o sétimo competidor pelo critério puramente monetário. E ainda
sem contar o novo Ford EcoSport, que promete endurecer o jogo a partir de
junho.
RODA VIVA
POR APENAS 25.000 unidades o Brasil não caiu para a
décima colocação no ranking mundial de vendas de automóveis e comerciais leves.
Ficou em nono, em 2016, com o Canadá logo atrás. Se acrescentados caminhões e
ônibus, a classificação sobe para oitava. Ainda assim distante da quarta
colocação que já ocupou antes da atual crise, iniciada em 2013.
RENOVAÇÃO estilística da segunda geração do Porsche
Panamera chega ao Brasil, pouco mais de 6 meses depois da Europa. Inspiração no
911 é clara, enquanto o interior agora passa uma sensação melhor de acomodação
para os quatro passageiros do sedã-cupê de quatro portas. As três versões têm
tração 4x4 e preços básicos vão de R$ 758.000 (V-6) a 981.000 (V-8).
SOLUÇÃO mecânica interessante do Panamera é a
modularidade dos motores V-8 (4 litros) e V-6 (2,9 litros), ambos com diâmetro
e curso iguais e turbocompressor. V-8 entrega 550 cv e 78,5 kgfm. Ignora as
quase 2 t de peso para acelerar de 0 a 100 km/h em 3,6 s. Câmbio automatizado
de oito marchas também está no V-6 (440 cv/56,1 kgfm) e 0 a 100 km/h em 4,2 s.
HYUNDAI CRETA, na versão de topo Prestige 2 L/166 cv
(etanol), deixa boas impressões quanto à dirigibilidade, espaço interno e bom
porta-malas de 431 litros. Banco do motorista tem providencial ventilação no
assento para dias de calor. Consumo, principalmente em cidade, é alto. Pacote
de segurança inclui controle de estabilidade (ESC) e bolsas de ar laterais.
APLICATIVO para telefones, de início Android e depois
iOS, facilita avaliação de carro usado no ato da compra. Com sugestivo nome
Auto Vistoria Evita Mico, permite identificar sinais de adulteração. Gratuito
para avaliação interna e externa do veículo; R$ 59,00 para cruzar seu histórico
e analisar ruído de motor (usando microfone do aparelho).
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmo fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2
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