Alta Roda nº 929/279– 16 /02 /2017
Passaram algo despercebidos, em 2016, os 30 anos do
Proconve (Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores).
Como a indústria instalada no País completou 60 anos também em 2016, significa
que metade de sua trajetória histórica foi regida por regulamentações que, se
não estão entre as mais rigorosas do mundo, pelo menos ajudaram a mitigar as
chamadas emissões reguladas de três gases: monóxido de carbono, óxidos de
nitrogênio e hidrocarbonetos.
No caso de motores de ciclo Otto o controle pôde ser feito com relativa
facilidade por meio de gerenciamento eletrônico de injeção e ignição, além de
um dispositivo muito eficiente, o catalisador de três vias, que recebe este
nome por atuar sobre aqueles gases. Quando a peça atinge a temperatura de
trabalho – hoje de forma muito mais rápida – e uma eficiência de conversão de
98%, os subprodutos no escapamento são nitrogênio e vapor d’água.
Um dos acertos do Proconve foi trabalhar com fases e prazos a exemplo do
exterior. Isso atraiu fabricantes de catalisadores para o Brasil. Primeiramente
a Umicore, que completou 25 anos, e depois a Basf. Stephan Blumrich, presidente
da primeira, afirmou com exclusividade à Coluna:
“Devemos continuar, como o resto do mundo faz, a buscar emissões menores do que
hoje são permitidas. O legislador deve atuar em harmonia com a indústria quanto
a metas e o tempo necessário para alcançá-las. O catalisador faz a sua parte e
pode durar o mesmo que um motor se a manutenção deste for feita de acordo com
as normas do fabricante. Funciona de modo simples por meio de reações químicas.
Além disso, ao fim da vida útil pode ser reciclado e seus metais nobres,
recuperados. A saúde da população é preservada, mas com o aumento da frota
circulante e condições de tráfego mais difíceis há necessidade não apenas de
avançar nas regulamentações, mas também de ter um controle sobre a efetiva
manutenção dos veículos por meio de inspeções”.
O fato é que não se vislumbram ainda os próximos passos do Proconve. Ministério
do Meio Ambiente e Ibama deveriam ter avançado nas propostas, mas parece haver
certa letargia, em parte pela situação política e econômica do País. Nesse
cenário o governo de São Paulo resolveu, depois de 20 anos de indefinições,
propor a continuidade na legislação e, pela primeira vez, iniciar um programa
estadual de inspeção veicular.
De fato, um esforço isolado da cidade de São Paulo deixa de trazer benefícios
maiores porque a poluição se estende por toda a região metropolitana e começa a
preocupar também em concentrações urbanas do interior. A Secretaria Estadual do
Meio Ambiente anunciou na semana passada que em 2018 todos os veículos a
diesel, leves e pesados, começarão a ser inspecionados.
Segundo o secretário, Ricardo Salles, as 46 agências regionais da Cetesb
(Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) se encarregarão do programa.
É imprudente achar que uma companhia com várias atribuições e em momento de
finanças tão apertadas possa coordenar e executar inspeções. Isso não deu certo
no Estado do Rio de Janeiro nem no exterior. A fórmula com menor possibilidade
de erros é boa regulamentação e licitação dos serviços entre empresas
especializadas.
RODA VIVA
APESAR de muito se falar sobre alternativas de mobilidade no mundo, as
vendas de automóveis e comerciais leves continuam em ascensão. Segundo a
consultoria inglesa Jato, 84,24 milhões de unidades ganharam as ruas em 54
principais países pesquisados no ano passado. Crescimento de 5,6% sobre 2015.
Nada indica que esse ritmo diminua em 2017.
EMISSÕES de novas carteiras nacionais de habilitação (CNH) caíram 13% em
2015 e também em 2016. Leitura mais apressada pode concluir que há menos
interesse em comprar carros. Mas, na realidade, comparada à queda de cerca de
50% do mercado brasileiro no mesmo período, o percentual acumulado menor de CNH
emitidas indica justamente o contrário.
SANDERO surpreende em desenvoltura graças ao novo motor 1,6-L SC-e, bem
superior ao utilizado antes. Mesmo com potência maior o consumo foi reduzido.
Sistema de desligar-ligar o motor (pode ser inibido por botão no painel)
funciona de modo silencioso e preciso, pois basta um leve toque no pedal de
embreagem. Comando do câmbio, agora a cabo, ficou bem melhor.
MEXICANOS estão comprando mais veículos novos (crescimento de 50% em dois
anos) depois que o governo regulamentou a importação de modelos seminovos dos
EUA e assim reduziu em 90% essa prática. O mercado do México, agora, é duas
vezes maior que o da Argentina. Oportunidade para diversificar exportações
brasileiras, o que já vem ocorrendo.
FERRAMENTA Consulta Recall verifica se qualquer veículo tem pendência
relativa a defeitos de segurança. Desenvolvida pela Tecnobank, inclui todas as
convocações dos fabricantes desde 1999. Serviço é hospedado em nuvem e a
informação individual é paga. Essa informação deveria aparecer no licenciamento
anual, mas vem sendo adiada seguidamente.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
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