Alta Roda nº 927/276 – 09 /02 /2017
Fernando Calmon |
Sinais ambíguos nesse começo de ano quanto à evolução do mercado
brasileiro. Em janeiro passado, comparado ao mesmo mês de 2016, as vendas
internas caíram 5,2% (147,2 mil unidades entre automóveis e comerciais leves e
pesados). Número desanimador para quem acreditava que o País parou de cavar o
fundo do poço. No entanto, a produção, puxada por crescimento expressivo de 56%
no número de veículos exportados, subiu 17%.
Exportações não explicam todo o crescimento da produção. O número de veículos
em estoque passou de 36 para 38 dias, mas existe um pormenor interessante. Os
dois dias a mais em relação a dezembro de 2016 (normalmente um mês bom para
comercialização) estão nos pátios dos fabricantes, depois de vários meses de
esforço da indústria para diminuir a produção e controlar o estoque.
Se o número de veículos nos pátios das concessionárias ficou estável de
dezembro para janeiro, pode significar alguma sinalização de aumento das
encomendas para os fabricantes. Fatores sazonais também influenciaram as vendas
de janeiro. O consumidor talvez tenha resolvido esperar mais um pouco para
verificar se a redução da taxa primária de juros (Selic) alteraria as condições
de financiamento ao longo do ano. Juros no financiamento de veículos dependem
mais da inadimplência do que da Selic, embora algum benefício sempre venha.
Fato incontestável é a dificuldade de entender o que ocorre agora no mercado
automobilístico e as tendências para o resto do ano. Sondagem da Fundação
Getúlio Vargas aponta uma subida de 6,2 pontos percentuais no índice de
confiança do consumidor em geral. Até a proporção de famílias endividadas,
segundo a Confederação Nacional do Comércio, atingiu o número mais baixo desde
meados de 2010. Continuam, ainda, as incertezas políticas e se o esforço pelas
reformas econômicas para tirar o Brasil da recessão, mesmo em médio prazo, se
transformaria em leis no Congresso.
Produção recorde da agricultura brasileira é a única certeza de que dinheiro
novo irá irrigar a economia nos próximos meses, ajudando a manter a inflação
cadente.
Há outro fato novo e positivo. A partir de março próximo o dinheiro de contas
inativas do FGTS – montante mais do que generoso de R$ 40 bilhões – será
liberado parceladamente. Servirá para pagamento de dívidas, aumento de poupança
e até de consumo. Quanto caberá a cada destinação fica difícil de prever,
segundo analistas. Quem cogita de, finalmente, depois de três anos de
abstinência forçada, trocar de carro por um zero-quilômetro, talvez queira
colocar a mão naquele dinheiro inesperado para aumentar o valor da entrada e
gastar menos com juros de financiamento.
Se essa última hipótese prevalecer, o primeiro trimestre do ano continuará
fraco. Em compensação os trimestres seguintes tenderiam a ser melhores. Por
enquanto, a Anfavea não mudou sua previsão: 2017 teria números 4% melhores no
mercado interno do que 2016. A General Motors, atual líder de vendas e primeira
a vislumbrar o enorme tombo ocorrido em 2015 e 2016, espera recuperação de até
10% do mercado brasileiro em 2017.
Mantenhamos os dedos cruzados.
RODA VIVA
HONDA revelou o interior do seu crossover WR-V e todas as modificações
estruturais em relação ao Fit. Não se trata de um carro todo novo e sim uma
opção interessante entre seu modelo de entrada e o HR-V. O preço só será
anunciado em meados de março. Desenvolvimento meticuloso feito no Brasil
atenderá à procura crescente de veículos com esse porte e visual.
ENCERRADAS as tratativas entre a chinesa Chery e o Grupo Caoa para que a
empresa brasileira assumisse a comercialização total ou parcial dos produtos da
marca oriental. Conversas até avançaram, sem chegar a bom termo. Caoa, além de
produzir veículos Hyundai, importa estes modelos sul-coreanos e os japoneses da
Subaru. Situação ruim do mercado foi uma das razões.
ALEMANHA é o primeiro país a regulamentar a circulação de carros autônomos,
abrindo espaço para circulação em vias públicas. O motorista continuará
responsável por intervir em situações emergenciais, monitorado por dados
armazenados no veículo. Não se sabe, porém, se os fabricantes de veículos
aceitarão o risco jurídico associado ao mundo real.
POR sua vez, o Ministério dos Transportes dos EUA decidiu que a partir de
1º de setembro de 2019 todos os novos veículos elétricos ou híbridos de até 5 t
de peso bruto total (inclui picapes e furgões) terão de emitir sons audíveis
para alertar pedestres sobre a sua aproximação. A exigência será para
velocidades de até 30 km/h, tanto em marcha à frente quanto à ré.
MAIS um aplicativo para telefones aproxima, sem intermediários, quem quer
vender e comprar veículos seminovos e usados. Segundo a Car4Sale “ofertas dos
compradores são progressivas, a partir de preço inicial definido pelo algoritmo
do aplicativo com base no cruzamento de informações de carros do mesmo modelo
vendidos na própria plataforma e em sites”.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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