O futuro está de volta
Treinos livres da F-1 começam a mostrar as forças de 2017
Mercedes e Ferrari dominam as atenções
Massa faz o terceiro tempo
Não chega a ser exatamente no padrão “Especial de Natal
de Roberto Carlos”, mas os treinos de pré-temporada da F-1 sempre ajudam a dar
uma boa ideia sobre as forças do bem e do mal que irão prevalecer nos próximos
20 capítulos do campeonato. Conclusões ficarão mais claras após três ou quatro
corridas – Austrália, China, Bahrain e Rússia -, mas o que aconteceu em
Barcelona ontem já dá uma ideia de como andam as coisas nesse universo.
Equipamentos de testes, número de voltas e decisões tomadas a cada pane são os
indicadores mais confiáveis nesse jogo de especulação com fundinho de verdade,
jogo onde Mercedes e Ferrari sobressaíram, Williams surpreendeu e a Red Bull
viveu o primeiro soluço com o motor Renault rebatizado Tag Heuer.
A Mercedes foi a equipe mais rápida do dia, com Lewis
Hamilton (1’21”765, à tarde, pneus macios), enquanto Valteri Bottas foi o
segundo pela manhã (1’23”169, pneus macios), o que lhe garantiu o sexto tempo
do dia. Numa demonstração de força, o time apareceu com novas soluções de
aerodinâmica, a mais interessante delas um capô traseiro que mostra uma
barbatana de tubarão reduzida e com uma abertura superior.
Aparentemente, esta
solução é baseada no Princípio de Bernoulli: o uso de uma saída de seção menor
que o da entrada do fluído no compartimento do motor cria um fenômeno que
aumenta a velocidade da saída do ar (no caso, quente) e ajuda a amenizar a
turbulência superior; consequentemente consegue-se melhorar o fluxo de ar que
se move em direção à Asa T e ao aerofólio posterior. Além disso o time alemão
fez medições da turbulência que acontece na região posterior às rodas
dianteiras.
Tal qual a Mercedes, que completou 165 voltas, a Ferrari
também passou das 100 voltas e registrou 128, todas elas com Sebastian Vettel,
o mais rápido de manhã (1’22”791) e autor do segundo melhor tempo do dia
(1’21”878). Esta marca, assim como a de Lewis Hamilton, já está abaixo da pole
position do GP de 2016 (1’22”000, Hamilton), o que comprova que os novos carros
serão mais eficientes que os usados no ano passado. Vale lembrar que o alemão
marcou seu tempo com pneus médios, menos aderentes que os montados no carro do
inglês. Se na parte da tarde correu tudo bem para a Ferrari, na parte da manhã
a Scuderia teve algumas preocupações com o comportamento da suspensão traseira
do chassi SF70H.
Completando o trio de times que superou a casa das 100
voltas, a Williams surpreendeu e mostrou-se mais confiável e eficiente que a
Red Bull. Felipe Massa (3º tempo, 1’22”076, pneus macios) era só sorrisos ao
final dos treinos e o responsável pela equipe na pista, Rod Nelson, adotou um
programa de trabalho dos mais variados: saídas à pista para completar séries
curtas e longas de voltas, variando acertos de suspensão, pneus de compostos
médio e macio.
As demais equipes viveram emoções mais fortes e reagiram
de formas diferentes. A Haas, por exemplo, voltou a ter problemas com os
freios, algo que privou o time de marcar muitos pontos na segunda fase da
temporada passada. Uma travada das rodas traseiras acabou provocando o primeiro
acidente do ano: Kevin Magnussen (4º tempo, 1’22”894, pneus macios) bateu na
curva 10 e danificou o bico do seu VF17. Numa atitude que demostrou o
amadurecimento do time americano, a equipe reagiu com tranquilidade e o
dinamarquês voltou à pista.
Igualmente com problemas de menor importância –
acumulador de energia e um sensor do motor – Daniel Ricciardo (5º tempo,
1’22”926, pneus macios) deu apenas quatro voltas pela manhã. O retorno às
atividades de pista só aconteceu por volta das 16 horas, consequência da
dificuldade em substituir os elementos que falharam.
A Force India começou bem o dia: pela manhã Sérgio Perez
marcou o terceiro tempo (1’23”709, pneus macios, sétimo melhor tempo do dia),
mas um problema com o escapamento levou o engenheiro Tom McCulough a abortar os
trabalhos como “medida de precaução”, entenda-se vamos evitar um dano maior e
mais caro para ser consertado…
Na Toro Rosso, situação parecida, mas Carlos Sainz Jr (8º
tempo, 1’24”494, pneus médios), completou 51 voltas, 12 a mais que Pérez, e
checou tantos elementos e reações do novo STR12 quanto possível.
Estreante na Renault o alemão Nico Hulkenberg (9º tempo,
1’24”784, pneus médios) comentou que que “não tivemos um dia livre de
problemas, mas foi uma boa estreia na minha nova equipe”. Segundo Nick Chester,
responsável pelo chassi do carro francês “nosso maior problema foi com os dutos
dos freios dianteiros.”
Na McLaren, mais do mesmo: novamente o motor Honda deu
problemas logo na primeira volta que Fernando Alonso (10º tempo, 1’24”852,
pneus macios) completou no trino da manhã, algo que mexeu com os brios do
espanhol. “Espero que isso não se repita. Já perdi um dos quatro dias de testes
previstos antes do início da temporada, dia 26, em Melbourne, o que não é bom”.
Uma pane nos circuitos de óleo do motor forçou uma troca da unidade de potência
defeituosa, que será examinada com muita atenção pelos técnicos japoneses. Para
acalmar seu primeiro piloto, a McLaren já admite rever a carga horária dos
pilotos para a pré-temporada. Incialmente essa agenda está dividida em quatro
dias de testes para Fernando Alonso e outros quatro para Stoffel Vandoorme, que
treina hoje.
Tal qual Mercedes e Ferrari, a Sauber também não
surpreendeu: o sueco Marcus Ericsson foi o mais lento na pista (11º tempo,
1’26”841, pneus médios). Ele desenvolveu um programa de avaliações de
aerodinâmica e acerto básico, agenda que a equipe classificou como processo de
levantamento de dados do novo carro.
Os treinos prosseguem hoje e se estendem até quinta
feira; após uma interrupção de três dias recomeçam para mais quatro sessões
diárias na segunda-feira, dia 4.
Wagner Gonzalez
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