Wagner Gonzalez |
20 homens e uma fórmula
Apesar de algumas novidades de carros, motores e troca de
CEPs de pilotos, além do onipresente Codiv-19, o início da temporada 2020 da
F-1 carrega tradições típicas da categoria. Um comunicado emitido pela FIA para
anunciar um acordo não revelado com a Ferrari e concernente à bateria usada na
temporada passada gerou um protesto formal de sete equipes da categoria. Nada
surpreendente, as três que não subscreveram a tal carta foram a própria Ferrari
e as duas que usam seus motores, Alfa Romeo e Haas.
A temporada começa com uma
baixa já confirmada: o GP da China foi cancelado e ainda não se pode prever se
vai acontecer este ano e o GP do Bahrain será disputado sem a presença de
público. Há mais por acontecer neste fim de semana e o protagonista principal
disso é o novo sistema de direção da Mercedes, maior novidade da pré-temporada.
Faltando poucos dias para o Grande Prêmio da Austrália, que acontece domingo em
Melbourne, vale a pena dar uma passada d’olhos em cada uma das dez equipes
inscritas no campeonato.
Equipe/Construtor: Mercedes-AMG Petronas Formula One
Team/Mercedes
Carro/Motor: F1 W11 /AMG F1 M11
Pilotos: Lewis Hamilton (Inglaterra, #44) e Valtteri Bottas
(Finlândia, #77)
O bicho papão da
categoria nas últimas cinco temporadas não perdeu o apetite por novas
conquistas e é o responsável pela maior inovação dos últimos tempos: um sistema
de direção conhecido como DAS (Dual Axis Steering, ou Esterçamento com Duplo
Eixo em tradução livre), que altera a convergência das rodas dianteiras com o
carro em movimento. Tal recurso permite ganhar velocidade nas retas, melhorar o
desempenho do automóvel nas curvas e economizar pneus e combustível; esse
complexo de melhorias possibilita poupar o motor e completar stints mais
longos, ou seja, andar mais voltas com o mesmo jogo de pneus. Um fato curioso
que embrulha este pacote é o fato de Valtteri Bottas ter feito o melhor tempo
dos treinos da pré-temporada na primeira semana de atividades, claro indício
que depois disso o time alemão optou por tentar encobrir o real rendimento dos
seus carros. Lewis Hamilton foi o campeão de quilometragem: completou 466
voltas (contra 437 de Bottas) e marcou o quinto melhor tempo: 1’16”410.
Equipe/Construtor: Aston Martin Red Bull
Racing/Red Bull Racing Honda
Carro/Motor: RB16/Honda RA620H
Pilotos: Alex Albon (Tailândia, #23) e Max Vertappen (Países
Baixos, #33)
O time que conta com o talento de Adrian Newey, há anos o
projetista mais destacado da categoria, aposta no talento de Jos Verstappen
para recuperar o domínio que marcou a passagem de Sebastian Vettel pela euipe
onde conquistou quatro títulos consecutivos. O holandês terminou a
pré-temporada como segundo homem mais rápido (1’16”269), a equipe foi a quinta
em número de voltas completadas (780, contra 903 da Mercedes) e Alex Albon fechou
os seis dias de testes com o 20º tempo (1’’17”550). Leia-se aqui o holandês
trabalhando com foco em performance absoluta e o anglo-tailandês na
resistência, tanto que andou sempre com pneus de compostos mais duros. Espere
da equipe a liderança do pelotão pós-Mercedes.
Equipe/Construtor: Renault F1 Team/Renault
Carro/Motor: R.S.20/Renault E-Tech 20
Pilotos: Daniel Ricciardo (Austrália, #3) e Estebán Ocón
(França, #31)
Maior candidata a Fênix da temporada, a Renault se
destacou pelo desempenho similar dos seus dois pilotos: o australiano marcou o
terceiro tempo (1’16”276) e o franco-catalão o sexto (1’16”433), ambos
garantindo o total de 737 voltas para o time francês. Sem maiores problemas de
confiabilidade – a durabilidade do motor gerou bons comentários – as chances de
uma recuperação plena em relação a um problemático 2019 são grandes. Motivos
para tanto são a conjunção da experiência e velocidade de Ricciardo e a
juventude e potencial de Ocón, algo que deve contribuir para um bom ambiente de
trabalho em uma equipe que tende a colher os frutos da reorganização acontecida
na segunda metade da temporada passada.
Equipe/Construtor: Scuderia Ferrari Mission Winnow/Ferrari
Carro/Motor: SF1000/Ferrari 065
Pilotos: Sebastian Vettel (Alemanha, #5) e Charles Leclerc
(Mônaco, #16)
Eternamente envolta em um ciclo que alterna longas crises
com momentos de glória, a Ferrari começa o ano envolta no acordo secreto feito
com a FIA para encerrar o caso envolvendo a especificação das baterias usadas
no ano passado. Não bastasse a reclamação das concorrentes, a Scuderia trabalha
para diminuir a diferença sentida para os rivais e sofre com as consequências
da eterna vigilância da imprensa italiana, que cobra resultados a altura da
paixão incandescida pelo time de Maranello. Além do contexto técnico há mais
obstáculos no futuro próximo: a renovação do contrato de Sebastian Vettel (9º
tempo, 1’’16”841), cada vez mais ofuscado pelo já não tão novato Charles
Leclerc (4º, 1’16”360) deverá elevar a sempre alta temperatura que envolve a
marca, cuja quilometragem foi a segunda maior dos testes: 844 voltas.
Equipe/Construtor: BWT Racing Point F1
Team/Racing Point-BWT Mercedes
Carro/Motor: RP20/BWT Mercedes
Pilotos: Sérgio Pérez (México, #11) e Lance Stroll (Canadá, #18)
Tal qual a Renault, a Racing Point também mostrou sinais
de recuperação, neste caso mais profundos: a falência do seu antigo
proprietário (Vijay Mallya), só não decretou o final da equipe porque o
milionário canadense Lawrence Stroll decidiu aprofundar sua paixão pelo
automobilismo e assumiu o time em meados de 2018. De quebra garantiu a carreira
do seu filho Lance e, mais recentemente comprou uma quantidade significativa de
ações da Aston Martin, marca atualmente ligada à Red Bull e que será adotada
como nome do time hoje apoiado pela BWT, fabricante alemã de filtros de água.
Tão importante quanto as qualidades gerenciais de Lawrence Stroll é a
capacidade técnica de Andy Green, engenheiro que formado por Gary Anderson, de
quem herdou a paixão pelo esporte e capacidade de trabalhar com orçamentos
reduzidos. O desempenho de Sérgio Pérez (7º, 1'16”634) contrasta com o de Lance
Stroll (16º, 1’17”118) apesar que o mexicano tenha marcado seu tempo com pneus
de composto mais macio (C5) e o canadense usado os de composto médio (C3). As
782 voltas completadas pelos dois, quarta maior quilometragem, denota a
confiabilidade do carro.
Equipe/Construtor: McLaren F1 Team/McLaren-Renault
Carro/Motor: McL35/ Renault E-Tech 20
Pilotos: Lando Norris (Inglaterra, #4) e Carlos Sainz (Espanha,
#55)
Provavelmente a dupla de pilotos mais descontraída da
categoria, Carlos Sainz e Lando Norris podem viver um grande ano, apesar das
limitações paralelas decorrentes da futura associação da equipe em 2021, quando
a McLaren substituirá o motor Renault pelo Mercedes. A resistência e
durabilidade demonstrada pelo V6 francês nos testes de Barcelona garantiu ao
time a boa marca de 802 voltas e promete ao espanhol Sainz (8º, 1’16”820) a
tranquilidade necessária para exprimir sua principal qualidade: um estrategista
dos mais rápidos. O inglês Norris (21º, 1’17”573) é o queridinho da McLaren e
está sendo trabalhado pela equipe em um programa de longo prazo para ser um
novo Lewis Hamilton.
Equipe/Construtor: ROKIT Williams
Racing/Williams-Mercedes
Carro/Motor: FW43/Mercedes-AMG F1 M11
Pilotos: Nicholas Latifi (Canadá, #6) e George Russell
(Inglaterra, #63)
Para a outrora
dominante equipe Williams seria muito difícil fazer pior nos testes e Barcelona
do que o registrado na temporada de 2019, quando terminou em último lugar entre
os construtores e sofreu até mesmo com a falta de peças de reposição. O
pragmatismo do fundador Frank Williams falou mais alto e a reorganização do
time, bancada em boa parte com a chegada do canadense Nicholas Latifi (18º,
1’17”313), garantiu os recursos para reerguer o time e permitir o brilharete do
inglês George Russell (10º, 1’16”871). Um problema na instalação do motor
Mercedes no chassi FW43 provocou panes e impediu um total maior que as 737
voltas registradas pelos dois pilotos. A rivalidade entre Michael Latifi (pai
de Nicholas) e Lawrence Stroll (pai de Lance), dois dos homens mais ricos do
Canadá, poderá garantir tempos melhores.
Equipe/Construtor: Scuderia AlphaTauri Honda/AlphaTauri-Honda
Carro/Motor: AT01/Honda RA620H
Pilotos: Pierre Gasly (França, #10) e Daniil Kvyat (Rússia, #26)
Equipe satélite da Red Bull e montada sobre as bases
lançadas pelo entusiasta Gian Carlo Minardi, a AlphaTauri é o novo nome da
Scuderia Toro Rosso, baseada na cidade de Faenza, na Emilia-Romagna. Os
brasileiros acompanharão o desempenho da equipe com atenção: o mineiro Sérgio
Sette Câmara foi anunciado esta semana como piloto reserva do russo Kvyat (11º,
1’16”914) e do francês Gasly (14º, 1’17”066). Com quilometragem semelhante à
marcada pela escuderia-irmã (780 e 782 voltas, respectivamente), a AlphaTauri
deverá completar o segundo pelotão do grid.
Equipe/Construtor: Alfa Romeo Racing Orlen/Alra Romeo
Racing-Ferrari
Carro/Motor: C39/Ferrari 065
Pilotos: Kimi Räikkonen (Finlândia, #7) e Antonio Giovinazzi
(Itália, #99)
Curiosamente o melhor desempenho da equipe de matrícula
suíça e nome italiano foi obtido pelo piloto reserva da equipe e protegido pelo
patrocinador polonês, Robert Kubica (Polônia, 12º, 1’16”942). O desempenho de
Kimi Räikkonen (15º, 1’17”091) e Antonio Giovinazzi (18º, 1’17”469) demonstra
que o chassi C39 não é competitivo. Uma profunda revisão no projeto é elementar
para aproveitar melhor a potência do motor Ferrari 065.
Equipe/Construtor: Haas F1 Team/Haas-Ferrari
Carro/Motor: VF20-Ferrari 065
Pilotos: Romain Grosjean (Suíça, #8) e Kevin Magnussen
(Dinamarca, # 20)
Depois de uma
estreia promissora em 2016, a norte-americana Haas amarga temporadas cada vez
menos competitivas e o desempenho de Grosjean (13º, 17”037) e Magnussen (19º,
1’17”495) não colaboram para um panorama mais promissor. Talvez a manutenção de
dois pilotos que se deixam levar pelo entusiasmo em momentos decisivos, uma
série de falhas com sua equipe de box e a maneira como o italiano Gunther
Steiner dirige o time sejam os elementos de uma equação ainda não resolvida.
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