Alta Roda nº 699/59 – 20/09/2012 |
Fernando Calmon |
A
chegada de mais uma marca oriental produzindo no Brasil vai acirrar e muito a
competição pelos compradores. A Hyundai ergueu a fábrica de Piracicaba (SP) em
tempo recorde e, mais do que isso, estudou com bastante cuidado as
peculiaridades do mercado. Primeiro de três produtos, o compacto HB20 é
específico para o Brasil, muito diferente do Eon, que produz na Índia, ou o
Solaris, russo. Contrariamente ao usual, o europeu i20 é que terá, dentro de
dois anos, o jeitão do modelo brasileiro.Os sul-coreanos manterão a
convivência de duas redes de distribuição. Produtos montados em Anápolis (GO)
pelo Grupo Caoa e os importados ficam como estão. O novo carro será vendido por
meio de rede à parte (pórtico azul identificador), de 130 concessionárias
exclusivas, a partir de 10 de outubro. Assistência técnica, no entanto, será
unificada (ambas atenderão todos os produtos). Esse processo será gradativo, ao
longo de 2013, até chegar a 200 pontos. Estratégia que deixa brecha a explorar
por concorrentes.
Embora o hatch HB20 seja oferecido
também com motor de 1 litro/80 cv (primeiro três cilindros em automóvel
nacional, depois do DKW-Vemag, de dois tempos, dos anos 1950), a Hyundai acredita
que 60% terão motores de 1.6 l/128 cv. Ambos são de alumínio, multiválvulas e
duplo comando variável. Diretrizes do projeto foram sofisticar o produto e
mantê-lo, no mínimo, 1% abaixo do preço do Gol com o mesmo nível de
equipamentos. Preços começam em R$ 32.000 e vão a R$ 43.000 (câmbio automático,
mais R$ 3.000), em sete catálogos. Adiante, pode haver versão de R$ 28.000
(referência, IPI atual).Há um truque, copiado dos Nissans
March/Versa. Airbags são de série, mas freios ABS só nas versões de R$ 38.000
(motor 1,0; superequipada) ou de R$ 37.000 (motor 1,6; menos equipada). No
geral, o HB20 surpreende pelo nível de acabamento, escolha de materiais e
regulagem de altura e distância do volante (como o Gol). No entanto, parafusos
aparentes atrás dos para-sóis contrastam com o cuidado de ocultar os bicos do
lavador do para-brisa (em geral sobre o capô). Ao mesmo tempo em que existe bom
apoio para o pé esquerdo, a regulagem de altura do banco do motorista limita-se
ao ângulo do assento.
Seu estilo, além de moderno, é bem
atraente com elegantes vincos laterais. Graças aos 2,50 m de entre-eixos
oferece espaço para pernas no banco traseiro equivalente ao Palio. Espaço atrás
para cabeças também é bom, apesar de refletir algum desconforto do assento baixo.
Portas traseiras, porém, dispõem de grande ângulo de abertura. Porta-malas, de
300 l (segundo a fábrica, 10% maior que os rivais) e tanque, de 50 litros, 10%
menor que o do Gol.O carro é agradável de dirigir, mas
suspensões poderiam ser um pouco mais firmes e direção um pouco menos assistida.
Silêncio a bordo destaca-se entre os compactos. Caixa de câmbio manual de cinco
marchas tem engates precisos; automático, quatro marchas, menos brilhante. O
motor de 1,6 l impressiona pelo ímpeto de acelerar, mas abaixo de 2.500 rpm mostra
alguma lentidão de resposta. O de 1 litro surpreende pela suavidade em baixas
rotações e timbre de escapamento diferenciado. Ambos são os mais potentes do
segmento, mas em torque perdem para o Gol (motor de menor cilindrada) e para o
Palio (no de maior cilindrada).
A Hyundai poderia até vender o carro
mais barato. Optou por aumentar a garantia total para cinco anos, sem limite de
quilometragem (uso comercial, 100.000 km), além de segurar os preços de
revisões, a cada 10.000 km ou um ano.
RODA VIVA
APESAR
do recorde de vendas do mês passado, alcançado pela combinação de demanda reprimida,
menos imposto e juros menores, participação dos motores de 1 litro nas vendas
totais caiu. Encolheu de 41,7% em julho, para 40,9%, em agosto. Entretanto,
ainda representa posição média acima de 60%, quando considerados apenas os
modelos compactos.
FORD
está pronta para produzir em São Bernardo do Campo (SP), no início de 2013, além
do novo Fiesta hatch (retocado e alinhado ao modelo europeu que estreia no fim
do mês), a versão sedã, mais adiante. Esta continuaria sendo importada do
México, mas existem dúvidas sobre o futuro do acordo comercial que inclui
também Brasil e Argentina.
POUCOS
comparam preços de modelos equivalentes entre Brasil e Europa. Monovolume Dacia
Lodgy, candidato à produção no Brasil pela Renault, teve preço anunciado a
partir de R$ 38.000, versão a gasolina, de 1,2 l. O Spin, motor de 1,8 l e mais
equipado, parte de R$ 44.500. Igualadas cargas fiscais e conteúdos, o Chevrolet
fica um pouco mais barato que o romeno.
SEMANA
Nacional do Trânsito (18 a 25 de setembro) terá ação do Observatório Nacional
de Segurança Viária (ONSV). A organização desenvolveu campanha diferenciada
sobre o tema acidentes de trânsito, focando no cidadão. Para a ONSV, somente
com mudanças de atitude se conseguirá reduzir o alto índice de mortes (estimado
em 60.000 em 2012) e feridos (285.000).
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
Nenhum comentário:
Postar um comentário