Alta Roda nº 709/69 – 29/11/2012 |
Fernando Calmon |
A terceira rodada de testes de colisão contra barreira fixa,
realizada pela ONG Latin NCAP (acrônimo em inglês para Programa de Avaliação de
Carros Novos, da América Latina), continua a trazer interrogações. A entidade
sediada no Uruguai tem bons discursos, pois trata de estimular por efeito
comparativo o nível de segurança passiva dos veículos.
Existem pelo menos seis desses programas em diferentes regiões
produtivas do mundo. Os métodos não conversam entre si. Há diferenças marcantes
entre modo de colisão contra barreira fixa (frente toda ou parcial), velocidade
de choque, impactos laterais (perpendiculares e contra obstáculo cilíndrico),
além de proteções específicas para crianças a bordo e simulação de
atropelamento de pedestre.
Classificação de zero a cinco estrelas é por meio de pontuação
que avalia ferimentos em bonecos antropométricos sensorizados. Algumas
distorções não são explicitadas pelo Latin NCAP, como a velocidade de impacto. Regulamentos
da ONU sugerem 56 km/h, mas aqui a ONG usa 64 km/h. Essa diferença, que vem
sendo eliminada, decorre de custos de produção e poder aquisitivo de cada
mercado.
A China tem seu próprio NCAP e já concordou com a velocidade
maior, o que encarecerá a estrutura de seus carros. Afinal, o Geeky CK1 (sem
airbags) não conseguiu nenhuma estrela, em 2010, e o JAC J3 foi o único modelo,
mesmo com airbags frontais, que alcançou apenas uma estrela, em 2012. Oito automóveis
compactos fabricados no Brasil (Celta, Corsa Classic, Gol, Ka, Palio, Sandero,
Uno e 207) também ficaram com uma estrela, quando testados sem airbags. Se
serve de consolo, veículos chineses são (bem) inferiores nessa segurança aos produzidos
no Brasil.
Há outras curiosidades com a pontuação. March mexicano, com
airbags frontais, ganhou duas estrelas (2011) e o europeu, cinco. O modelo
vendido na Europa tem mais equipamentos, mas estruturalmente são iguais: três
estrelas de diferença mostram algo errado na metodologia.
Colocaram aqui um mínimo de 14 pontos para o veículo ser
cinco estrelas, enquanto na Europa esse limite é “flexível”. No site da
EuroNCAP, Chevrolet Volt aparece com 11,6 pontos em impacto frontal e recebe
cinco estrelas (2011), enquanto o Cruze com 13,18 pontos (2011) se classificou
com quatro estrelas no Latin NCAP. Excesso de zelo para os fabricados na
América Latina?
Essas trapalhadas só acontecem pela omissão dos legisladores
da região em criar um padrão de segurança coerente e mais severo ao longo do
tempo. O nosso continente é o único para o qual a organização Euro NCAP
conseguiu exportar seus negócios e métodos, com pouca discussão técnica sobre a
realidade dos mercados.
Latin NCAP gosta de repetir que os modelos mais vendidos
aqui estão 20 anos atrasados em relação aos mercados centrais. Mas se esqueceu
de comentar que dos 26 automóveis testados contra a barreira, em três anos, há
mais modelos, nove, com quatros estrelas (City, Corolla, Cruze, Etios, Fiesta,
Fluence, Focus, Polo e Tiida), do que com uma estrela. E vários dos atuais
“uma-estrela” receberão outra, quando a legislação tornar airbags obrigatórios,
parte em 2013 e a totalidade em 2014.
RODA VIVA
PARA quem gosta
de comparar preços do Brasil com o exterior, esquece de ver a Europa. Bom
exemplo é Fusion Titanium mexicano, carro praticamente igual ao alemão Mondeo
Titanium. Aqui, o médio-grande da Ford custa R$ 113.000 e lá, 33.750 euros (R$
91.000). Se igualadas as cargas fiscais, os preços são iguais ou até um pouco
mais caro na Europa.
CARLOS GHOSN, presidente mundial da
Renault-Nissan, em visita ao Brasil, fez primeira previsão de um executivo do
setor sobre o mercado brasileiro em 2013. Ele acredita em elevação nas vendas
de automóveis e comerciais leves de 2%, metade em termos nominais do que deve
crescer a economia (4%). Ano será mais difícil sem o incentivo do IPI menor.
FLUENCE GT (R$ 79.370) é dos poucos produtos fabricados
no Mercosul que não vilipendiou a sigla Grã Turismo. Além do motor turbo 2
litros/180 cv (37 cv a mais), o carro tem apêndices e apliques discretos, além
de câmbio manual. Suspensão recalibrada e o torque de 30,6 kgf.m formam boa
combinação para quem quer algo mais de um honesto sedã familiar.
REDUÇÃO de até
35% no consumo de combustível é esperada nos motores de F-1, em 2014, segundo a
Magneti Marelli. O downsizing parte
de um V-8 aspirado/2,4 L para um híbrido V-6 com eletroturbo/1,6 L. Pela
primeira vez, se utilizará injeção direta de gasolina a 500 bares de pressão e
a empresa será única responsável pelos novos injetores. Potência se manterá em
700 cv.
RASTREADOR/BLOQUEADOR
de veículos com comando por voz e controle remoto foi desenvolvido pela LocatorOne,
de Campinas (SP), especializada em soluções de segurança sem pagamento de
mensalidades. O ABR – Super também detecta tentativas de interferência
eletrônicas (jamming) sobre o GPS.
Preço: R$ 1.220,00. Pormenores em www.locatorone.com.br.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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