Alta Roda nº 757/107– 31/10/2013 |
Fernando Calmon |
Está difícil ter uma sinalização clara sobre o mercado
brasileiro neste final de ano e no próximo. O que se sabe é que o otimismo do começo
de 2013 foi se diluindo ao longo do tempo. Analistas do setor automobilístico
se dividem entre os que preveem vendas um pouco menores em relação a 2012 e um
pouco maiores, na soma de automóveis e veículos comerciais leves/pesados.
Existe algum simbolismo em torno de 2013. Afinal, seria o
décimo ano seguido de crescimento do mercado interno, em parte alavancado por
períodos de diminuição provisória de IPI que levaram a quebras seguidas de
recordes. No recente seminário da Autodata, Perspectivas 2014, em São Paulo, a
média de opiniões indicou sinais de desaceleração, mas não de queda de mercado.
Por outro lado, a produção – importante por sustentar os empregos da cadeia de
valor – deve continuar em ascensão em função de diminuição de importações e melhora
ainda que modesta das exportações.
Um dos temas debatidos, de interesse direto dos
consumidores, foi a mudança em implantação para viabilizar a volta do leasing,
um tipo de financiamento um pouco mais barato e flexível. Até hoje há
insegurança jurídica para que um carro seja retomado de inadimplentes ou lidar
com “espertos” que deixam de pagar impostos e multas de trânsito ao se
aproveitar por o veículo não permanecer em seu nome. Leasing poderá se somar a
outros canais que ajudam na oferta de crédito, sujeita a altos e baixos por
seletividade, exigência de valor de entrada maior ou de taxas de juros.
Há expectativa ainda da manutenção das atuais alíquotas
menores do IPI, pelo menos no primeiro trimestre de 2014. Isso é dado como
certo, o que diminuiria o ímpeto de compra neste final de ano para escapar de
preços maiores. No entanto, a tendência é de que carros de entrada fiquem mais
caros – de R$ 400,00 a R$ 800,00, estima-se –, quando todos os veículos leves
vierem equipados com airbags frontais e freios ABS.
Até março de 2014 será possível adquirir modelos fabricados
sem esses equipamentos de segurança. Depois sua comercialização ficará
proibida. Então, não se descarta que a carga fiscal menor prossiga até meados
do ano. Faltam, em teoria, duas “rodadas” de aumento de IPI. Nos bastidores,
alguns apostam que a última etapa seria cancelada, isto é, alívio definitivo de
parte do imposto.
Na verdade, os preços reais dos veículos, em geral, mantêm
trajetória de queda, especialmente nos últimos cinco anos por qualquer índice
de correção. Sinais de aumento de concorrência continuam evidentes, embora não
se vislumbre guerra comercial, pelo menos em curto prazo. O governo abriria mão
de quase migalha, em termos de alíquota do IPI, como “prêmio” por preços bem
comportados. E faturaria, politicamente, ao amainar a carga tributária efetiva.
Alguns fabricantes foram menos otimistas que outros no
seminário. Executivos apresentaram visões diferentes em temas espinhosos como
futura capacidade ociosa, promoções e descontos agressivos. Mas, houve também
quem considerasse que tudo isso é do jogo: produção se administra e promoções
vieram para ficar. Consumidor mandar no mercado dever ser regra, não exceção.
RODA VIVA
ESTRATÉGIA de revelar
em etapas um carro novo, iniciada pelo EcoSport, será repetida pela Ford. Novos
subcompactos, hatch e sedã, substituirão de uma só vez o Ka atual e a versão
anterior do Fiesta (Rocam), no segundo trimestre de 2014. Bill Ford, presidente
do conselho da companhia, estará em Camaçari, dia 11 próximo, para a prévia do
Ka hatch (sedã fica para depois).
TOYOTA confia que
o novo Corolla, em meados do próximo ano, inovará o suficiente para recuperar a
liderança entre sedãs médio-compactos. Não será inspirado no modelo para o
mercado americano, considerado disruptivo para seus padrões. Ainda assim terá,
pela primeira vez, versão esportivada para encarar o Civic Si, de volta em
2014.
FUSION híbrido
mostrou evolução se comparado ao anterior, além do preço menor, mais
interessante para o porte do carro em relação ao Toyota Prius. Mesmo com
bateria mais potente, não é fácil se manter no modo zero emissão. Exige
condições muito particulares para rodar a 100 km/h só com o motor elétrico.
Economia de combustível aparece, porém leva 5 anos para amortizar a diferença
de preço.
MANUTENÇÃO grátis
– óleo, filtros e inspeções rápidas – por dois anos ou cerca de 40.000 km (o
que ocorrer primeiro) está em oferta pelas quatro marcas da GM, nos EUA.
Estratégia para aumentar retenção de clientes. Em geral, só marcas premium,
como a BMW, oferecem. Aqui, Chevrolet anunciou plano de financiamento que
inclui despesas com as revisões.
MAIOR rede de
concessionárias do Brasil especializada em automóveis e motos de preço elevado
(nove marcas, no total), Eurobike pretende voos mais altos. Estuda os mercados
espanhol e português, com boas oportunidades, depois de anos de crise. Empresa
passou de um faturamento de R$ 25 milhões para R$ 1 bilhão/ano, em uma década.
PERFIL
Fernando
Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e
consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de
comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É
publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda,
correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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