O tempo corre e as
metas não esperam. Esse foi um dos principais aspectos abordados no XXII
Congresso SAE Brasil, que reúne engenheiros da mobilidade e representa aqui a
SAE Internacional, com sede nos EUA, mais de 130.000 integrantes e presença em
oito países, inclusive China e Russia.Organizada em São Paulo, de 7 a 9 de
outubro, a edição deste ano do Congresso SAE Brasil foi boa oportunidade para
uma primeira avaliação do complexo programa Inovar-Auto, anunciado há um ano
pelo governo federal. Curiosamente, nenhum político de peso e nem os
presidentes da Anfavea e Sindipeças – principais atores dessa longa cadeia
produtiva – estiveram presentes na abertura do evento.
Fato é que alguns aspectos regulatórios continuam em aberto, enquanto os
processos de estudo, decisão e execução são sempre lentos na indústria
automobilística em qualquer parte do mundo. Inovar-Auto vai até 2017, porém um
ano antes os carros são homologados. Então, definições precisam sair já. Os
vieses de eficiência energética e estímulo ao desenvolvimento tecnológico local
podem estar corretos, mas ainda falta um real entrosamento entre as partes.
Basta uma visita aos mais de 90 estandes da exposição paralela ao congresso
para conhecer muitos componentes avançados, embora poucos com decisão efetiva
de produção nacional.
Um exemplo é a injeção direta para motores flex etanol/gasolina que estreou no
recém-lançado Focus. Bosch, Continental, Delphi e Magneti Marelli mostraram
seus sistemas e se disseram prontas para fornecer. Na realidade, a Ford
aproveitou para se antecipar aos concorrentes, pois produz no exterior, em boa
escala, motores flex com injeção direta. Utilizou seu próprio software de
gerenciamento já testado na vida real com E85, nos EUA, e facilmente o adaptou
para E100 (etanol puro “descontaminado” de gasolina).
Corrida mercadológica à parte, dispositivos para economizar combustível há em
todos os níveis de preço e de complexidade. Desde sensores de nova geração da
Schaeffler para o sistema desliga-liga o motor, da Bosch; nacionalização de
direção com assistência elétrica, da TRW; pré-aquecimento por indução elétrica
em partidas a frio para injeção indireta, da Continental; para-brisas com
vidros mais finos (menos peso) sem prejuízo do isolamento acústico, da
Saint-Gobain.
Estacionar é incômodo e gasta combustível em tentativas infrutíferas. Pois já
em 2015, no campo dos recursos caros, a Bosch oferecerá manobras totalmente
automáticas, em vagas apertadas longitudinais ou perpendiculares, quando o
motorista poderá sair do carro e assistir. Sistema de recuperação de energia em
frenagens para fornecimento de torque adicional, conjugado ao desliga-liga do
motor, inclusive em descidas suaves, tende a cair de preço em alguns anos.
Pneus verdes também economizam combustível, mas no Brasil há buracos demais no
caminho que exigem testes adicionais para adoção em larga escala.
Por fim, alguns fabricantes deixaram transparecer que montagem de laboratórios
é relativamente fácil. Problema é ter capacidade de adquirir conhecimentos e
aplicar em algo que o consumidor queira ou possa pagar. Daí vem a capacidade de
apenas seguir ou ser seguido pelos outros.
RODA VIVA
CONFORME a coluna apostou,
VW decidiu produzir o novo Golf na fábrica de São José dos Pinhais (PR).
Ampliação de 20% da capacidade proporcionará fabricação simultânea dos Audi A3
sedã/Q3, que compartilham a mesma arquitetura. Início apenas em 2015 talvez
leve a empresa a importar o carro do México (no lugar da Alemanha), com menos
impostos, em meados de 2014.
SEGUNDO o gerente de engenharia experimental
da Fiat, Gilmar Laigner, menor consumo de combustível fala mais alto para o
consumidor. Porém, em algum momento, passará a exigir também mais segurança. De
fato, infelizmente, poucos se abalaram com testes de colisões do Latin NCAP. Pelo
menos airbags frontais e ABS serão obrigatórios, em 1º de janeiro próximo.
MONOVOLUMES andam em baixa no mercado. Isso não
desanimou a JAC a introduzir retoques externos no J6 2014 e melhorar o
acabamento interno, agora mais agradável e atual. Modelo chinês, vendido nas
versões de cinco lugares (R$ 57.990) e sete lugares (R$ 59.990) tem motor 2
litros/136 cv, subpotenciado. E continua sem opção de câmbio automático.
OPERAÇÃO de simples montagem, em parceria com a
Itaipu Binacional, trará o microcarro elétrico Renault Twizy ao Brasil. Para
dois passageiros em tandem (um atrás do outro), exige homologação, caso
circulasse em vias públicas. Entretanto, será basicamente para deslocamentos
internos dentro da maior hidrelétrica do mundo (capacidade real).
CONFIRMADO,
pela Reed Exibitions Alcantara Machado, o período de 16 a 26 de outubro de 2014
para o 28º Salão Internacional do Automóvel de São Paulo. Exposição não pode
crescer e nem atrair mais público pelas limitações dos pavilhões do Anhembi.
Sai ano e entra ano, sem que a prefeitura encaminhe solução para centro de
exposições digno do nome.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Nenhum comentário:
Postar um comentário