Alta Roda nº795/145 – 31/07/2014 |
Fernando Calmon |
Você vai ouvir muito sobre chamadas emergenciais automáticas
(eCall, em inglês) a partir de carros acidentados. A iniciativa vem da Ford que
lançará o serviço – sem custo de utilização – no novo Ka, em setembro. Na
realidade, eCall já é oferecido no Brasil pela Volvo, porém nesse caso pago por
incluir mais opções e dispor de plantão 24/7. A Ford pretende estender o
recurso para toda sua linha, a partir de 2015.
Hoje, no Brasil, há 41 milhões de telefones inteligentes
(pouco além da frota real de veículos capaz de circular). Apesar de se agregar,
como opcional, ao modelo mais barato da marca, na versão de entrada SE (R$ 35.395),
o equipamento Sync de comandos de voz e pareável ao celular aparece de série na
versão SE Plus por R$ 2.000 integrando a central multimídia com tela tátil.
Isso permite o conceito correto de “olhos na estrada, mãos no volante”, sem
sujeitar o motorista a multa de trânsito.
A ligação automática ao 192, do Samu, depende da deflagração
do airbag ou de desligamento da bomba de combustível que ocorre em fortes
colisões traseiras, laterais, tombamento ou capotagem. Há três situações de
grande utilidade: ocupantes inconscientes ou imobilizados, mensagem padronizada
repetida duas vezes e fornecimento ao atendente das coordenadas de localização
do veículo. No caso de o carro sair da pista e se chocar com obstáculo, à noite
em especial, pode não haver testemunhas do acidente e aí o eCall é ainda mais
útil.
Óbvio que outros fatores intervêm no processo, a começar
pela infraestrutura de telecomunicações, embora uma chamada de emergência
ocorra por qualquer rede disponível, independentemente da utilizada pelo dono
do telefone. A celeridade do socorro também precisa de eficiência. Essas pré-condições
estão postas, dentro da realidade do País.
Há ainda um passo adicional: inclusão do chip telefônico
no próprio sistema multimídia interativo. Certamente a Ford e outros
fabricantes que não quiserem ficar para trás nessa corrida de prestação de serviços
poderão oferecer essa opção. Entre outras vantagens, como melhoria de captação
de sinal de celular, garante a eCall no caso de o telefone ter sido danificado
em um acidente grave, o que de fato pode ocorrer, ou simplesmente sua bateria
descarregar.
Essa iniciativa já existe em outros países, como o OnStar
(serviço pago) da GM, nos EUA. A Ford também o introduziu na Índia, porém em
modelos mais caros. A Europa, no entanto, procura tornar o serviço obrigatório
desde 2004. Os problemas lá são parecidos aos daqui porque, embora bem menos
graves, existem zonas de “sombra” de sinal celular em áreas remotas, a eficiência
do socorro varia entre diversos países e ainda há a barreira de diferentes
idiomas.
Em razão do sistema europeu ainda precisar de ajustes,
além de investimentos públicos e privados, sofreu vários adiamentos. Agora há
um novo prazo: outubro de 2017. Lá existe a consciência de valorizar a vida e
do rápido socorro aos acidentados.
Os três níveis de governo no Brasil deveriam estar
preocupados com este assunto em razão do aumento da frota, dos acidentes e da
fraca cobertura celular. Por enquanto, se colocam a reboque dos fabricantes de
veículos. Será que o Samu estará mesmo preparado para a previsível expansão das
eCalls no Brasil e, mais do que isso, os hospitais?
RODA VIVA
FENABRAVE, a
pedido deste colunista, quantificou a queda dos modelos de entrada (faixa abaixo
de R$ 30.000, a preços de hoje) na participação de vendas de automóveis. Em
2003 representavam 50,8%; em 2013, apenas 28,6%. Reflexos de maior poder
aquisitivo, diminuição real de preços e evolução natural do consumidor.
OUTRO fenômeno
mais recente: escalada de picapes compactas, puxada em maior parte pela Strada.
Chegou à décima colocação dos mais vendidos, numa primeira etapa. E a cabine
dupla de três portas, em apenas seis meses, representa 50% das vendas totais do
modelo. Com esse desempenho pode garantir, em 2013, posição firme entre os
cinco primeiros.
IGUAL sorte
não bafeja o Linea. Sofre forte concorrência interna do Grand Siena (até no
porta-malas), embora passe sensações melhores quanto à atmosfera a bordo,
qualidade de materiais e, principalmente, isolamento acústico. Motor de 1,8 L é
adequado, mas espaço igual ao do Punto nos bancos dianteiros atrapalha bastante.
Não tem como enfrentar os reais médios-compactos.
CORREÇÕES: produção
acumulada do utilitário Troller, desde o início em 1995, alcançou cerca de
15.000 unidades. Os incentivos federais da Ford para Camaçari (BA) e Horizonte
(CE) continuarão até 2020. Parte dos incentivos estaduais, porém, se encerra em
2015.
GOVERNO FEDERAL adiou por dois anos os
rastreadores em veículos à venda no Brasil não apenas por dificuldades
técnicas. Há duas ações na Justiça questionando quanto ao direito de privacidade.
Por outro lado, cerca de 200 empresas oferecem o serviço. Quem se interessar
estará servido. Não tem sentido impor esse acessório.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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