Alta Roda nº808/158 – 30/10/2014
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Fernando Calmon |
Um manto de incertezas cobre o setor de etanol no Brasil
depois do resultado da eleição presidencial. O problema maior é que o próprio
partido no poder tem posições ambíguas ou mesmo opostas. No governo Lula houve certo
deslumbramento e no de Dilma quase uma condenação ao esquecimento. Em meio a isso,
a descoberta de petróleo em grande quantidade em águas profundas e bem longe da
costa. Parecia o tiro de misericórdia sobre o combustível alternativo,
renovável e incomparavelmente neutro em termos de emissão de gás carbônico (CO2),
quando se considera o ciclo fechado da produção ao consumo.
O fato é que etanol hidratado (uso direto) e anidro (em
mistura com gasolina) já chegaram a responder juntos por mais de metade do
consumo de combustível em motores de ciclo Otto no Brasil. Hoje, apenas 33%. Na
esteira dessa queda cerca de 70 das 440 usinas do País encerraram atividades e
100.000 empregos diretos se perderam (em parte devido à mecanização da colheita
de cana). Para quem se preocupa com problemas sociais está aí um deles.
Há soluções para esse impasse, mas é preciso saber se serão
mesmo buscadas. Os motoristas já deram o recado: podem reconhecer vantagens
ambientais, empregos e melhor desempenho. Admitem até abastecer mais vezes pela
menor autonomia com etanol. Mas não estão dispostos a pagar mais por quilômetro
rodado. Saída óbvia seria uma estratégia confiável e duradoura sobre o que o
País quer em termos de abastecimento de sua frota. Sem essa sinalização, nada
feito.
Obviamente de pouco adianta aumentar de 25% para 27,5% o
teor de etanol na gasolina (Argentina puxará essa proporção de 8% para 10% até
o fim do ano). Os testes da nova mistura deveriam ter se encerrado este mês,
mas ficou para “depois das eleições”. Já se sabe que se trata de mera jogada
política e será confirmada. Previsibilidade sobre o preço da gasolina depende
do fim do intervencionismo apelativo. Alguém do governo reconhecerá que errou?
O que ajudaria bastante seria o fim das escaramuças entre
produtores de combustíveis e fabricantes de veículos. Os primeiros, talvez no
desespero, partiram para esses 27,5% de etanol anidro e, aparentemente,
convenceram o governo a estimular que o consumo relativo entre etanol hidratado
e gasolina, nos motores flex, melhore de 70% para no mínimo 75% (autonomia 7%
maior com o combustível verde).
A segunda proposta depende de incentivos fiscais, previstos
em lei, para compensar o aumento de custos. Mas na recente conferência Datagro,
do setor de cana, nenhum representante ministerial convidado compareceu para
explicar esse mecanismo.
Já a indústria automobilística fez muito menos pelos motores
flex do que poderia. Engenharia nacional de motores progrediu graças ao etanol,
mas nem mesmo substituiu em grande escala o anacrônico sistema de partida a
frio com auxílio de gasolina. Só agora, forçada pelo Inovar-Auto, vai melhorar
o consumo, mas ainda patina na tal diferença relativa etanol/gasolina.
Por sua parte, produtores de etanol também precisam se
esforçar mais – alegam, porém, exaustão financeira – para segunda geração do
combustível e pesquisar produção de propanol e butanol que têm poder calorífico
maior e garantiria boa vantagem na bomba ao abastecer.
RODA VIVA
HONDA decidiu que
o SUV compacto nacional se chamará HR-V, como em outros países (Vezel, no
Japão), apesar de já existir aqui caminhão Hyundai HR. Como a Coluna antecipou,
produção começa em abril próximo, em Sumaré (SP). Fábrica nova de Itirapina
(SP), no final de 2015, centralizará aos poucos todos os produtos de tanque
central: Fit, City e depois HR-V.
IMPORTANTE para
Peugeot será o ano de 2015. Além do SUV compacto 2008 nacional, a fábrica
argentina terá dois lançamentos de peso no próximo ano. O hatch médio-compacto 308,
lançado em 2012, passará a ser igual ao modelo francês agora em produção. Já o
sedã derivado 408, de 2011, receberá a tradicional atualização de meia geração
bem em tempo.
BOM exemplo de
motor suave e com boas respostas, apesar do peso (vazio) de quase duas toneladas
na versão LTZ, está na picape S10 de cabine dupla. Trata-se de motor de 4
cilindros, 2,5 L flex que, graças à injeção direta, vai a 206 cv (etanol).
Câmbio manual de seis marchas ajuda bastante. Outra vantagem: preço mais em
conta que a versão diesel.
IMBRÓGLIO dos
simuladores de direção se resolveu a favor das autoescolas e não do melhor
aprendizado. Como cada um dos 27 Detrans pode agora tomar sua decisão baseada
em diferentes critérios, nunca se conseguirá uniformidade para se analisar com
isenção os efeitos reais de utilização de um recurso mais moderno na formação
de novos motoristas.
ALÉM de tornar os
simuladores facultativos, o Contran permitiu que ao usar esse equipamento o
treinamento em veículos reais se reduza em 75%, no período noturno e 10%, de
dia. Texto da regulamentação é confuso. Um exemplo para aplacar a ira das autoescolas:
carga horária subiu para 25 horas/aula, mas 30% podem ser no simulador.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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