Paris,
Salão, consequências
Maior
festa anual do automóvel nos anos pares, o Salon d’Automobile realizado
em Paris há muitas décadas, sinaliza o mercado europeu e projeta novidades a
países periféricos. Nesta edição, além das demonstrações com produtos híbridos,
todos em acatamento às novas regras de consumo e emissões, haviam poucas
novidades - 57. Algumas em tecnologia, outras nos automóveis de maior preço,
dedicados a compradores acima de crises de consumo e pane de bolso. Paris
mostrou a elevação dos produtos, o Premium do Luxo.Novidades,
porém poucas aparecerão em nosso mercado.
Acima
Num
mundo em crise, desarmônico, entre picos e vales, um valor é inatingível pelas
crises: o muito dinheiro de quem o tem em grande volume. Assim, a percepção
geral é das fabricantes darem mais conteúdo e refinamento aos veículos caros
para torná-los mais caros – e cada vez mais diferenciados dos outros, sujeitos
às crises. Explica tal caminho o crescimento dos Mercedes versões AMG –
venderam-se 32 mil unidades ano passado e o total aumentará neste. E Ferrari, e
conceito Lamborghini com quatro portas e quatro lugares, o AMG GT, e Audis
implementados, como o TT Concept em suas cinco portas. E Infiniti, e DS, ... O
mercado dos carros de luxo era 10% do volume global. Está em 11,5%, mostrando
tendência ascendente. Quem tem, tem.
Tecnologia
Há
duas indissociáveis palavras de ordem na Europa e EUA: consumo e emissões. São
o aríete da tecnologia e das providências. Estamos na ponta do rabo deste
animal eco tecnológico. Andamos muito atrás, com nossa legislação concedendo
anos para um ganho de 12% em consumo – na verdade, retornar aos níveis
obtidos quando se criou o motor flex, um breve contra a tecnologia e um
incentivo ao desperdício energético. Europeus mostram veículos com
motor com o dobro da cilindrada média utilizada no Brasil, 1,5, 1,6 litro,
fazendo quase o dobro da quilometragem/litro.
Buscam-se tecnologias para economia. De motor tocando gerador
de energia alimentando motores elétricos para acionar as rodas, à nova
tecnologia da PSA utilizando ar comprimido. Também, a edição revista e
melhorada do projeto XL e seu recorde de economia, de andar 100 km com 1 litro
de diesel, tem a variante dita Sport Concept da Volkswagen, mudando linhas,
acertando suspensões, e motor, bi cilíndrico, 1.197 cm3, de motocicleta Ducati, empresa VW. Pesa
800 quilos e acelera de 0 a 100 km/h em 5,7s e faz mais de 100 km/litro. Lembra
a filosofia Lotus, e é bandeira de tecnologia.
Brasil
Muitos
veículos para o mercado mundial, poucos ao nacional, alguns para ser
importados, outros, em menor escala, para construção local. Em escala mista,
novo Land Rover Discovery Sport com dúvida de ser um dos modelos a ser
produzido na usina prometida pela marca em Itatiaia, RJ. Da Jaguar Land Rover,
outro cotado para a mesma fábrica, o Jaguar XE, carro de entrada, para
concorrer com Mercedes C, BMW 3. Mais refinado e caro disputará com automóveis
de maior porte.
Importado
em poucas unidades referenciais, o Mercedes C em versão 63 AMG, e o AMG GT,
sucessor do Mercedes SLS. Bela peça de engenharia, chassis, carroceria e
intenso uso de alumínio, demarra nova família e, para quem gosta de automóvel e
performance, deve puxar a fila de vendas.
Houvesse
bolsa de apostas, apostaria minhas fichas em navio aportando em Pernambuco para
viabilizar a produção do Fiat 500X no Brasil. Atende às demandas da Fiat para
um novo produto. Dizem-no um Crossover, mas para mercado
desconhecedor de tal carimbo, tem as formas rotuladas pela superioridade de
alguns jornalistas nacionais pela generalidade do termo jipinho. A Fiat precisa de produto
novo para ocupar a faixa superior, e para o segmento onde utilitários
esportivos regem o mercado. Aí anda de Palio Weekend Adventure.
O
500X tem plataforma e restante da mecânica igual à do Jeep Renegade entrando em
produção na fábrica FCA em Pernambuco. É 70% do caminho andado. Aliás os
executivos da FCA na Itália seguem trilha comum: será feito na fábrica de
Melfi, na mesma linha de produção do Jeep Renegade. E se casa com o esforço
para ampliar o rótulo dos carros Fiat deixando de ser
vistos apenas como econômicos, bonitinhos, mestres em espaço interno. A alta
administração quer torná-los, no jargão do marketing, funcionais e
aspiracionais – ou seja objetos de desejo. O 500X abre este caminho.
Roda-a-Roda
Caminho – Nas medidas de sobrevivência adotadas pela PSA – Peugeot-
Citroën, uma foi dar autonomia à DS, então sub marca Citroën. No Salão dela
haviam exemplares, liderados pelo Divine, protótipo de sedã enfeitado. Quer
mandar a linha aos EUA, segundo maior mercado mundial.
Foco
– Na
briga de foices entre cegos que é a indústria automobilística mundial, não há
sobrevivência sem vendas em elevada escala. E não há escala aos ausentes no
mercado norte-americano. A Peugeot já esteve lá, mas desistiu em 1991. Retomará
em 2020 com vendas nas 30 maiores cidades.
Brasil – Brasileiro, liderando a Aliança Renault-Nissan, dos maiores grupos
automobilísticos mundiais, Carlos Ghosn fez evento privado à imprensa mundial.
A Coluna não estava lá. Entretanto coleguinhas registraram
análise clara da marca no mercado mundial e interpretações da situação do
nacional.
Razões – Segundo o executivo vendas no Brasil devem encolher 10%, queda
superior aos números projetados ao início do ano. Entretanto, disse Ghosn aos
formadores de opinião, não há razões para isto ante a baixa relação entre
habitante e automóveis.
Eufemismo – Disse, a situação é desapontadora e classificou o ocorrido no Brasil
como não relacionado à indústria automobilística. Respeitador da imagem do país
natal aos estrangeiros, não pintou o cenário de preto mas disse, no momento
específico de eleições há fatores desconhecidos, e o país voltará a crescer
quando a situação ficar mais clara. O eufemismo aparentemente significa mudança
na política econômica e/ou no governo federal.
Exceção – Quanto à Renault, em ascensão de vendas e cravando quase 8% de
participação nas vendas, Ghosn disse não reduzir investimentos da marca. Pelo
visto, fazê-lo deteria o projeto de crescimento e sedimentação no mercado
doméstico.
Foco – Executivos das matrizes das indústrias automobilísticas mundiais
que encontrei no Salão, tinham perguntas assemelhadas à afirmação do brasileiro
Ghosn: o que está acontecendo com a economia do Brasil? E porque o país
parou de crescer?
Tropeço – Consciência do refluxo econômico, ao momento não deterá
investimentos contratados, pois a indústria projeta a longo prazo. Mas criará
um vale a ser ultrapassado até a volta da confiança. Entenda-se deter o
crescimento da economia, de emprego, renda, aumento de vendas.
Dobradinha – Sempre alinhando economias brasileira e argentina, com governos
peculiares, mercado em queda, inflação aumentando, promessas vãs, moeda
desvalorizando e queda diária do valor do patrimônio individual, a região antes
vista como alavanca de crescimento da indústria automobilística perderá
investimentos para os próximos anos.
Aqui e lá – No Brasil produção caiu 16,8%, e vendas 9,1% nos nove primeiros meses.
Na Argentina, redução de 24% na produção, com expectativa de alguma recuperação
dentro do programa Pro.Cre.Auto de incentivos e financiamento do banco estatal.
Situação – Maior salão do Ocidente nos anos pares, esta edição mostrou
controle absoluto de custos. Os estandes eram corretos, porem hígidos. Shows e
atrações, exceto por conjunto musical na Volkswagen, permeando sons aos
estandes de suas associadas, nada mais houve.
Freio - Até o material de imprensa, antes peças de grande qualidade
gráfica, resumiu-se a, no máximo, modesto pen drive. Na maioria das
marcas, pífio cartão com código QR resolvia o assunto.
Outro – Não mostrado no Salão, mas apenas de produção confirmada, o
próximo Renault pequeno, para ser carro de entrada, deve
aparecer ano próximo na mostra de Frankfurt.
Início – Divide plataforma com Nissan, construção, vendas e operação
extremamente econômicas – neste caminho, novo motor três cilindros, rodas
voltaram à assinatura francesa de usar apenas três parafusos – de quatro para
três, só aí 25% de economia.
Aqui - Segundo Caíque Ferreira, gerente de comunicação em estágio
probatório para a diretoria no Brasil, apenas será factível no Mercosul se
conseguir custar o mais barato da linha, o Renault Clio: R$ 25 mil. Mas são
carros incomparáveis.
Prisma – Carlos Ghosn, presidente da aliança Renault-Nissan anunciou sua
produção na Índia, a custar menos de 5 mil euros – uns R$ 16 mil. Acenou com a
possibilidade de fazê-lo na América do Sul. Situação óbvia, pois o Clio é o
mais vendido na Argentina e ganharia no comparativo de espaço e construção.
Assim, a seu substituto há apenas o argumento preço menor.
Troca-Troca – Presidentes da Mercedes e da Renault ampliaram sinergias, incrementando de três para doze projetos de colaboração, válidos na Europa,
Ásia e América do Norte. De início três veículos com plataforma comum: Renault
Twingo, Smart For Two e ForFour, este feito em fábrica da Renault.
Mais – Mantida a pretensão de fazer carros das duas marcas em única
fábrica, em Aguascalientes, México. Infiniti, a marca de luxo da Nissan, com
motor Mercedes-Benz, em 2017 e, no ano seguinte, os da marca alemã.
Sem pátria – Capital não tem pátria, ditado antigo, muito válido
agora. Novos Mercedes Classe C, e o multiuso Vito – a ser feito na Argentina –
usam motores diesel 1,6 litro Renault. Mercedes são motores do Renault Twingo e
dos novos Smart. E em fábrica da Nissan, em Tennessee, EUA farão motor Mercedes
2.0 Turbo para o Infiniti e os Mercedes Classe C.
Leque – Aliança no Japão, entre a Mitsubishi Fuso, de utilitários leves,
e a Nissan, farão produto comum para exportação.
Pé na bunda – Repito a expressão do inglês Jeremy Clark, o polêmico jornalista
do Top Gear, fazendo matérias na Argentina. Habitantes do fim sul
do continente não entenderam o humor britânico. O programa quis gracejar com a
derrota da Argentina para a Inglaterra na Guerra das Malvinas. População local
destruiu os automóveis, botou a equipe numa fuga por sobrevivência.
Ajude
a resgatar a história deste Fiat
Parece Alfa Romeo, tem grade de Alfa Romeo, emblema de Alfa Romeo, e
acreditado como Alfa Romeo. Mas é um Fiat.Estava no Museu Paulista de Antiguidades Mecânicas, tido como o Alfa
pertencente à corredora francesa Hellé Nice, protagonista de acidente de monta
ao disputar o I Grand Prix de S Paulo,
em 1936. Os restos do verdadeiro Alfa 8C 2300 de Nice estava em galpão
adjacente e, sumiu com o passamento do colecionador Roberto Lee, titular do
Museu.
O Fiat é um modelo 525, transformado pelo mecânico e piloto argentino
Vittorio Rosa em 1928, competindo no Circuito da Gávea, prova brasileira da
temporada mundial, em 1934 como bi posto e no ano seguinte como monolugar.
Resgate histórico pelo engenheiro Antônio Carlos Buarque Lima, conta estas e
outras peculiaridades, como ter sido vendido em 1935 ao ítalo-brasileiro Dante
Di Bartolomeu, e sua equipe de competição Escuderie
Excelsior, onde competiam Francisco Chico Landi, e seu irmão Quirino.
Pilotaram-no em provas nacionais e argentinas entre 1935 e 1938.
Em 1935 Chico cravou sua
primeira vitória, no Circuito do Chapadão, em Campinas, SP, participou de prova
argentina, e do Circuito da Gávea, e em 1936 mesmo em grande desvantagem
liderou o fatídico GP de São Paulo. Em 1939 mudou a estética, com grade
inspirada em Alfa Romeo.
De 1938 a 1941 o piloto Santos Soeiro, de Santos, SP, conduziu-o no
Circuito da Gávea e Subida da Tijuca. Última referência documentada foi
acidente nesta prova em 1941, com o ativo carioca Henrique Casini. Daí em
diante, desapareceu, sendo achado ao final dos anos ’60 em destroços num posto
de gasolina na base do Retiro das Pedras, hoje chique condomínio da estrada que
liga Belo Horizonte ao Rio de Janeiro.
O que fazia em Minas, onde a última corrida
fora em 1940 ? Quando chegou ao posto? Que caminhos percorreu como carro de
corridas em quase duas décadas entre o acidente carioca e o posto mineiro?
O Fiat é a única referência esportiva remanescente desta marca no
Brasil. Conhece uma parte desta história? Ajude a salvá-la. Escreva e conte à Coluna .
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