Alta Roda nº831/181– 09/04/2015
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Fernando Calmon |
A
grande indagação durante o VI Fórum da Indústria Automobilística, organizado
pelo grupo de comunicação Automotive Business em
São Paulo, foi por quanto tempo o cenário atual de retração persistirá. Apesar
do primeiro trimestre desastroso, sem dúvida haverá uma reação no restante do
ano que servirá apenas para mitigar a projeção de queda anual.
No primeiro trimestre as vendas acumuladas de veículos leves e pesados recuaram
17%, enquanto as projeções mais pessimistas apontam que o ano fecharia com
recuo de 12%. O grande problema de curto prazo são estoques altos demais, o que
aumenta o índice de ociosidade da indústria e as perspectivas de desemprego.
A produção pode ser um pouco menos afetada por uma conjugação de fatores: leve
aumento nas exportações em razão da desvalorização do real e, pelo mesmo
motivo, a perda de competitividade de veículos importados a serem substituídos
pelos de fabricação nacional. Este é um ano com muitos lançamentos, em especial
no segmento de SUVs. Mesmo em 2014 houve um balanço positivo: 431 lançamentos e
225 descontinuações ao se somarem todos os modelos e versões disponíveis no
mercado interno.
Para a consultoria Carcon, no entanto, a produção poderá preservar o único
número positivo em 2015: crescimento de 1,7%, ou seja, 3,05 milhões de
unidades. E os fatores acima citados se repetiriam até 2019, quando o Brasil
alcançaria 3,82 milhões de veículos produzidos. Seria ainda um nível
desconfortável, pois a capacidade instalada anunciada pelas antigas e novas
empresas ficará acima de cinco milhões de unidades. Ideal é utilizar ao menos
75% desta capacidade para que investimentos em novos produtos se justifiquem e
não se crie a espiral negativa do passado.
Pesquisa eletrônica durante o Fórum indicou que os participantes acreditam que
só em 2017 o mercado interno voltará a apresentar números positivos, indicando
três anos consecutivos de vendas em retração. É provável a Índia ultrapassar o
Brasil, que cairia para a quinta posição no ranking mundial.
Ainda que condições econômicas e políticas atuais expliquem grande parte do mau
momento do setor, essa crise demonstra que artificialismos atrapalham mais que
ajudam. Reduções temporárias de imposto induzem movimentos de antecipação de
compras e se usados por períodos longos criam vícios. Ideal seria reforma
tributária, pois a indústria de veículos representa 5% do PIB, porém recolhe
10% de todos os impostos.
Na realidade, enquanto perdurar o atual clima de falta de confiança dos entes
da economia as vendas de veículos não se recuperarão. As correções estão no
rumo correto, mas ainda há incertezas de como os políticos se conduzirão.
Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, citou dois exemplos positivos
na Índia e nos EUA. O primeiro ministro indiano, Narenda Modri, preconiza menos
governo e mais governança. Já o ex-secretário de Tesouro americano, Lawrence
Summers, construiu a frase lapidar: “Confiança é o estímulo mais barato”. Nos
EUA, com carga fiscal bastante baixa para consumidores, a política econômica
deve focar nas causas, não nos efeitos. Sem experimentalismos do Brasil e sua
conta pesada em forma de pessimismo generalizado.
RODA VIVA
CONFORME a Coluna adiantou, reestilização de meia-geração do Gol
ficou para o primeiro trimestre de 2016 e a nova geração (arquitetura MQB do
futuro Polo alemão) só no final de 2017. Volkswagen espera vender (somando
Audi) cerca de um milhão de unidades no Brasil em 2018. Ou seja, confia em
recuperação do mercado interno e também aumento de participação.
RENAULT Duster 2016 ganhou atualização visual: grade,
grupo ótico, para-choques dianteiro e traseiro, rodas e lanternas traseiras com
LEDs. No interior, costura dupla no estofamento, novo painel e tela com GPS.
Motor 2-litros ganhou 6 cv (agora 148 cv), porém torque caiu um pouco para 20,7
kgfm. No 1,6 L só mudou curva de torque. Preços: R$ 62.990 a R$ 78.490 (4x4).
MOTOR turbo do Fiat Bravo T-Jet 2016 é ponto alto no
carro, em especial ao se apertar o botão de Overboost (sobrepressão). Potência
se mantém em 152 cv, mas o torque de 23 kgfm faz nítida diferença. Retoques
estilísticos são modestos. Relevante é a monitoração de pressão dos pneus. Pena
que a caixa manual de seis marchas tenha curso de engate longo.
GANHOU outra vida o Mercedes-Benz GLA 250 com motor
turbo de 2 L/211 cv. Faltava essa versão no crossover (SUV de teto baixo)
alemão que será produzido no Brasil, logo no início de 2016. Apenas o motor de
1,6 L turboflex será nacionalizado. São duas versões: Vision por R$ 171.900 e
Sport, R$ 189.900. Ambas se destacam por materiais de ótima qualidade.
HONDA lançará em 2016 novo Twist, pseudo-aventureiro
baseado no Fit. Desta vez, a mudança é mais radical e não superficial como na
geração passada do monovolume compacto (ou hatch de teto alto) da marca
japonesa. Filão de modelos que remetem a “aventuras” no asfalto mesmo ou em
(boas) estradas de terra não parece ter fim.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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