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Wagner Gonzalez |
A F-1 vive a primeira rodada dupla do ano com os GPs da
China (12 de abril) e Bahrein (19 de abril) e tudo indica para uma repetição da
disputa entre Mercedes e Ferrari. No Brasil, a Stock Car se apresentou em
Ribeirão Preto e novamente a estrutura inadequada que coordena o esporte
e seu principal campeonato contribuíram para nublar o pouco brilho que resta de
uma atividade mantida por apaixonados e carente de uma mão firme.
Cavalos e grãos
Traçado, tipo de piso e
clima formam o cardápio entrada, prato quente e sobremesa que vai alimentar o
apetite das duas principais concorrentes da temporada 2015 da F-1 nos próximos
dois fins de semana, Mercedes e Ferrari. As vitórias de Lewis Hamilton (Austrália)
e Sebastian Vettel (Malásia) deram um equilíbrio inesperado e causaram um
efeito antagônico no ambiente do negócio F-1: deixou um copo de água meio cheio
para os entusiastas que gostam de boas disputas e outro meio vazio, este para
quem se preocupa com a crise que assola a categoria como um todo.
Ocorre que alemães gostam
mesmo é de uma boa cerveja, daquelas produzidas apenas com ingredientes
naturais, como estipula a lei germânica para o tema, e os italianos jamais
abrem mão de um bichiere di vino, seja ele produzido artesanalmente pelo nono
ou com a sigla DOCG estampada no rótulo. Tanto o Angriff batallion de Stuttgart
quanto o batttaglione d´attacco de Maranello querem vencer para aparecer mais
na mídia e vender mais carros num mercado cada vez mais mundial e disputado.
Promover GPs de forma cada vez mais cara e exclusiva não
agrada os marqueteiros cujo esporte preferido é diluir o custo por mil. Bernie
quer aumentar os custos e reduzir o acesso livre ou mais barato; as grandes
empresas que investem querem reduzir custos e aumentar o acesso ao grande
público. A queda de braço já é quase mais fraca que a queda de audiência.
Enquanto seu lobo não vem, a luta na pista continua e pode-se prever a Mercedes
levando vantagem na China e a Ferrari revertendo a situação no Bahrein.
Explicações para isso existem e tem boa base: o piso de cada pista. O traçado
chinês tem curvas que impõem altas cargas laterais no pneus, sendo que os
dianteiros sofrem a agravante de freadas fortes por causa da longa reta —
talvez a mais longa do calendário e comparável a um trecho similar em Spa. Como
o piso não é tão abrasivo quanto o de Bahrein, os pneus macios deverão ser mais
usados do que os médios, as duas opções disponíveis para as duas corridas.
Este quadro deverá ser
inverter no circuito barenita, cujo asfalto consome mais borracha. Os itens que
determinam o grau de abrasividade de um asfalto são a microporosidade, aspereza
e a amplitude dessa aspereza. Com três variáveis em jogo, a escolha torna-se
alvo de muitos estudos e conclusões específicas para cada circuito: no caso
chinês, a alta demanda lateral, o clima frio e a baixa aspereza seriam, em
princípio, mais apropriados para compostos menos macios; no caso barenita, a
ausência de curvas velozes, o piso abrasivo e a temperatura ambiente mais
elevada solicitam pneus menos duros. Dito isso, entra em cena o hardware
onde estão instalados os pneus.
As longas retas e curvas velozes de Xangai são prato
cheio para o V-6 anglo-saxônico; o clima mais quente e com mais curvas de baixa
e média velocidades são mais apropriados para o concorrente italiano. Verdade
que quando o lógico se inverte e de maneira surpreendente: na primeira geração
de motores turbo da era moderna havia o postulado de que os motores aspirados
continuariam imbatíveis em pistas como Mônaco e seriam derrotados em traçados
como Osterreichring.
Em 1980 Gilles Villeneuve largou na primeira fila e venceu
em Mônaco a bordo de um Ferrari 126 CK turbo e Jacques Laffite ganhou o
GP da Áustria com um Ligier JS27 impulsionado por um motor Matra V-12 aspirado…
De qualquer forma, em uma F-1 cada vez mais tecnológica (leia mais sobre o tema
neste interessante artigo de Bob Sharp), é importante levar em séria
consideração o que diz sobre pneus o engenheiro Jonathan Wells, fonte das
informações técnicas referentes a pneus e piso na coluna de hoje.
Um ribeirão de dúvidas
inunda a Stock
Não é de hoje, nem mesmo
do último fim de semana, que as competições nacionais são disputadas em pistas
de rua ou outras situações ditas atípicas. Certa vez, em uma capital litorânea
foi montado um circuito daqueles que os argentinos chamam de “callejeros”,
anunciado com antecedência mais que razoável, junto com o traçado que passava
defronte a importante igreja local. Eis que, pouco antes do final dos treinos
de sábado a programação foi sumariamente interrompida porque notáveis famílias
iriam celebrar as bodas nupciais de seus rebentos na abençoada casa e jovens
pombinhos, padrinhos e convidados tinham que chegar na porta da igreja a bordo
se seus possantes…
Voltando à corrida fria, o
mais curioso do esporte que nos entusiasma é a falta de planejamento e clareza
para definir regulamentos e prever situações que podem ser criadas a partir de
regulamentos mal escritos. Se um cidadão alfabetizado descobre em uma breve
leitura os erros grosseiros de concordância nas normas que regem o “desporto a
motor”, onde chegariam chefes de equipe, engenheiros e advogados focados em
aproveitar as trevas da lei? Mais, quando um regulamento particular de prova se
sobrepõe a outro homologado pela Confederação Brasileira de Automobilismo, qual
deve prevalecer?
Durante a transmissão da
corrida de Stock Car em Ribeirão Preto nem mesmo dois jornalistas veteranos e
de reconhecido conhecimento do esporte conseguiram chegar a um consenso se era
permitido ou não trocar pneus no intervalo entre uma prova e outra, a princípio
separadas por menos de meia hora. Atraso consumado, Cacá Bueno — vencedor da
primeira corrida do dia — foi reclamar à direção de prova o fato de não ter
recebido a bandeirada de vitória por uma falha que envolveu coordenação entre a
direção de prova e a comissária responsável por essa sinalização e as parcas
condições de trabalho que lhe foram proporcionadas.
Abalado pelo fato,
certamente o piloto não estava com seus ânimos mais serenos no momento e
ninguém se opôs a que chegasse ao local onde estavam o diretor de prova e as
autoridades da competição, local que deve ter acesso reservado e
controlado. Um dia antes, no sábado, a chuva indecisa em assistir a prova
de classificação nas arquibancadas ou acompanhar os pilotos pelo traçado do
Distrito Industrial da cidade criou tumulto dos maiores. Vários pilotos foram
prejudicados em maior ou menor grau e horas depois era possível ver o mesmo
diretor de prova citado acima, o gaúcho Mirnei Piroca, e dois dos seus
auxiliares escutando Cacá Bueno reclamar do pára-e-anda que se viu por causa da
pista ora molhada, ora úmida, ora quase seca na hora da tomada dos tempos.
Ainda que tensa, a conversa foi em nível civilizado.
O resumo da ópera cabe em
um único compasso e onde o acorde mais destacado é a ausência da CBA em impor
sua autoridade e produzir regulamentos claros e concisos. Há o caso de um
piloto, em outra prova da Stock, que não obedeceu a ordem de parar nos boxes
para cumprir uma punição por conduta anti-esportiva e acabou não punido porque,
mais tarde, demonstrou que a punição não era justa… Não é o caso de menosprezar
os comissários técnicos e esportivos que trabalham nas corridas. Ainda que
recebam uma ajuda de custo para realizar seu trabalho, não são profissionais
dedicados em tempo integral e conhecem a fragilidade do sistema em que atuam.
Mais que regulamentos, é
lícito pensar que o que o automobilismo precisa de uma reestruturação profunda
e dirigentes que trabalhem em prol do esporte e não por suas paixões e
vaidades. Quem sabe se isso mudar poderemos ver nas pistas empresas envolvidas
em disputas diretas e não apenas em campeonatos monomarca. Há espaço para
ambos tipos de campeonatos, mesmo porque as fábricas diretamente envolvidas
(Mercedes-Benz, Mitsubishi, Porsche e Suzuki) atuam em nichos específicos. Se o
número de veículos em circulação no País cresceu 100 % nos últimos 10 anos e
está em torno de 45 milhões de veículos, o número de pilotos federados não cresceu
proporcionalmente e chega a cerca de 11 mil atuantes em situações que envolvem
praticantes que disputam uma única competição por ano. O cenário se complica
quando se considera que a massa que adquiriu seu primeiro automóvel tem grande
número de apaixonados pelo automóvel e podem ser incluídos num segmento com
grande potencial de praticar o automobilismo de forma amadora. Não é o que
acontece.
A 1ª prova
Max Wilson liderou a fase
inicial mas acabou perdendo rendimento. Cacá Bueno foi o primeiro a
ultrapassá-lo e resistiu aos ataques de Marcos Gomes até o final. Ricardo
Maurício terminou em terceiro, mas foi desclassificado por ter trocado pneus
nos boxes.
Resultado: 1) Cacá Bueno,
Red Bull Racing, 38 voltas em 49´43”9322) Marcos Gomes, Voxx Racing Team, a
1”4773) Júlio Campos, Prati-Donaduzzi, a 9”3354) Thiago Camilo, Ipiranga-RCM, a
13” 5275) Galid Osman, Ipiranga-RCM, a 28”4136) Rubens Barrichello, Full Time
Sports, a 29”7867) Allam Khodair, Full Time Sports, a 30”6978) Vitor Genz,
Boettger Competições, a 31”1539) Diego Nunes, Vogel Motorsport, a 36”89810)
Antonio Pizzonia, Prati-Donaduzzi, a 41”866
Melhor volta: Rafa Matos
com 1’12”136
A 2ª prova
O gaúcho Vitor Genz
liderou as voltas iniciais mas o desgaste dos pneus de chuva, mantidos desde a
primeira bateria, limitou suas possibilidades, Tuka Rocha, Sérgio Jimenez e
Átila Abreu, que instalaram pneus slick no meio na primeira corrida, se
aproveitaram disso e formaram o pódio que marcou a primeira vitória de Rocha na
categoria.
Resultado: 1) Tuka Rocha,
União Química Racing, 22 voltas em 30’22”2142) Sérgio Jimenez, C2 Team, a
1”2233) Átila Abreu, AMG Motorsport, a 2”0424) Denis Navarro, Vogel Motorsport,
a 8”9065) Luciano Burti, RZ Motorsport, a 11”3106) Rubens Barrichello, Full
Time Sports, a 15”6967) Vitor Genz, Boettger Competições, a 15”7878) Júlio
Campos, Prati-Donaduzzi , a 16”5359) Antonio Pizzonia, Prati-Donaduzzi ,
17”03910) Marcos Gomes, Voxx Racing Team, – a 17”330.
Volta mais rápida: Rubens
Barrichello com 1‘10”487
Classificação do
campeonato:
1) Cacá Bueno, 33; 1)
Marcos Gomes, 31 pontos; 3) Júlio Campos, 29; 4) Sérgio Jimenez, 26;5) Allam
Khodair, 26; 6) Thiago Camilo, 25; 7) Tuka Rocha, 24; 8) Rubens Barrichello,
24; 9) Vitor Genz, 21; 10) Galid Osman – 19
Próxima etapa: Velopark
(RS), dia 28 de abril.
Normalmente dividindo a pista para proporcionar um
espetáculo mais interessante, a largura e extensão reduzidas do traçado do
Distrito Industrial de Ribeirão Preto levaram os organizadores do Mercedes-Benz
Challenge a realizar provas separadas para as classes CLA AMG e C250. Na
primeira Adriano Rabelo venceu e ampliou sua liderança no campeonato. Na
segunda, a regularidade de
Márcio Basso — terceiro na
corrida vencida por Peter Michel Gottschalk, lhe garantiu a ponta da tabela. O
MB Challenge prossegue dia 28 de maio em Curitiba.
Resultado CLA AMG Cup
1) Adriano Rabelo (Córdova
Motorsports), 27 voltas em 40’51”354
2) Luiz Ribeiro (Mottin
Racing), a 0s889
3) Fernando Júnior (WCR),
a 2s616
4) Arnaldo Diniz Filho
(Comark Racing), a 3s950
5) Neto De Nigris (De
Nigris/Europamotors), a 6s107
Campeonato após duas
corridas:
1) Adriano Rabelo, 40
pontos
2) Neto de Nigris, 26
3) Fernando Júnior,
25,
Resultado C250 Cup: Peter Michel Gottschalk, 30 voltas
em 46min48s515
2) Luiz Sena
Júnior/Cleiton Campos, 47min07s920
3) Márcio Basso,
47min23s024
Classificação após duas
etapas:
1) Márcio Basso, 32 pontos
2) Luiz Sena
Júnior
Cleiton Campos, 30
Cleiton Campos, 30
3) Betinho Sartório, 28
Brasileiros se destacam na
F-E em Long Beach
Nélson Piquet Jr. emulou importante feito do pai e
venceu sua primeira prova na Fórmula E — categoria reservada a monopostos
impulsionados por motores elétricos — no circuito de Long Beach, palco do
primeiro triunfo de N’élson sênior na F-1, em 1980. O triunfo de Nelsinho o
colocou na vice-liderança do certame, agora com 74 pontos, um atrás de Lucas Di
Grassi, terceiro colocado na competição, atrás de Jean-Eric Vergne. Bruno Senna
terminou em quinto.
WG
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