Alta Roda nº835/185– 07/05/2015
Fernando Calmon |
A importância da nova fábrica Jeep, em Goiana (PE),
transcende os números grandiosos: mais de R$ 7 bilhões de investimentos
(incluindo o parque de 16 fornecedores), capacidade de 250.000 unidades/ano em
três turnos, 9.000 empregos no polo produtivo (78% de pernambucanos) e 700
robôs nas áreas de funilaria, pintura e montagem. Como o projeto levou mais de
cinco anos para maturar, aplicaram-se as melhoras práticas industriais, de
produtividade, de controles de manufatura e organização.
O tempo prolongado também permitiu treinar mão de obra local e implantar
importantes ações sociais, bem além do que se fez em Betim (MG), onde a Fiat
não enfrenta greves nem mesmo breves interrupções. O sindicato local de
metalúrgicos nada tem de hostil e o de Goiana, então, muito menos quando
existir. Marcas japonesas ao se instalarem nos EUA cumpriram a mesma estratégia
de se afastar de conflitos trabalhistas, de escolher áreas de atividade
agrícola anterior e de receber generosos financiamentos públicos usuais ao
redor do mundo.
Quem visita as instalações praticamente não vê nenhuma referência à Fiat, salvo
a discreta logomarca FCA (Fiat Chrysler Automobiles), o que faz parte da
estratégia do grupo de ampliar a imagem da Jeep no mundo. Está certo que,
inicialmente, haverá dois Jeep – atual SUV compacto Renegade e outro SUV
médio-compacto em 2016 – e apenas um Fiat, a picape média de cabine dupla para
uma tonelada, dentro de seis meses.
Mas, de fato, os três partilham a mesma arquitetura do Fiat Punto/Linea,
alargada, alongada e reforçada (batizada de Small Wide US 4x4). A marca
americana juntou seu histórico de robustez à criatividade italiana para lançar
produtos que terão forte impacto no mercado brasileiro e na América Latina.
A nova unidade industrial produzirá, ainda, outros dois modelos de 2017 em diante.
Embora a FCA nada adiante sobre o assunto, esperam-se produtos Fiat de maior
valor agregado para acelerar a recuperação dos investimentos. Por isso hatch e
sedã médios-compactos são escolhas óbvias a fim de enfrentar a tibieza da marca
frente ao Cruze, Focus, Golf/Jetta e aos encastelados Corolla e Civic.
Por fim deve-se saudar o empreendimento da FCA no Nordeste brasileiro como a
maior fábrica de carros inteiramente nova construída no Brasil desde a chegada
da Nissan a Resende (RJ) no ano passado. Aqui ainda estão sendo erguidas outras
três (Honda, Jaguar Land Rover e Mercedes-Benz), além de Audi (agregada à VW) e
JAC (em processo de definição). Elas vão se juntar às 20 existentes, o que
seria motivo de comemoração não fosse o mau momento da economia, às voltas com
inflação alta e recessão de volta.
Também desconsola termos perdido para o México a liderança histórica de
produção de veículos na América Latina em 2014. E podemos ficar mais para trás,
pois depois do anúncio da Audi há dois anos, os mexicanos não param de receber
investimentos bilionários: BMW, Mazda, Kia, Mercedes-Benz (associada à Nissan)
e Toyota.
Para o Brasil resta o sentimento duplo de alegria pelas novas fábricas e de
tristeza por não poder usar todo o nosso potencial de baixa taxa de motorização
e dimensões continentais à espera de estradas.
RODA VIVA
MAIS um motor de três cilindros chega ao mercado este ano. Houve atraso,
mas a unidade da Fiat em Betim começa a produzir em breve as primeiras unidades
que, de início, estavam reservadas para o subcompacto sucessor do Mille, a
estrear em 2016. Uno terá primazia no segundo semestre. Fábrica precisa baixar
a média de consumo por exigência do Inovar-Auto.
GENERAL MOTORS comemora a produção de 500 milhões de veículos em seus 107 anos
de existência. É o grupo automobilístico que mais produziu na história. Hoje
reúne dez marcas (incluídas associadas chinesas), mas no passado chegou a ter
mais. Sua marca principal Chevrolet é a segunda colocada em vendas nos EUA, mas
lidera o mercado sul-americano.
SENTAR no banco traseiro do Nissan Versa surpreende pelo amplo espaço para
pernas. É o suprassumo do conceito de sedã compacto anabolizado, que só não
pode se considerar médio-compacto pela largura do habitáculo. Para usar suas
potencialidades, inclusive porta-malas, é melhor o motor de 1,6 L do que o
tricilíndrico de 1 litro. Estilo evoluiu, mas não é seu ponto forte.
ELEGÂNCIA sempre foi marca registrada do sedã-cupê Audi A7. Já a versão
superesportiva de maior preço, a RS 7 Sportback por R$ 624.990, estabelece
referências que muitos poucos modelos de série se atrevem a desafiar. Seus 560
cv e arrogantes 71,4 kgfm de torque a apenas 1.700 rpm, tração 4x4,
comportamento em curvas impressionante (é dois cm mais baixo que a versão
comum) e aceleração de 0 a 100 km/h em 3,9 s expressam tudo.
CORREÇÃO: Cherry QQ, desde sua primeira versão no Brasil, sempre foi importado
da China e não montado no Uruguai. Mesmo com todas as taxas, mas com o real
supervalorizado, chegou a ser vendido por R$ 20.000, o mais barato aqui.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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