Alta Roda nº841/191– 25/06/2015
Fernando Calmon |
Primeiro SUV
compacto a diesel produzido no Brasil que
pode ser adquirido por menos de R$ 100.000 está no mercado. A partir do Jeep
Renegade reabre-se a polêmica proposta de liberar o combustível para todos os veículos. Hoje, mesmo no
segmento de utilitários esporte há obrigatoriedade de tração 4x4 e caixa de
redução, mas a segunda exigência na prática foi contornada por vários
fabricantes sem qualquer reação do Denatran.
Na realidade, o Brasil continua há décadas dependente de importação de diesel e
com o imbróglio das novas refinarias da Petrobrás (dois projetos cancelados) o
País voltou também a importar gasolina. Sempre se deve lembrar que não existe
alternativa economicamente viável ao diesel para caminhões, ônibus e outros
veículos pesados, enquanto etanol pode ser adicionado à gasolina ou
substituí-la em veículos leves.
Produção de biodiesel é cara demais e aqui, produzido basicamente a partir de
grão alimentício (soja). Apenas uma pitada de 3% (agora está em 7%) e os
marqueteiros logo nomearam a mistura de biodiesel. Mas a gasolina padrão
brasileira tem 22% de etanol há mais de 20 anos (no momento, 27%) e deveria se
chamar de biogasolina por mais forte razão.
Veículo a diesel proporciona em média autonomia 20% superior ao de um a
gasolina, porém a diferença tende a diminuir com aplicação crescente de injeção
direta, turbocompressor e redução de cilindrada. No entanto, um motor a diesel,
mais pesado, tem custo até 50% maior do que um de ciclo Otto, o que significa
em torno de 10% no preço final. Dependendo do preço dos combustíveis é preciso
rodar bastante para amortizar a diferença ao comprar um carro novo. Quanto mais
caro o litro (caso da Europa) menor a quilometragem necessária.
Alguns governos da União Europeia decidiram, recentemente, que automóveis a
diesel antigos e muitos poluentes precisam sair de circulação. Na França e na
Bélgica, por exemplo, dois terços dos automóveis novos usam o mesmo combustível
de veículos pesados. Não há propriamente a decisão de bani-los de vez, mas
incentivos dados no passado serão retirados. Carros compactos de menor preço em
geral rodam menos que os médios e grandes. Assim a maioria vai optar por
motores a gasolina.
Parece que fabricantes entenderam o recado, meio a contragosto, pois diesel
proporciona margens atraentes. A reviravolta surgiu nos últimos salões de
automóveis na Europa, pois praticamente todas as novas famílias de motores são
de ciclo Otto e de consumo bem menor. Emissões de óxidos de nitrogênio são mais
controláveis quando se usa gasolina.
No Brasil há outros complicadores. Motores a diesel modernos só podem usar
combustível de baixo teor de enxofre (S10) e exigem abastecimento separado de
solução de ureia quimicamente pura. Em caminhões há casos comprovados de
violação dos sistemas eletrônicos que anulam os recursos antipoluição.
Controle das potencialmente cancerosas partículas inaláveis finas (número e
emissões/km), típicas do diesel, depende também de plano de manutenção bem
feito. Como a inspeção veicular continua emperrada – ao contrário da Europa e
outros países onde isto é levado muito a sério – teme-se que avanços técnicos
se anulem à medida que a frota envelheça.
RODA VIVA
SALÃO DO AUTOMÓVEL de Buenos Aires termina no
próximo domingo e teve poucos lançamentos de peso, a maioria de produção
argentina. Um deles é o novo Focus hatch, apresentado aqui esta semana, que
completa a atualização da marca na região só com produtos globais. Versão sedã
será mostrada em seguida e ambas estarão à venda ainda este mês.
RENAULT apresentou sua picape compacta de cabine
dupla – primeira no mercado com quatro portas – já na configuração de produção,
a se iniciar no final de julho. Havia expectativa de que o pouco sonoro nome
Oroch (rima com Amarok) fosse mudado, mas está confirmado. Sandero RS completa
a linha de seu compacto anabolizado, prometendo algo mais que decoração
esportiva.
RETOQUES na frente e na traseira do hatch 308 e do
sedã 408, ambos argentinos, têm potencial de animar um pouco suas vendas nessa
disputada faixa de médios-compactos. Apesar disso, não se trata do 308 francês
que chegará importado no final do ano em configuração mais cara. Peugeot alega
ser caro fabricá-lo no Mercosul, mas Golf e Focus novos estão entrando em
produção na região.
PICAPE MÉDIA Frontier, produto realmente novo,
destacou-se em Buenos Aires. Fabricação não caberá ao Brasil, que continuará
com a versão antiga. Como a produção só começa em 2018, resta importá-la por
enquanto do México, dentro da (baixa) cota em dólares negociada entre os
governos. Argentina responderá não apenas pela Frontier, mas também derivações
Renault e Mercedes-Benz.
PREMIÈRE ainda no salão portenho do Honda CR-V
atualizado, outro a vir do México. Mas, a partir de 2016, com inauguração da
fábrica de Itirapina (SP), a marca japonesa ganhará espaço em Sumaré (SP) para
produzir o CR-V que divide arquitetura com o Civic.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
Nenhum comentário:
Postar um comentário