Wagner Gonzalez |
As verdes
colinas da Styria sempre foram um ponto de parada apreciado pela caravana da
F-1. De corridas emocionantes a acidentes espetaculares, a história do GP da
Áustria tem capítulos bem mais interessantes do que a corrida modorrenta que se
viu no fim de semana. Na quinta dobradinha da Mercedes-Benz nesta temporada, o
pódio de Felipe Massa e o momento emoção entre Max Verstappen e Pastor
Maldonado foram os destaques da oitava prova deste ano.
A Áustria é um país bastante interessante: não esconde sua
proximidade com vizinhos tão antagônicos quanto a ordenada Alemanha e a
despojada Itália. O resultado é uma cultura onde as vida funciona e a alegria
está presente em quase todo canto. Nas várias vezes que fui cobrir o GP em
Zeltweg – é o mesmo local da corrida do fim de semana, mas com outro nome –
sempre rolou uma história inesquecível.
Na primeira vez, por exemplo, no
distante 1981 (clique aqui
para ver cenas dessa prova com comentários de Niki Lauda e Heinz
Prüller), levei
um dia e meio entre embarcar num MD 11 da Varig em São Paulo, aterrissar em
Frankfurt, tomar um DC-9 da Austria Airlines para Viena, dia seguinte descobrir
onde era a estação ferroviária que me levaria a Graz e de lá a Zeltweg. Já me
achava no meio do interior de uma floresta quando deparei com cartazes de um concerto
com a banda Iron Maiden!
Em
1984 eu acompanhava o circo na Europa baseado em Paris e me deslocava
freqüentemente em automóvel; tempos que ainda havia fronteira entre os países
que hoje compõem a União Européia. A cada fronteira, uma língua ou dialeto
diferente (algo que vez ou outra acontecia no mesmo país…), distintas moedas e
hábitos diversos. Nesse ano fui parado em uma rodovia na Áustria por um guarda
que parecia saído de um desenho animado: rechonchudo, pele avermelhada,
uniforme um tanto quanto surrado e um bloquinho impresso em papel que lembrava
aquele usado para embrulhar pão no Brasil dos anos 1970.
Ele não
falava nenhum outro idioma além de “austríaco” e eu não falava, e nem falo até
hoje, nenhuma palavra em alemão que não seja Jochen Rindt ou o nome de uma
marca tedesca de automóveis. Sem muita cerimônia ele me mostrava o tal
bloquinho e uma cifra iniciada com o valor da multa e a descriminação do
delito. Na vã esperança de escapar do prejuízo iminente falei e gesticulei que
não tinha dinheiro local, isso, aquilo e mais qualquer coisa que unisse dois
neurônios na mais pura encenação desnecessária e infrutífera.
Com uma calma de
quem já estava habituado com a ladainha do herr touristen à sua frente ele tira
do bolso uma tabelinha escrita em caligrafia rudimentar, números nem tanto e
sinais claros que era usada com freqüência, e exibiu o que hoje em dia chamamos
de planilha Excel. Em suas células a primeira linha era m palavras tipo marcos
alemães, liras italianas (lembro que esta aparecia ao lado de um numeral
enorme….), florins holandeses e, por último, francos franceses. Foi nessa linha
que sua caneta iniciou um vai e vem que ia até a direção da placa do meu carro,
alugado em Paris…
Em outra ocasião eu deixava o circuito no final da tarde de
sábado e parei no restaurante que funcionava junto à porta de entrada do
autódromo, que era conhecido como Osterrëichring (Autódromo da Áustria, no
idioma de Goethe). Como havia raros hotéis e poucos e minúsculos restaurantes,
geralmente nos hospedávamos em casas particulares. Assim, optei por comer ali
em vez de enfrentar as inevitáveis filas nas lotadas opções dos arredores. Foi
um dos jantares mais animados que tive naquelas bandas. Sequer havia terminado
a primeira cerveja quando o local foi tomado por uma orquestra típica e
melodiosa, capaz de mexer com o Nureyev que existe em cada um de nós. Da
sanfona, guitarra, bateria e metais saía a música típica da região, completada
pela voz de um gringo de quase dois metros de altura, vestido em uma jardineira
de calças curtas, com bordados florais e que parecia ainda mais alto com seu
chapeuzinho de feltro adornado por uma pena. Não bastasse isso ele ainda
saracoteava por cima de caixas de som grandes o suficiente para tilintar as
pesadas canecas de chope. Ao seu lado, uma linda loira dançava e o acompanhava
em algumas notas enquanto outras meninas tão lindas quanto desfilavam pelo
salão distribuindo os pedidos de comes e bebes.
Sem
dúvida são episódios bem mais interessantes que a modorrenta corrida que vimos
no fim de semana, quando o arrojo de Pastor Maldonado em escapar de um acidente
com seu confrade Max Verstappen foi a mostarda na salsicha de domingo. Com Nico
Rosberg e Lewis Hamilton isolados muito à frente da classe B, esse e um outro
fatos bastam para descrever o telúrico GP que valeu como oitava etapa do
Campeonato Mundial de F-1, corrida que o leitor Josenilson Veras não deve ter
assistido até seu final, como ele explica ao descrever seu
amor pela categoria.
Certamente
Josenilson viu a largada e até ficou entusiasmado com o salseiro provocado por
Kimi Räikkönen logo após a primeira curva: o finlandês perdeu o controle do seu
carro e acabou atingido por Fernando Alonso num balé que teve o guard-rail como
coadjuvante. O carro vermelho ficou sob o carro azul escuro (aquele que até
outro dia era prateado), e uma vez fora do carro Kimi pegou carona em uma motocicleta.
Há quem aposte que no caminho de volta aos boxes ele ligou para casa avisando
que chegaria mais cedo… Brincadeira ou não, cada vez mais é dado como certo que
ano que vem essa ligação não será mais necessária, pelo menos nos finais de
semana de Grandes Prêmios.
Neste vídeo gravado por um espectador é possível ver
como o Ferrari de Räikkönen fica desgovernado, sugerindo que apenas uma roda
estaria tracionando ou que os pneus estariam inexplicavelmente frios, o que é
menos provável. O erro no Canadá e este na Áustria serão cláusulas difíceis de
serem superadas na cada vez mais difícil renovação do contrato do finlandês com
Maranello. Como sói acontecer nas bandas da Scuderia, um bom resultado suscita
sonhos e agora fala-se que Nico Hulkenberg, vencedor de Le Mans pela Porsche,
já é cogitado pela imprensa italiana como possível concorrente à vaga até agora
garantida para Valteri Bottas. Continuo apostando no atual piloto da Williams.
Vale
lembrar que o fim de semana não foi exatamente dos melhores para a Ferrari:
além de perder Räikkönen na primeira volta, a roda traseira direita do carro de
Sebastian Vettel ficou travada e o alemão teve que voltar à pista com três
pneus novos e outro bem usadinho. Sorte de Felipe Massa, que largou em quarto e
soube defender–se dos ataques do Tião nas últimas voltas.
De certo
mesmo na F-1 atual, só os resultados homologados e a situação dos campeonatos
de pilotos e construtores, números que você encontra clicando aqui.
Gente
nova
Com exceção da
claudicante Marussia/Manor, todas as equipes que disputam a temporada 2015 da
F-1 iniciam hoje duas jornadas de testes em Spielberg, o circuito outrora
conhecido como Zeltweg ou Osterrëichring. Ferrari e Force India deram folga
para seus pilotos titulares enquanto as demais escuderias reservaram um dia
para avaliar potenciais ocupantes dos seus carros na próxima temporada. Veja
abaixo a relação dos pilotos que estarão em ação hoje e amanhã, na ordem em que
são mencionados. Entre parênteses as categorias onde eles atuam ou atuaram no
ano passado:
Mercedes: Nico
Rosberg e Pascal Wehrlein (DTM)
Ferrari: Antonio Fuoco (F3) e Esteban Gutierrez
Williams: Susie Wolff e Valteri Bottas
Red Bull: Pierre Gasly (GP2) e Daniel Ricciardo
Force India: Pascal Wehrlein e Esteban Ocon (F3)
Lotus: Romain Grosjean e Jolyon Palmer (GP2)
Sauber: Rafaelle Marciello (Academia Ferrari) e Felipe Nasr
Toro Rosso: Max Verstappen e Marco Wittmann (DTM)
McLaren: Stoffel Vandoorne (GP2) e Fernando Alonso
WG
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