terça-feira, 23 de junho de 2015

Wagner Gonzalez em Conversa de pista - A calma e montanhosa Styria

Wagner Gonzalez
As verdes colinas da Styria sempre foram um ponto de parada apreciado pela caravana da F-1. De corridas emocionantes a acidentes espetaculares, a história do GP da Áustria tem capítulos bem mais interessantes do que a corrida modorrenta que se viu no fim de semana. Na quinta dobradinha da Mercedes-Benz nesta temporada, o pódio de Felipe Massa e o momento emoção entre Max Verstappen e Pastor Maldonado foram os destaques da oitava prova deste ano.


A Áustria é um país bastante interessante: não esconde sua proximidade com vizinhos tão antagônicos quanto a ordenada Alemanha e a despojada Itália. O resultado é uma cultura onde as vida funciona e a alegria está presente em quase todo canto. Nas várias vezes que fui cobrir o GP em Zeltweg – é o mesmo local da corrida do fim de semana, mas com outro nome – sempre rolou uma história inesquecível. 

Na primeira vez, por exemplo, no distante 1981 (clique aqui para ver cenas dessa prova com comentários de Niki Lauda e Heinz Prüller), levei um dia e meio entre embarcar num MD 11 da Varig em São Paulo, aterrissar em Frankfurt, tomar um DC-9 da Austria Airlines para Viena, dia seguinte descobrir onde era a estação ferroviária que me levaria a Graz e de lá a Zeltweg. Já me achava no meio do interior de uma floresta quando deparei com cartazes de um concerto com a banda Iron Maiden!

Em 1984 eu acompanhava o circo na Europa baseado em Paris e me deslocava freqüentemente em automóvel; tempos que ainda havia fronteira entre os países que hoje compõem a União Européia. A cada fronteira, uma língua ou dialeto diferente (algo que vez ou outra acontecia no mesmo país…), distintas moedas e hábitos diversos. Nesse ano fui parado em uma rodovia na Áustria por um guarda que parecia saído de um desenho animado: rechonchudo, pele avermelhada, uniforme um tanto quanto surrado e um bloquinho impresso em papel que lembrava aquele usado para embrulhar pão no Brasil dos anos 1970.

 Ele não falava nenhum outro idioma além de “austríaco” e eu não falava, e nem falo até hoje, nenhuma palavra em alemão que não seja Jochen Rindt ou o nome de uma marca tedesca de automóveis. Sem muita cerimônia ele me mostrava o tal bloquinho e uma cifra iniciada com o valor da multa e a descriminação do delito. Na vã esperança de escapar do prejuízo iminente falei e gesticulei que não tinha dinheiro local, isso, aquilo e mais qualquer coisa que unisse dois neurônios na mais pura encenação desnecessária e infrutífera.

Com uma calma de quem já estava habituado com a ladainha do herr touristen à sua frente ele tira do bolso uma tabelinha escrita em caligrafia rudimentar, números nem tanto e sinais claros que era usada com freqüência, e exibiu o que hoje em dia chamamos de planilha Excel. Em suas células a primeira linha era m palavras tipo marcos alemães, liras italianas (lembro que esta aparecia ao lado de um numeral enorme….), florins holandeses e, por último, francos franceses. Foi nessa linha que sua caneta iniciou um vai e vem que ia até a direção da placa do meu carro, alugado em Paris…

Em outra ocasião eu deixava o circuito no final da tarde de sábado e parei no restaurante que funcionava junto à porta de entrada do autódromo, que era conhecido como Osterrëichring (Autódromo da Áustria, no idioma de Goethe). Como havia raros hotéis e poucos e minúsculos restaurantes, geralmente nos hospedávamos em casas particulares. Assim, optei por comer ali em vez de enfrentar as inevitáveis filas nas lotadas opções dos arredores. Foi um dos jantares mais animados que tive naquelas bandas. Sequer havia terminado a primeira cerveja quando o local foi tomado por uma orquestra típica e melodiosa, capaz de mexer com o Nureyev que existe em cada um de nós. Da sanfona, guitarra, bateria e metais saía a música típica da região, completada pela voz de um gringo de quase dois metros de altura, vestido em uma jardineira de calças curtas, com bordados florais e que parecia ainda mais alto com seu chapeuzinho de feltro adornado por uma pena. Não bastasse isso ele ainda saracoteava por cima de caixas de som grandes o suficiente para tilintar as pesadas canecas de chope. Ao seu lado, uma linda loira dançava e o acompanhava em algumas notas enquanto outras meninas tão lindas quanto desfilavam pelo salão distribuindo os pedidos de comes e bebes.

Sem dúvida são episódios bem mais interessantes que a modorrenta corrida que vimos no fim de semana, quando o arrojo de Pastor Maldonado em escapar de um acidente com seu confrade Max Verstappen foi a mostarda na salsicha de domingo. Com Nico Rosberg e Lewis Hamilton isolados muito à frente da classe B, esse e um outro fatos bastam para descrever o telúrico GP que valeu como oitava etapa do Campeonato Mundial de F-1, corrida que o leitor Josenilson Veras não deve ter assistido até seu final, como ele explica ao descrever seu amor pela categoria.

Certamente Josenilson viu a largada e até ficou entusiasmado com o salseiro provocado por Kimi Räikkönen logo após a primeira curva: o finlandês perdeu o controle do seu carro e acabou atingido por Fernando Alonso num balé que teve o guard-rail como coadjuvante. O carro vermelho ficou sob o carro azul escuro (aquele que até outro dia era prateado), e uma vez fora do carro Kimi pegou carona em uma motocicleta. Há quem aposte que no caminho de volta aos boxes ele ligou para casa avisando que chegaria mais cedo… Brincadeira ou não, cada vez mais é dado como certo que ano que vem essa ligação não será mais necessária, pelo menos nos finais de semana de Grandes Prêmios.

Neste vídeo gravado por um espectador é possível ver como o Ferrari de Räikkönen fica desgovernado, sugerindo que apenas uma roda estaria tracionando ou que os pneus estariam inexplicavelmente frios, o que é menos provável. O erro no Canadá e este na Áustria serão cláusulas difíceis de serem superadas na cada vez mais difícil renovação do contrato do finlandês com Maranello. Como sói acontecer nas bandas da Scuderia, um bom resultado suscita sonhos e agora fala-se que Nico Hulkenberg, vencedor de Le Mans pela Porsche, já é cogitado pela imprensa italiana como possível concorrente à vaga até agora garantida para Valteri Bottas. Continuo apostando no atual piloto da Williams.

Vale lembrar que o fim de semana não foi exatamente dos melhores para a Ferrari: além de perder Räikkönen na primeira volta, a roda traseira direita do carro de Sebastian Vettel ficou travada e o alemão teve que voltar à pista com três pneus novos e outro bem usadinho. Sorte de Felipe Massa, que largou em quarto e soube defender–se dos ataques do Tião nas últimas voltas.

 De certo mesmo na F-1 atual, só os resultados homologados e a situação dos campeonatos de pilotos e construtores, números que você encontra clicando aqui.

Gente nova
Com exceção da claudicante Marussia/Manor, todas as equipes que disputam a temporada 2015 da F-1 iniciam hoje duas jornadas de testes em Spielberg, o circuito outrora conhecido como Zeltweg ou Osterrëichring. Ferrari e Force India deram folga para seus pilotos titulares enquanto as demais escuderias reservaram um dia para avaliar potenciais ocupantes dos seus carros na próxima temporada. Veja abaixo a relação dos pilotos que estarão em ação hoje e amanhã, na ordem em que são mencionados. Entre parênteses as categorias onde eles atuam ou atuaram no ano passado:
Mercedes: Nico Rosberg e Pascal Wehrlein (DTM)

Ferrari: Antonio Fuoco (F3) e Esteban Gutierrez
Williams: Susie Wolff e Valteri Bottas
Red Bull: Pierre Gasly (GP2) e Daniel Ricciardo
Force India: Pascal Wehrlein e Esteban Ocon (F3)
Lotus: Romain Grosjean e Jolyon Palmer (GP2)
Sauber: Rafaelle Marciello (Academia Ferrari) e Felipe Nasr
Toro Rosso: Max Verstappen e Marco Wittmann (DTM)
McLaren: Stoffel Vandoorne (GP2) e Fernando Alonso


WG

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