quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Fernando Calmon - Alta Roda - O automóvel e os jovens


Alta Roda nº 869/219– 303– 0oda nº852/1208– 2oda nº851/2015

Fernando Calmon
De uns tempos para cá, pesquisas apontam desinteresse dos jovens em dirigir automóveisou até se candidatar a uma carteira de motorista. Essa tendência aparece em países centrais de alta taxa de motorização e se atribui, entre outras razões, ao crescente grau de conectividade da internet em dispositivos portáteis, à menor necessidade de deslocamentos e, de certa forma, a meios de transporte coletivos e alternativos, incluindo aplicativos para táxis e motoristas particulares do Uber.

Quem produz autopeças, fabrica veículos e os comercializa estão atentos sobre o impacto desses novos consumidores. Já se prevê salões de concessionárias diminuindo de área e até com apenas um ou dois modelos em exposição – o mais vendido e/ou o recém-lançado. 

No Brasil esse caminho poderá também ser trilhado, só não se sabe em que ritmo. Para prospectar intenções, a pesquisa Jovem x Automóvel conduzida por Lupércio Thomaz, jornalista e diretor da rede social Campus Universitário, entrevistou 404 estudantes (51% homens e 48% mulheres) entre 18 e 25 anos, de São Paulo e Ribeirão Preto. Uma das revelações foi de que 59% dos entrevistados ainda não têm carteira de habilitação, mas entre esses 95% pretendem se habilitar, demonstração de sensível diferença em relação às enquetes no exterior. 

Curiosamente, o carro significa expressão de liberdade para 18% desses universitários, enquanto 51% o consideram apenas meio de transporte. Para as gerações do Século XX a resposta à mesma pergunta provavelmente teria proporção invertida. 

Outros dados interessantes da pesquisa: 

• 69% declaram que utilizam pouco ou raramente carros em seus deslocamentos. Ônibus (46%) e metrô (31%) são as alternativas mais citadas. Motocicleta 3% e bicicleta 5%.

• 60% dão carona a quem estuda ou trabalha junto. 

• 90% usariam menos o automóvel, se o transporte público fosse melhor. 

• 77% aceitariam compartilhar um veículo, a exemplo de bicicletas. 

• 73% não estariam dispostos a se endividar para ter um carro. 

• Se tivessem R$ 50.000, apenas 13% comprariam um automóvel. Outras respostas: intercâmbio cultural (18%), viagem de estudo (15%), pós-graduação (12%), cursos complementares (11%), outra graduação (8%), turismo (7%) e outros projetos (16%). 

• Entre os que indicaram a preferência pelo carro, 53% são homens e 47% mulheres. 

Das conclusões que se podem tirar do estudo, há sentimento de diminuição de prioridade do automóvel na vida dos jovens. Vontade de compartilhar e não se endividar podem ser sinais de alerta tanto para fabricantes quanto concessionárias sobre o futuro do negócio. 

Mais negativo, porém, o fato de apenas 11% considerarem o carro como objeto de desejo, enquanto 7% o apontam como fonte de poluição/barulho, 6%, vilão do meio ambiente; 5%, estorvo para o trânsito; 2%, gerador de acidentes. 

Por outro lado, objeto de desejo e expressão de liberdade somam 29%, contra 20% de posições críticas. Também é necessário frisar que a pesquisa foi conduzida em duas das maiores cidades do Estado mais desenvolvido do País. Em regiões com taxa de motorização menor, o resultado certamente seria outro. Para sorte do automóvel. 

PERFIL
   
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:  www.twitter.com/fernandocalmon                  

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