Coluna 704 de 25/10/12 |
Fernando Calmon |
Interessante constatar como os fabricantes mudam suas
estratégias mercadológicas e técnicas de continente a continente. Marcas
europeias e orientais, por exemplo, tratam de desenvolver modelos com dimensões
generosas para vender nos EUA. Atender a cultura do segundo maior mercado do
mundo (só perdeu a liderança para a China há três anos) implica fazer
concessões ao peso do veículo e maior consumo de combustível em troca de espaço
interno.
Isso está mudando porque a gasolina encareceu nos EUA e o
governo estabeleceu metas rigorosas de economia para os próximos anos. A Ford foi
das primeiras a reagir. Deu uma guinada a fim de procurar aproximar ao máximo
possível todos os novos projetos mundiais, pois consumo de combustível e
emissões de CO2 são irmãos siameses.
O novo Fusion demonstra os novos tempos. Esse sedã
médio-grande, em exceção parcial àquela regra, era um pouco menor que a sua
contraparte vendida na Europa com o nome de Mondeo. Agora, cresceu cerca de três
cm em comprimento, largura e altura. Estilo e dimensões são os mesmos dos dois
lados do Atlântico.
Na versão de topo, Titanium, o motor V-6 aspirado foi
substituído por um quatro-cilindros turbo com injeção direta de 2 litros/240 cv/34,7
kgf·m. Assim, o carro chegará ao Brasil, em dezembro, por R$ 112.990, incluindo
tração nas quatro rodas e teto solar. Preço dos mais competitivos por vir do
México sem imposto de importação e IPI extra. A partir da produção do novo
Fiesta hatch, em São Bernardo do Campo (SP), já no início de 2013, a Ford aliviará
sua cota de importação mexicana, concentrando-a no Fusion. Em março, estreia o
motor de 2,5 l/175 cv, flex, tração dianteira, preço estimado em R$ 85.000.
Espaço interno, em especial no banco traseiro, é um dos
destaques, além do silêncio de rodagem ao incluir para-brisa acústico. A marca
optou por distância entre eixos 12 cm maior (igual à do Mondeo), mas sacrificou
o porta-malas em cerca de 80 litros (agora, 453 l), em parte pelo desenho da
traseira. Em compensação, o coeficiente aerodinâmico evolui de 0,33 para 0,27,
um dos melhores do segmento, o que resultou em consumo cidade/estrada de 9,1
km/l (gasolina).
O Fusion recebeu um grande pacote de equipamentos, em especial
de segurança. Controle ativo de velocidade de cruzeiro, comutação automática farol
alto/baixo ao cruzar com outro veículo, monitoramento de pontos cegos, alertas para
tráfego cruzado em marcha à ré, de
sonolência e de invasão de faixa, além de airbags de joelho para motorista e
passageiro (oito bolsas, no total) são alguns. Sistema de estacionamento
automático também é novidade.
Sua dirigibilidade impressiona, a começar pela direção de
assistência elétrica que absorve pequenas vibrações dos pneus e tem controle
ativo de deriva. Em ruas de Los Angeles (EUA) não deu para avaliar o comportamento
em curvas velozes, mas a nova suspensão traseira independente de quatro braços
traz o refinamento europeu antes inexistente.
Apesar do peso extra do sistema de tração 4x4, o motor dá
conta do recado. A Ford decidiu manter o limite eletrônico de 180 km/h de
velocidade máxima (na Europa, 240 km/h). Ou seja, em quase tudo carros iguais,
mas respeitadas certas diferenças.
RODA VIVA
BMW, finalmente,
anunciou a fábrica brasileira em Araquari (SC). Esta coluna antecipou, pelo
Twitter, a decisão tomada pela diretoria em Munique há 14 meses. Como havia
negociações à frente, a filial brasileira foi obrigada a negar a informação.
Investimento de pouco mais de R$ 500 milhões, início de vendas em 2014 e
produção inicial do SUV compacto X1.
MERCEDES-BENZ
anunciará, até o final do ano, a fábrica no Brasil para produzir o futuro SUV
derivado do compacto Classe A. Decisão inevitável, depois do passo adiante da
arquirrival BMW. Tudo indica que a unidade estará no mesmo complexo da Nissan,
em construção em Resende (RJ). Só falta o retorno da Audi para estabelecer aqui
o Trio de Ferro alemão.
DEPOIS de
experiências de estilo pouco brilhantes, a GM acertou com o Onix. Novo compacto
hatch Chevrolet, em pré-estreia no Salão do Automóvel de São Paulo, agradou
também por suas dimensões internas e painel bem elaborado. Arquitetura é a
mesma GSV, do Sonic. Vendas começam em novembro próximo. O sedã, primeiro
trimestre de 2013.
NOME é trocadilho
com Tiguan, mas o Taigun, revelado no Salão, dá ótima pista de como será o
primeiro SUV compacto que a VW produzirá no Brasil, em 2014. Motor será o TSI,
turbo e injeção direta, três cilindros, 1 litro/110 cv, na versão flex. Pelo menos
o motor feito aqui foi confirmado por Ulrich Hackenberger, vice-presidente
executivo do Grupo VW.
GRUPO Gandini,
importador Kia, estuda alternativas para fabricar algum modelo no Brasil a fim
de atenuar fortes restrições do regime automobilístico a quem não produz
localmente. Porém, restrições legais e estratégicas, dentro do grupo
sul-coreano, impedem uso compartilhado da nova fábrica da Hyundai em Piracicaba
(SP).
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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