Alta Roda nº 734/85 – 23/05/2013 |
Fernando Calmon |
Filmes de ficção
científica encantam quem gosta de visão antecipada dos avanços que reservam o
futuro.Os carros de topo de linha são provas de que o futuro deixa às vezes de
ser ficção, embora inalcançável para a maioria dos mortais. Mas há um consolo:
algumas dessas novidades um dia cairão de preço com progresso das pesquisas,
novos materiais e processos. Computadores de bordo, controles de trajetória,
freios ABS e navegadores GPS pareciam inacessíveis faz pouco tempo.
Exemplo de transformação em realidade é o novo Mercedes-Benz Classe S, que
chegará ao Brasil no fim do ano, na faixa dos R$ 800 mil. Sua première mundial
(estática) em Hamburgo, Alemanha, semana passada, teve show à altura dentro da
fábrica de aviões Airbus. Para descrever o modelo-símbolo da marca
necessitam-se 150 páginas, em DVD; manual do proprietário seria confundido com
um livro.
Difícil selecionar tópicos mais importantes entre tantos. Trata-se do primeiro
automóvel a dispensar lâmpadas: há quase 500 LEDs (diodos de luz), dos quais 56
só para os faróis. Uma estereocâmera (tridimensional) avalia desníveis e
buracos no pavimento à frente e comanda adaptação prévia das suspensões a ar.
Essa câmera, em conjunto com sensores e radares, detecta, além de pedestres e
outros obstáculos, o tráfego em cruzamentos, dia ou noite, para evitar ou
mitigar acidentes. Estabilizador de velocidade mantém distância de segurança –
acelera, freia, para e arranca – e segue o veículo da frente até em curvas de
raio longo, sempre dentro da faixa de rodagem, ao atuar no volante de forma
autônoma.
Novo Classe S foi construído de trás para frente, a partir da versão de
entre-eixos longo, tal o nível de conforto e segurança. Poltrona traseira
diagonal à do motorista inclina até 43 graus, tem suporte integral para pernas,
aquecimento nos apoios de braços e 14 atuadores para massagem nas costas. Além
de cinto de segurança inflável, há algo como airbag de assento que limita, em
caso de acidente, o corpo escorregar por baixo do cinto, mesmo que o passageiro
esteja adormecido.
Entre as amenidades, sistema ativo de perfumar o habitáculo sem saturar o
ambiente, comando de várias funções por meio de telefone inteligente ou tablete
e duas mesas de apoio rebatíveis no console central traseiro, além de sistema
de áudio com 24 alto-falantes e 1.540 W de potência.
Privilégios também na parte da frente, com duas grandes telas de 12,3
polegadas, uma delas só para o quadro de instrumentos. E mais segurança: os
cintos afastam motorista e passageiro da direção do impacto frontal; freio de
estacionamento é acionado em caso de iminente colisão traseira para minimizar o
efeito chicote sobre a coluna cervical de todos os ocupantes.
Em estilo, manteve o caráter evolutivo, embora a grade frontal maior lhe dê
personalidade. São só dois cm a mais de comprimento (versão de entre-eixos
curto), mas “emagreceu” 100 kg. Coeficiente aerodinâmico surpreende – apenas
0,24 –, mas, em breve, alcançará 0,23 com um pacote opcional de menor
consumo/emissões. Motores vão de 258 cv a 456 cv, já enquadrados na próxima e
ainda mais rigorosa legislação europeia antipoluição.
RODA VIVA
ESTRATÉGIA clara das marcas francesas: antecipar
os sedãs novos frente aos hatches. Substituto do C4 Pallas (nome vai mudar para
Lounge ou outro, em estudo) chega logo no segundo semestre, seguido pelo
sucessor do Logan, igual ao já disponível na Europa. Respectivos hatches, C4 e
Sandero, só no início de 2014. Este último tem mais fôlego de vendas até lá.
REPOSICIONAMENTOS de preços continuam para defender posições de
mercado. Toyota recheou versão intermediária do Corolla em tentativa de deter
avanço do Civic. Já a Ford acrescentou ar-condicionado ao Ka, o que o tornou o
mais barato modelo com esse equipamento entre automóveis pequenos. Veterano
Mille retomou a coroa de nacional mais acessível por R$ 21.990.
VOLKSWAGEN também mexeu no líder de vendas do mercado. Enquanto
o todo novo subcompacto up! é esperado para início de 2014, a marca se defende
das investidas dos rivais com Gol Rallye e Track, versões especiais de
suspensões (mais) elevadas. Primeiro tem motor de 1,6 L e o segundo, de 1 L,
ambos bem equipados. Preços puxados de R$ 48.580 e R$ 33.060, respectivamente.
LIFAN, marca chinesa agora divorciada do sócio brasileiro Effa,
coloca suas apostas na montagem uruguaia do X60, SUV compacto anabolizado.
Manteve a fórmula oriental de combinar máximo de recheio a preço baixo: R$
52.777. Inclui até navegador GPS, além de material de acabamento longe do
rústico. Estilo agrada e motor de 1,8 L/128 cv/16v está de bom tamanho.
SEGUNDO a Anfavea, mercado brasileiro é
disputado por 1.220 modelos e versões de 54 marcas, entre nacionais e
importadas (somados caminhões e ônibus, 62 marcas e 1.744 opções). Nesse nível
de oferta, os dias de estoques em fábricas, importadoras e concessionárias
terão que crescer para algo em torno de 30 a 35 dias.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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