Alta Roda nº 733/84 – 16/05/2013 |
Fernando Calmon |
Exportação parece um tema sem grande importância para quem
compra um automóvel produzido no Brasil. No entanto, esse é um motivo de
preocupação. Afinal, o que dá grau de competitividade à indústria
automobilística de um país é o seu nível de produção. O País é o quarto maior
mercado do mundo e apenas o sétimo maior produtor, justamente por ter perdido
sua capacidade de exportar.Impacto positivo das exportações significa aumento de escala
de produção. Isso, frequentemente, viabiliza tecnologias sensíveis a volume, em
especial as maravilhas da eletrônica de bordo para segurança e conforto, além de
melhorias de qualidade. No novo regime automobilístico Inovar-Auto estão
contemplados investimentos fortes em pesquisa e inovação, mas não há objetivos
claros para o mercado externo. Luiz Moan Yabiku Jr., novo presidente da
Anfavea, coloca como bandeira de sua gestão a recuperação das exportações até
2017.
Ter produto com bom preço no exterior passa, obviamente,
pela cotação do real. Tanto que em 2005, com câmbio favorável, quase 900.000
unidades (montadas e desmontadas), 35% da produção anual, deixaram os portos.
No ano passado, apenas 470.000 unidades saíram do país, 14% do produzido. A meta
para daqui a cinco anos é exportar 1 milhão de veículos (20% da produção).
Seria um incomum cenário de equilíbrio: 5 milhões de unidades em vendas
internas, 5 milhões produzidas, 1 milhão de veículos exportados e o mesmo tanto
de importados.
No ano passado o Brasil importou 795.000 veículos, 70% mais
do que exportou. Uma saída indica a desvalorização cambial – boa para exportar
e segurar importações –, porém só colocaria a sujeira do custo Brasil para
baixo do tapete. Um real fraco, por sua vez, aumenta os custos de certos componentes
sofisticados, que continuarão a vir do exterior e aplicados em produtos
nacionais.
Há várias sugestões de estímulos às vendas externas: simplificação
do processo aduaneiro, mudanças na legislação burocrática e retirada de encargos
fiscais indiretos ou invisíveis, na longa cadeia produtiva, estimados em quase
9%. Nenhum país se dá ao luxo de exportar impostos, típico cacoete brasileiro.
Alguns dos problemas históricos se concentram nos portos e o
governo enfrenta resistências para vencer o arcaísmo. Só agora alguns deles
passam a funcionar 24 horas por dia, fundamental para escoar volumes. Faltam, até,
pátios para estocagem de veículos. Faz pouco tempo a guerra fiscal entre os
portos estaduais, com desconto de alíquotas do ICMS, levava automóveis vindos
do exterior a reconquistar boa parte da competitividade perdida com o imposto
de importação. Em outros termos, desestímulo a quem produz internamente.
RODA VIVA
PARA fábrica de Betim
(MG), Fiat também reserva novidades, que a coluna antecipa. Cronograma refere-se
ao início de vendas. Começo de 2014: novo Fiorino (cara de novo Uno); um ano
depois, início de 2015, novo Doblò (projeto 263); segundo trimestre de 2015, o aguardado
subcompacto (projeto 344) sucessor do Mille. Strada cabine dupla de três portas,
fácil de produzir, ainda sem confirmação.
ALÉM da GM, que
já decidiu entrar no mercado de subcompactos (provável inspiração no sucessor
do Opel Adam), Renault também vai mergulhar nos modelos pequenos de uso urbano
preferencial. Projeto para o Brasil será específico, sem aproveitar quase nada
do Twingo francês. Assim o VW Up!, talvez ainda no final do ano, terá muita
concorrência à frente.
LEVANTAMENTO da
Anfavea indica: 62 marcas de veículos leves e pesados – total de 1.744 modelos
e versões – estão em lojas hoje. Compara-se apenas à China, estima a coluna. Ou
seja, opções de sobra, concorrência acirrada.
ESCALADA dos
juros básicos (Selic) não deve ser repassada para taxas do crédito ao
consumidor. Estas dependem bem mais da inadimplência (que resiste a cair) e da
disputa entre bancos e financeiras.
NOVO Maserati
Quattroporte, por R$ 950.000, ficou maior (5,26 m de comprimento) e ao mesmo tempo
apertado em nicho minúsculo do mercado. Impressiona pelos materiais internos de
acabamento, em especial na parte inferior do painel, além de itens de conforto.
Motor V-8, biturbo novo, de 3,8 L/530 cv/66,3 kgf∙m, apesar de 1.900 kg do
carro, confere 0 a 100 km/h em apenas 4,7 s.
IMPORTAÇÕES recuaram
25% no primeiro quadrimestre de 2013 frente a 2012, segundo Abeiva, associação de
empresas sem produção nacional. Por enquanto, a entidade não revisou suas
previsões. Há sinais contraditórios, como a recuperação em abril de suas
marcas, atribuída ao sistema de cotas do México que afetou, no mês passado, veículos
importados por associados da Anfavea.
LEITORES reclamam
que Detrans estaduais têm recusado, sistematicamente, cancelamento previsto em
lei de multas de classificação leve para bons motoristas, transformáveis em
advertência como viés educativo. Quem quer perder arrecadação? Depois negam existência
da indústria de multas. Conversa que não dá para acreditar, desmistificada por
fatos como esse.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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