Alta Roda nº805/155 – 09/10/2014
Fernando Calmon |
O
clima em sentido figurado do Salão
do Automóvel de Paris – que vai até 19 de outubro – estava tão morno
como a temperatura externa em torno dos 24 °C da semana passada. De fato, não
há tantas novidades, mas o que está sendo apresentado tem bastante relevância.
Mais do que isso, os governos europeus continuam a empurrar os fabricantes na
direção do menor consumo
de combustível e, por consequência, redução de emissão de gás
carbônico (CO2).
Na França há uma desafio governamental para os
carros novos convergirem para 50 km/l ou 2 L/100 km com motores a gasolina
preferencialmente. Citroën, Peugeot e Renault apresentaram modelos ainda
experimentais, embora o novo Passat GTE híbrido plugável (bem mais caro) tenha
estreado no salão com credenciais para alcançar 1,6 L/100 km no específico
ciclo europeu de consumo. Bem interessante é o Renault Eolab, carro-laboratório
que promete 100 km/l (gasolina) no futuro, diferença de apenas 10% em relação
ao VW XL1 a diesel, um 2-lugares vendido sob encomenda por estratosféricos R$
340.000.
Mais um carro esporte superlativo abraçou a
“causa” híbrida. O Lamborghini Asterión, para quatro passageiros, desenvolve
910 cv com a ajuda de três motores elétricos. No outro extremo, com motorização
convencional (versão elétrica em 2015), fica o minúsculo novo smart ForTwo
2-lugares, acompanhado pelo ForFour de quatro lugares. MINI também resolveu
esticar seu tradicional modelo de 2 portas para abrigar outras duas laterais,
que tiraram a pureza de linhas do modelo. Audi igualmente surfou nessa onda com
o Audi TT de quatro portas, por ora, apenas conceitual.
Monovolumes, lançados há 30 anos, continuam a
sofrer forte concorrência de SUVs e crossovers e precisam se reciclar. Casos do
Mercedes-Benz Classe B e do Ford S-Max (arquitetura Fusion/Mondeo). Renault
reagiu com o novo Espace, agora mais crossover do que monovolume. Peugeot
exibiu sua proposta para um futuro “quase-SUV”, o Quartz. Citroën, por sua vez,
preferiu apresentar o Divine DS, guia conceitual para a submarca que terá seis
versões (hoje, três), inclusive SUV.
Paris marcou a estreia do Fiat 500 X de mesma
arquitetura do futuro pernambucano Jeep Renegade. Pena que o 500 X não será feito
aqui, pois exibe linhas bem mais elegantes e suaves. Dois estreantes do Grupo
JLR despertam especial interesse para produção no Brasil: Land Rover Discovery
Sport (sucessor do Freelander) para até sete passageiros e Jaguar XE de tração
traseira e muitas partes em alumínio.
Entre outros lançamentos mundiais destacaram-se as
novas gerações do BMW X6 e Suzuki Vitara a serem importados em 2015.
Praticamente todos os executivos de topo costumam
estar nos grandes salões internacionais. Dieter Zetsche, da Daimler, afirmou a
essa coluna que a nova fábrica de Iracemápolis (SP) não ficará “amarrada” a
apenas dois produtos, dando a entender que outros (como o hatch Classe A) estão
nos planos. Carlos Tavares, da PSA Peugeot Citroën, acenou que a linha nova de motores
poderia incluir versão de 1 litro como decisão pragmática e confirmou ampliação
da linha DS importada da China ou da França. Carlos Ghosn, da Renault Nissan,
disse estar impressionado com a competitividade da produção no México.
RODA VIVA
Este ano está mais difícil que o
esperado em termos de vendas (exportações terão queda ainda maior em razão da
crise argentina). Média diária de julho a setembro cresceu 4% em relação ao
primeiro semestre, porém longe de compensar resultados negativos. Estoques totais
do mês passado davam para 41 dias de comercialização ou 20% acima do máximo
aceitável.
Pesquisa da Anfavea demonstra forte
interiorização do mercado brasileiro no últimos seis anos (2007 a 2013). Ao
contrário do pensamento corrente, grandes capitais têm frotas verdadeiras (não
as teóricas informadas pelo Denatran) acrescendo a ritmo muito lento. No caso
de São Paulo mal consegue acompanhar o crescimento vegetativo da população, já
bem baixo.
Duster reestilizado aparece no final
do mês no Salão do Automóvel de São Paulo, mas a coluna apurou que início de
produção só em fevereiro de 2015, seguido pela aguardada versão picape seis
meses depois. Quanto ao SUV compacto Captur (projeto HHA), esperado para início
de 2016, não é o modelo francês baseado no novo Clio. Aqui sua base será a
mesma do Duster.
Fiat adiou, mas não desistiu de
desenvolver motor de três cilindros – hoje só os de quatro e de dois cilindros
existem no portfólio da marca. Essa falha de planejamento, em especial para o
Brasil, será sanada com o projeto GSE, ainda sem data. Já a GM insiste: sem
planos para um 3-cilindros aqui, embora exista na Europa.
Estudos da Ford para produzir na
Argentina o utilitário esporte Everest, com mesmo chassi da picape Ranger, não
chegaram ao ponto de se transformar em plano primário. Com a situação econômica
e política cada vez mais difícil no país vizinho, a ideia foi descartada. O
Kuga então, SUV construído com base no Focus, nem pensar.
PERFIL
Fernando
Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e
consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de
comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É
publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda,
correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga
também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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