terça-feira, 7 de outubro de 2014

Wagner Gonzalez em Conversa de pista

Wagner Gonzalez

Chuva e acidentes marcam GP do Japão. Bianchi segue hospitalizado‏

Uma conjunção de fatores marcou de forma trágica o desenrolar do GP do Japão, disputado domingo em Suzuka. Apesar dos esforços em aumentar a segurança passiva e ativa da categoria, a F-1 por vezes se permite ser acusada de não tomar decisões corretas.

Que os interesses comerciais se sobrepõem várias vezes ante a razão e a frieza necessária em situações críticas, todos nós sabemos e temos exemplos variados de casos assim, inclusive na F-1. Nesta categoria, por exemplo, nunca, ou algo muito perto disso, um piloto perde a vida em um acidente que ocorra num autódromo italiano; conta-se nos dedos com unha quebrada da mão esquerda do vizinho quantas vezes uma corrida foi adiada ou cancelada por motivos de segurança. Em cerca de 20 anos seguindo a F-1 in loco a única que presenciei isto foi em 1985, quando o asfalto de Spa quebrava em vários pontos e a prova foi adiada. A decisão de postergar o GP belga foi tomada em um contexto relativamente tranquilo: fazia sol, o problema aconteceu durante os treinos e não houve acidente.

Quando ocorrem situações como as de Suzuka 2014 a atmosfera é outra: com o show em andamento é preciso controlar inúmeras frentes de batalha e os vários interesses em jogo. Nenhum desses interesses deve ou pode ser maior que a vida, fato consumado ou fora de questão, mas quem vive o automobilismo esportivo sabe que o processo de tomar essas decisões é complicado.

Tão complicado que o comandante-em-chefe da frota de submarinos da Otan para o Atlântico Leste, o contra-almirante Roger Lane-Nott,  foi considerado “prudente demais” para ser mantido no cargo de diretor de prova e delegado de segurança da F-1. Apaixonado por corridas (foi por muitos anos secretário do British Racing Drivers Club), Lane-Nott assumiu esses cargos na temporada de 1996, após deixar a marinha britânica, e pavimentou o caminho para novas medidas de prevenção. Sua postura, porém, foi considerada extrema e sua continuidade no cargo acabou implodida pelos poderes de então.

A F-1 não parou por causa disso e vários fatores que aumentaram a segurança passiva e ativa foram adotados e muitas vidas salvas. Ainda assim, mais forte que as possibilidades de acidentes é a certeza que quando estes ocorrem o mundo é inundado por uma enxurrada de críticas e dedos em riste como se todos soubessem o que fazer para evitar um fato consumado. É nesta hora que um dos preceitos básicos das investigações que ocorrem na indústria aeronáutica mostra a luz e o caminho: as investigações sobre a causa do acidente visam primordialmente descobrir causas e não apontar culpados.  Neste campo específico, quando um avião não cumpre o seu trajeto e sua finalidade de transportar pessoas com segurança a probabilidade maior é que isso ocorra por uma série de erros e falhas e não por um único e isolado fator.

É isto o que deve ser feito com relação ao acidente de Jules Bianchi e em qualquer outro que venha a ocorrer. Entre outros pontos a serem elucidados cabe descobrir por que um guindaste entrou em uma área onde, sabidamente, sua presença poderia criar situações como a que aconteceu com o piloto francês; saber dos pilotos se havia iluminação suficiente para enxergar poças d´água e diante das circunstâncias climáticas, por que não se encerrou a prova mais cedo. Mal a prova foi dada como encerrada e muitos espectadores japoneses deixaram o circuito, sem esperar pela cerimônia do pódio: a chuva forte e a aproximação de um tufão eram detalhes de conhecimento de todos.


Um espectador gravou a cena do acidente e o vídeo foi postado nas redes sociais: tente acessá-lo aqui, aqui e aqui. É bem possível que no momento da publicação desta coluna o material já tenha sido removido por ordem dos detentores de direitos de imagem do evento. Neles é possível ver que o Marussia de Bianchi, um conjunto que pesa 690 kg, mais 100 de combustível no momento da largada, desloca um guindaste que pesa várias toneladas após sair da pista em decorrência de uma aquaplanagem, mesma causa do acidente de Adrian Sutil ocorrido no mesmo ponto, poucas voltas antes.

Presente na cena do acidente enquanto comissários de pista recolhiam seu carro, Sutil comentou que “havia pouca luz e mal dava para enxergar as poças d´água”. Felipe Massa foi taxativo e lembrou que há cinco voltas gritava pelo rádio que  as condições da pista não eram seguras. O ponto mais interessante para ser discutido, porém, é outro: equipamento indispensável para a realização de treinos e corrida, os helicópteros de socorro estavam a postos, mas as condições de vôo não eram favoráveis, o que levanta a questão de se esta condição não seria suficiente para suspender a prova em andamento. Há informações não confirmadas de que havia condições de vôo e que a remoção de Jules Bianchi desde o centro médico de Suzuka até o Hospital Universitário de Tsu Mie foi feito por via terrestre por ser a melhor opção. Certamente a FIA e os poderes de fato da F-1 devem saber a realidade sobre isso. O que estes grupos vão divulgar é outra história. As medidas que eles vão implementar, isto sim, cabe a nós cobrar e divulgar.

Outra dobradinha Mercedes
Lewis Hamilton e Nico Rosberg fizeram mais uma dobradinha para a equipe Mercedes, com Sebastian Vettel completando o pódio. Vettel movimentou as manchetes do fim de semana ao anunciar seu desligamento da Red Bull ao final da temporada. Embora ele não tenha anunciado seu endereço para 2015, é voz corrente que ele substituirá Fernando Alonso na Ferrari. O anúncio do desligamento de Alonso poderia ter acontecido em Suzuka, porém seu abandono da prova por pane eletrônica e o acidente com Jules Bianchi, nome ligado ao programa de jovens pilotos da Scuderia, podem ter cancelado esse esclarecimento.

O russo Daniil Kvyat já foi confirmado como substituto de Vettel, o que reforça as especulações sobre um possível retorno do espanhol à McLaren. Com a promoção de Kvyat aumentam as chances do brasileiro Felipe Nasr conseguir uma vaga de piloto oficial no ano que vem, na Toro Rosso (atual time do russo) ou em outra equipe pequena ou média.

Falece Andrea De Cesaris
Piloto romano de estilo arrojado e conhecido tanto por seus inúmeros acidentes quanto por seus tiques nervosos, Andrea De Cesaris faleceu na tarde de domingo, consequência de um acidente com sua moto quando percorria o anel viário de Roma na região de Bufalotta. Personagem carismático e bastante querido no automobilismo mundial, De Cesaris ganhou o apelido de “De Crasheris” pela frequência com que saía da pista nos 208 GPs que disputou pelas equipes Alfa Romeo (1980, 1982/3), Ligier (1984/5), Minardi (1986), Brabham (1987), Rial (1988), Dallara (1989/90), Jordan (1991, 1994), Tyrrell (1992/3), Sauber (1994) e, particularmente na McLaren (1981), onde bateu em praticamente todas as etapas que participou.

Em uma das inúmeras vezes que o entrevistei sempre estive frente a um piloto afável, generoso e agradável, o que me permitiu comentar sobre seus tiques nervosos e sua pilotagem. “Eu não noto nada disso quando estou pilotando”, foi sua a resposta com cores de sinceridade e tons de bom humor. De Cesaris conseguiu seus melhores resultados nas pistas internacionais no ano em que fez parte do melhor momento da equipe Lancia no Campeonato Mundial de Protótipos,  programa comandado por Cesare Fiorio. Afastado das pistas, trabalhava no mercado financeiro durante boa parte do ano; no tempo restante praticava windsurfe (“Esporte que me dá tanta adrenalina quando a F-1”.

Interlagos e funk
Notícia veiculada pela imprensa nas últimas semanas, as festas de funk programadas para o autódromo de Interlagos podem ter sido um elemento de campanha política que terá o fim conhecido de promessas de época de eleição. Segundo consultas feitas a fontes da Câmara Municipal e da SPTuris, tudo leva a crer que a notícia teria sido plantada pelo candidato Netinho de Paula e divulgada à revelia. As mesmas fontes acreditam que as chances desse programa acontecer são “no máximo, mínimas”. Espera-se que os atuais líderes municipais, já famosos pela falta de planejamento e soluções esdrúxulas prestadas à população, confirmem que o autódromo paulistano continue sendo usado para os fins a que se destina: a prática de esportes a motor.

WG

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