Alta Roda nº821/171– 29/01/2015
Uma das características menos virtuosas que um povo
deve evitar é adiar decisões. Os governos do nosso país parecem cultuar com
fervor um velho ditado da política – ilustrado no título desta Coluna – que
pode até ser moderadamente aplicado por razões momentâneas. Quem desconhece a
lei que não “pega” ou, pior, a lei sem regulamentação e, portanto, de efeito
prático nulo? Sem contar a proibição de algo com ausência de penalização que se
transforma em letra-morta.
Neste começo de ano, apenas no setor
automobilístico, há pelo menos 10 pendências que migraram de 2014 ou mesmo de
mais de uma década atrás. É a cultura insuportável da postergação sem fim:
-Inspeção técnica veicular (ITV), que inclui
segurança e emissões simultaneamente, já deveria estar implantada na maioria
dos Estados há quase duas décadas. ITV em bases sérias e não apenas pró-forma
vem sendo postergada em jogo de empurra entre Executivo e Legislativo federais.
-Inspeção veicular ambiental em São Paulo foi
temporariamente suspensa há dois anos. Apesar das promessas da prefeitura de
que voltaria em 2014, até agora nada. A reformulação de periodicidade e a frota
inspecionável estão corretas, mas não o adiamento.
-Obrigatoriedade de troca do quase inútil extintor
de (princípio) de incêndio para o novo tipo de pó (ABC) foi anunciada há cinco
anos para 1º de janeiro de 2015. A data chegou e... tome mais 90 dias de prazo.
Para que serviram os outros 1.825 dias?
-Decidiu-se lançar no seu registro de
licenciamento anual, a partir de 2014, os veículos que não atendessem aos
chamados para troca de peças defeituosas ligadas à segurança. Muitas vezes o
motorista esquece, adia ou não pôde ser informado. Alegação para não implantar:
informações pouco robustas...
-Dez entidades e sindicatos do setor
automobilístico, em novembro de 2013, propuseram ao governo federal um programa
de substituição de caminhões com mais de 30 anos de uso. “Em estudos, por falta
de recursos”, espera-se um programa-piloto este ano.
-Instalação compulsória (contratação do serviço,
opcional) de rastreadores em todos os tipos de veículos novos já se adiou por
quatro vezes. Exigência descabida e sem eficiência para inibir furtos e roubos,
acredita-se que será revogada depois de só causar prejuízos.
-Passou 2014 e nem o Contran e nem os fabricantes
avançaram na proposta de itens de segurança de baixo custo com prazo de até
cinco anos: fixação Isofix para bancos infantis, cintos retráteis no banco
traseiro, monitoramento de pressão de pneus (via ABS) e controle de
estabilidade (ESC).
-Governo Federal induziu, ano passado, a melhoria
no consumo relativo de etanol (ponto de equilíbrio de 70% para 75% frente à
gasolina) em motores flex. Sem estímulos anunciados até agora, ninguém se
mexeu.
-Também de novembro de 2013 é a proposta de
aumento de exportações. O Brasil já perdeu para o México, em 2014, a sétima
posição na classificação mundial de maiores produtores justamente por exportar
menos. Programa Exportar-Auto ainda se arrasta na esfera federal.
-Contran precisa, por meios estatísticos, revisar
dados inflados em cerca de 30% da frota nacional de veículos. Parece que há a
intenção, mas nunca sai do papel. Até quando?
RODA VIVA
BRIGA pela posição de hatch mais vendido em 2014 entre
Fiat e Volkswagen (Palio+Palio Fire x Gol), em que a primeira levou a melhor,
se estendeu ao ranking dos mais econômicos neste início de ano. Segundo o
Inmetro, o VW up! venceu entre carros com ar-condicionado e direção assistida, seguido
pelo Uno Evolution e Ka. Entre os 10 primeiros, dois modelos da Fiat e dois da
VW.
NOVENTA anos
da GM no Brasil foram marcados com inauguração esta semana do novo centro
logístico de abastecimento dentro de sua fábrica mais antiga, a de São Caetano
do Sul (SP). Área que estoca 4 mil itens de peças, além de gerenciamento de
conceito avançado para a indústria, surgiu da “desconstrução assistida” de
velhos galpões existentes há décadas.
PEUGEOT RCZ
é daqueles carros esportivos derivados de arquitetura de alta produção (no
caso, o 308) que impressionam aonde chegam. Cupê de 2+2 lugares tão ousado como
Audi TT, tem direção e suspensões de calibragem mais firme que estimulam uma
tocada rápida, mas responsável, e inclui aerofólio autorregulável com a
velocidade. Para seus 165 cv tem preço bem razoável: R$155.090.
SAIU o
ranking dos 10 modelos mais vendidos na Europa em 2014, segundo a Focus2Move.
Mais uma vez Golf venceu por margem de 66% sobre o segundo, Polo. Depois,
vieram Clio, Fiesta, Corsa, Focus, (Nissan) Qashqai, (Skoda) Octavia, 208 e
Astra. Pela primeira vez aparece um carro da Skoda e nenhum da Fiat.
CORREÇÃO: Na classificação dos veículos de maior venda no Brasil em
2014, tabulada pelo critério desta Coluna, Jeep Grand Cherokee foi
reclassificado como SUV grande e se posicionou em terceiro lugar, atrás de
Pajero Full+Dakar e Edge.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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