Alta Roda nº 912/262 – 28 /10 /2016
Fernando Calmon |
Que o futuro dos automóveis deve ser elétrico,
poucos duvidam. O problema é saber quando e como isso deve acontecer. Há dois
meses um dos países mais engajados nos incentivos para a substituição dos
motores a combustão, a Noruega, desmentiu haver algum prazo ou obrigatoriedade.
No país nórdico carros elétricos são isentos de impostos de compra, de
circulação e de pedágio urbano. Podem transitar nos corredores de ônibus, e
recebem recarga e estacionamento gratuitos.
Semana passada uma proposta no parlamento alemão de impedir a venda de
automóveis a gasolina ou diesel no país a partir de 2030, foi interpretada aqui
como favas contadas. Não é bem assim. A aprovação depende ainda de muitos
fatores, inclusive de um acordo geral com a União Europeia. Afinal, o mercado
automobilístico alemão responde por um quarto de todo o continente, ao
contrário do norueguês, que mal passa de umas gotas em um copo.
O avanço da tração elétrica tem mais impedimentos do que simplesmente baixa
autonomia, tempo de recarga ou de como se obtém a essa energia, entre outros.
Apenas um dos fatores limitantes, o custo da bateria, parece caminhar melhor.
Segundo a consultoria Bloomberg, seu preço em US$/kWh caiu 65% entre 2010 e
2015, devendo ir bem abaixo disso na próxima década. A reciclagem em massa das
baterias, porém, não apresenta ainda uma equação financeira plausível.
Até mesmo o modelo de negócio do carro elétrico carece de contabilidade
precisa. A Faraday, que apresentou seus planos no começo do ano e conseguiu
incentivos do estado americano de Nevada, está com obras e contas atrasadas. A
Tesla, do bilionário e visionário Elon Musk, acumula prejuízo há 13 trimestres
consecutivos. Mas isso não impedirá que seu Model S esteja no Salão do
Automóvel de São Paulo, entre 10 e 20 de novembro próximo, e possa até ser
testado na pista fechada do São Paulo Expo.
Voltando à Alemanha, o país tem uma meta menos ambiciosa de colocar nas ruas um
milhão de carros elétricos até 2020 à custa de um pesado subsídio de 5.000
euros (cerca de R$ 20.000) por veículo. Essas contas tendem a não fechar, pois
no ano passado foram vendidos no país apenas 30.000 unidades ou 1% do total
comercializado. Reconhecido pelo rigor fiscal nas contas públicas, precisam
combinar antes com o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble...
EUA e França também construíram programas de incentivos ou de abatimento de
impostos a pagar para incentivar o uso de energia alternativa por parte dos
consumidores. Como o elétrico ainda é um produto muito mais caro do que um
carro convencional, grandes avanços técnicos ocorrem hoje nos motores a combustão
e há poucos indicadores de o preço dos combustíveis fósseis voltar a patamares
muito elevados, fica difícil um comprador tomar sua decisão em meio a tantas
indefinições.
O fato real é que ninguém sabe quanto tempo vai durar a transição. Grandes capitais
europeias podem, de fato, criar zonas centrais de exclusão para veículos com
motores apenas a combustão. Mais prudente seria incentivar os híbridos, que
apresentam custos mais palatáveis e significam opção com os pés no chão.
RODA VIVA
FABRICANTES, como Honda, têm suas próprias metas para 2030. A previsão é
objetiva: 50% de sua produção se concentraria em carros elétricos a bateria e
híbridos (não informou em que proporção), 15% de elétricos com pilha a
hidrogênio e 35% com motores a combustão exclusivamente. Estes motores estarão
ainda nos híbridos e, portanto, vão longe...
OUTRA previsão, dessa vez da Honeywell/Garrett, indica que em cinco anos
veículos leves com motores turbo passarão de 20% para 30% na América do Sul. É
mais desempenho com menor consumo de combustível. Já existem vários modelos de
alto volume, produzidos aqui e na Argentina, exclusivamente turbos: VW Jetta e
Golf, Chevrolet Cruze, Citroën C4, Peugeot 308 e 408.
NOVO Mercedes-Benz Classe E está mais requintado e aerodinâmico com Cx de
apenas 0,23. Versão E250 (2 L/211 cv) ficou 65 kg mais leve e assim diminuiu
consumo de combustível. Dos recursos de direção semiautônoma destacam-se
controle ativo de cruzeiro até 210 km/h e assistente de manutenção dentro das
faixas entre 60 e 200 km/h. Preços: R$ 309.900 a 325.900.
VOLVO XC90 oferece no Brasil, pela primeira vez entre os SUVs, o mais
avançado dos seus sistemas semiautônomos: permite acelerar, frear e a
movimentar o volante a até 130 km/h, mesmo sem seguir um carro à frente. Mas o
motorista deve manter sempre as mãos no volante. Também aciona os freios se
tentar virar à frente de outro carro em sentido contrário.
DENATRAN continua com sua incoerência. Não é mais preciso que o agente de
trânsito use um decibelímetro para constatar excesso no nível sonoro musical de
um carro. Mas milhões de veículos continuam a rodar com películas escurecedoras
nos vidros dianteiros, ilegais e perigosas, principalmente à noite e em locais
escuros. Em Brasília, então, nenhuma “autoridade” segue a lei.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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