Alta Roda nº 911/261 – 20 /10 /2016
Fernando Calmon |
Talvez a melhor imagem para explicar as interações entre
as crises políticas e econômicas que assolam os países seja a de uma dupla nos
ralis. O piloto pode fazer o papel dos políticos e governantes, enquanto o
navegador representa a economia. Quando o navegador diz “freada forte e curva
acentuada à direita”, por exemplo, ai do piloto que não confiar. O carro vai se
acidentar e termina tudo ali.
Durante o congresso Perspectivas 2017, realizado recentemente em São Paulo pela
Autodata, mais de um palestrante bateu nessa tecla. Não se resolvem problemas
de recessão, desemprego, baixo índice de confiança e financiamentos difíceis
sem obediência ao “navegador”. O conhecido código tulipa das planilhas de ralis
significa as leis de mercado. Não dá para sair dessa trilha e achar que ganhará
a prova.
Faltou consenso sobre a velocidade de retorno do carro à competição, depois de
consertado. A começar por Letícia Costa, da consultoria Prada, que previu algo
entre crescimento zero e até 5%. Ela mesma se classificou como cautelosamente
otimista. Rogélio Golfarb, da Ford, lembrou que pela primeira vez o mercado de
veículos cai por quatro anos seguidos (2013-2016), totalizando 46%. A crise de
1980-1981, com menos 43%, custou um período de 12 anos para recuperação.
Momento atual é dramático, pois pegou todos os fabricantes, novos e antigos, no
fim de um ciclo de altos investimentos em capacidade produtiva. A ociosidade de
50% (considerando três turnos de produção) cairá lentamente nos próximos anos.
A fase de lucros se transformou em prejuízos. Há alguns ventos a favor: melhora
da confiança, recuo da inflação e da taxa de juros básica e crescimento do PIB
em 2017.
Barry Engle, da GM, não se intimidou. Acha possível crescer entre 12% e 14% no próximo
ano, acima da melhor previsão até agora, a da Anfavea, que acenou com uma
subida em torno de 8%. Entre os motivos do otimismo citou o rápido
envelhecimento da frota brasileira. Pode não valer mais a pena deixar de trocar
o carro, em especial se sinais políticos positivos se confirmarem.
Para David Powels, da Volkswagen, só marcas muito pequenas desistiram do
Brasil. Entre 2017 e 2019 terá quatro modelos do segmento compacto com a
arquitetura mais moderna do Grupo VW, que encerrou o primeiro semestre deste
ano como líder mundial em vendas. Esses carros ainda não existem nem na
Alemanha. Os produtos esperados são Gol, Voyage, Parati e um novo crossover que
possivelmente se chame Fox.
Talvez a empresa a sentir menos a crise brasileira destes anos, Miguel Fonseca
afirmou que a Toyota olha uma década à frente. Foi além: em 2030 acredita que
40% dos carros da marca, aqui vendidos, serão híbridos com motores flex.
Stefan Ketter, da FCA, discorreu sobre as dificuldades de prever o ritmo de
recuperação no próximo ano. Acredita, porém, que em 2020 podemos voltar aos 3
milhões de veículos comercializados, ainda distantes dos 3,8 milhões de 2012.
Em resumo, o País enfrenta sérios problemas de produtividade e ineficiência
decorrentes de infraestrutura, burocracia e cipoal tributário. Precisa voltar a
ser competitivo na exportação e mais aberto ao mundo. Quem sabe, um dia
ganharemos esse rali.
RODA VIVA
APENAS aqui repercutiu de forma tão forte uma pequena nota da revista
alemã Der Spiegel, dando conta de que a Alemanha proibiria fabricar carros com
motores a combustão depois de 2030. Pura bobagem. Não passa de uma proposta que
nem foi aprovada no Parlamento e também depende de acordo com a União Europeia.
Chance de acontecer nesse prazo: zero.
ENQUANTO movimentações e apelos contra os combustíveis de origem fóssil
ocorrem, em especial na Alemanha, continuam as indefinições sobre o etanol
(praticamente neutro em termos de pegada de carbono) no Brasil. Stefan Ketter,
presidente da FCA, voltou a chamar a atenção para essa oportunidade
desperdiçada durante o Congresso Perspectivas 2017.
IMPENSÁVEL há uma década, câmbio automático chegou às picapes compactas
com a Duster Oroch. Combinado apenas ao motor 2-litros, a picape anabolizada da
Renault, primeira de quatro portas entre as pequenas, vai bem no para-e-anda do
trânsito. Mesmo tendo apenas quatro marchas, nesse tipo de veículo apresenta
comportamento razoável.
FARÓIS principais em LED prometem novos avanços. Hoje estão limitados
porque os emissores de luz são individuais, precisam estar agrupados e ocupam
espaço só disponível em carros grandes. Agora começam a aparecer os primeiros
chips com 1.024 pontos controláveis de luz. Resultado: resolução ainda maior,
sem risco de ofuscamento e dimensões bem menores.
PICAPES de cabine dupla com aros e pneus bem caros têm sido alvos de
quadrilhas. Levantam o veículo pela lateral com ajuda de um macaco, retiram
duas rodas e vão embora deixando o macaco para trás. Atacam à luz do dia e
total destemor. Pior do que o furto é saber que há receptadores fáceis de
encontrar, os grandes “espertos” nesse tipo de crime.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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