Alta Roda nº 1021/371 – 29/11/2018
Fernando Calmon |
O carro e o
jovem
Uma vertente entre analistas de mercado vem, nos
últimos tempos, colocando em xeque o desejo natural e verdadeiro de utilizar o
automóvel como meio de locomoção tanto em cidades quanto para viajar. Há quem
“decrete” que este meio de deslocamento já iniciou o seu declínio e, dentro de
uma a duas décadas, já não atrairá em nada os mais jovens. Apesar de nem no
exterior existir consenso, isso tem sido comentado também no Brasil depois que
estatísticas apontaram uma queda na emissão de novas carteiras de habilitação.
Entretanto, há muito “achismo” sobre esse tema. Uma empresa de pesquisa
presencial, a Spry, partiu para entender a fundo esse assunto por meio de um
trabalho denominado Mobilidade através das gerações. Foram 1.798 entrevistas em
11 capitais brasileiras. Público-alvo foi dividido, seguindo critério de idade,
em quatro gerações: BM (baby boomers), 56 anos ou mais, e as gerações X (36 a
55 anos), Y (26 a 35 anos) e Z (25 anos ou menos).
A pesquisa é longa e inclui diversas formas de as pessoas se deslocarem dentro
das cidades: a pé, de bicicleta, carro particular, moto particular,
táxi/aplicativo, ônibus e metrô/trem. O perfil dos entrevistados seguiu, em
linhas gerais, a segmentação de gênero, escolaridade e renda das estatísticas
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas 60% dos
participantes não possuíam carro.
As vantagens de cada meio de transporte estão relacionadas ao estilo de vida e
ambiente nos quais estão inseridos os entrevistados. Não existe consenso sobre
como será o futuro do automóvel, independentemente das gerações. As quatro (BM,
X, Y e Z) somente concordam em um ponto: ele não se tornará um bem esquecido
(apenas 3% citaram essa resposta).
Em entrevista exclusiva à Coluna, o diretor da Spry, Pedro Facchini, ressaltou
que o automóvel representará 66% das preferências de deslocamento dos
brasileiros no futuro por meio de posse ou compartilhamento (diferentes
aplicativos, inclusive de caronas, e até táxis). Outras conclusões:
“Só 5% das pessoas responderam que por motivos ambientais deixariam hoje de adquirir
um veículo; a maioria parou de comprar carros apenas pelos custos envolvidos e
a queda de renda; um dos maiores empecilhos para a geração Z tem sido o
processo de habilitação, bem mais longo e caro do que costumava ser há 30 ou 40
anos. Isso vem obrigando os mais jovens a adiar a obtenção da CNH. Quando
conseguem a carteira, ainda têm a opção de apelar para os carros dos pais ou
familiares”, explica.
A pesquisa apontou claramente: 90% da geração Z pretende se habilitar e
adquirir um automóvel à semelhança das três gerações mais velhas. Porém,
decerto, será pela praticidade e conforto ao se deslocar. Não citam tanto entre
os motivos o status como ocorria, muitas vezes, 50 anos atrás.
De fato, o processo de interação entre o jovem e o automóvel tem enfrentado
alguma lentidão, menos por falta de interesse e mais em razão de limitações
financeiras. Bem ao contrário do que se costuma apregoar que a juventude está
“desligada” do automóvel. Nada como uma boa pesquisa para apontar falsas
verdades hoje cristalizadas.
ALTA RODA
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HYUNDAI E CAOA chegarão a um acordo até o fim deste ano nas
operações de importação. Não serão contratos renováveis a cada dois anos, como
querem os sul-coreanos, nem por dez anos como exige o grupo brasileiro. Algo
como três ou quatro anos é o mais provável. Hyundai pretende construir fábrica
de motor e transmissão na Argentina para intercambiar com o Brasil.
SEDÃS estão mesmo em queda livre nos Estados Unidos.
Depois da Ford, a GM anunciou a descontinuação de vários modelos, inclusive do
Chevrolet Cruze, na América do Norte. A empresa decidiu cortar investimentos em
motores convencionais e até híbridos, focando em elétricos, o que envolve
riscos que ela julga calculados. Na América do Sul, Cruze e outros continuam
nos planos.
APESAR de continuar sob suspeita e também ter sido
demitido, no início da semana, do cargo de executivo da Mitsubishi (Nissan tem
participação controladora nesta marca e não a Aliança com a Renault), o
franco-brasileiro Carlos Ghosn ainda não pôde dar sua versão pública dos fatos.
A agência japonesa NHK, sem revelar fontes, informou que ele negou acusações da
promotoria.
POR R$ 198.500, a décima geração do Honda Accord
chegou ao Brasil. Novo motor 4-cilindros turbo de 256 cv substitui o V-6 e
permitiu encurtar o comprimento e até ampliar o espaço interno (entre-eixos
ganhou expressivos 5,5 cm). É o primeiro sedã de tração dianteira no mundo com
câmbio automático de 10 marchas: a 100 km/h o motor sussurra a apenas 1.500
rpm.
VW VIRTUS foi eleito Carro do Ano 2019 pela revista
Autoesporte. Premium: Volvo XC40 (R$ 100.000 a R$ 200.000); Superpremium: Ford
Mustang (acima de R$ 200.000); Motor abaixo de 2 litros: Mercedes-Benz C200;
Motor acima de 2 litros: Ford Mustang; Marca digital: Renault; Marca verde:
BMW; Executivo: Carlos Alberto de Oliveira Andrade (Caoa). Prêmios UOL Carros
2018 foram para Toyota Yaris, Citroën Cactus, VW Tiguan, Ford Mustang, Volvo
XC40 e VW Amarok.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do
twitter: www.twitter.com/fernandocalmo fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2
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