Circuitos
de rua: Macau em destaque
Todo o
empenho em promover o esporte e explorar todas as possibilidades que um evento
de grandes possibilidades oferece é sempre trucidado pela opinião pública
quando o inevitável dá as caras. O acidente envolvendo a alemã Sophia Flörsch
na quarta volta do GP de F-3 de Macau, há anos a corrida mais importante da
categoria em todo o mundo, foi o estopim para que temas como segurança e
circuitos de rua fossem novamente explorados em viés nem sempre sensato. O que
merece atenção neste momento, além da óbvia recuperação daqueles fisicamente
atingidos, são a investigação da dinâmica do acidente e trabalhar para que
futuras situações semelhantes tenham consequências menores em todos os sentidos.
Antigo
enclave português situado em uma ilha bastante próxima a Hong Kong, Macau
ganhou notoriedade internacional graças a Teddy Yip (1907-2003), um empresário
do ramo de entretenimento que era fanático pelo automobilismo a ponto de
financiar a carreira de vários pilotos e ter tido sua própria equipe de F-1, a
Theodore Racing. Seu entusiasmo sempre foi a mola mestra para o governo local promover
um festival de que reúne carros das categorias Fórmula, GT e Turismo, além de
motos, para disputas no peculiar Circuito da Guia. Traçado que mede 6,2 km por
avenidas largas e ruas incrivelmente estreitas, sua maior característica é a
curva Melco, tão fechada que, não raramente, vê-se pilotos dando marcha-a-ré
para poder seguir viagem.
Apesar de todo o esforço e
empenho dos seus organizadores, as condições gerais não podem ser consideradas
como de “estado da arte”, reflexo das possibilidades financeiras de Macau e da
própria topografia local. É lícito comparar o Circuito da Guia ao da Ilha de
Mann, o verdadeiro graal dos motociclistas puros. Da mesma forma, isso não dá
em hipótese alguma carta branca para que a segurança de competidores,
espectadores e profissionais do esporte sejam expostos a condições de segurança
de menor nível.
Dentro
desse quadro, o que merece ser repensado com muita atenção é a exploração cada
vez maior do uso da aerodinâmica em automóveis de alto desempenho, sejam ele de
competição ou de uso nas ruas e estradas abertas ao público. Projetados para
explorar tal ciência quando operados em pisos ideais – ou seja, lisos e planos
como uma mesa de bilhar -, a aderência ao solo desses veículos pode se
transformar em catapulta em consequência dos desníveis e ondulações que
permeiam as vias de trânsito. Em um mundo onde o funcionamento de carros
semiautônomos depende da padronização de marcações das faixas de rolamento e
dimensões e instalações de sinais de trânsito até mesmo em países ditos do
primeiro mundo é difícil encontrar tal cenário de maneira abrangente.
Encontrar
o piso adequado para desfrutar o desempenho de super GTs por motoristas
licenciados apenas pelo poder aquisitivo é tarefa que se torna cada vez mais
difícil quando se nota que os fabricantes não hesitam em disponibilizar seus
modelos de alta prestação onde
quer que o consumidor queira desfruta-los.
Ensinar seu consumidor a desfrutar das qualidades de tais produtos seria uma
atitude que, se adotada mandatoriamente e não como um sub-produto de caráter
opcional, seria algo muito bem-vindo.
Em um mundo onde até mesmo
eventos de F-1 tornam-se inviáveis por exigências cada vez maiores, fica mais
fácil entender que adequar os carros, sejam eles de competição ou de uso
diário, às condições do mundo enfrentado por condutores do dia a dia seja mais
viável e consequente do que o inverso. Se adotada de maneira sensata esta
solução não vai aniquilar o automobilismo esportivo, muito menos a emoção que caracteriza
o esporte.
Sophia Flörsch se recupera
Jovem
alemã que este ano emigrou da F-4 para a F-3, Sophia Flörsch foi submetida a
uma cirurgia de sete horas realizada para reparar as consequências de um choque
contra um palanque que servia posto de trabalho para comissários de pista e
fotógrafos. A operação para reparar a fratura da coluna vertebral foi
considerada um sucesso e sua recuperação deve durar cerca de 20 dias até que
ela possa retornar ao seu país. A instalação montada na curva do Hotel Lisboa
foi atingida pelo monoposto de Florsch a uma velocidade estimada de 276 km/h
depois que seu carro chocou-se contra o de dois adversários.
As causas
do acidente ainda não ficaram claras, porém pode-se estudar neste
vídeo, nestee neste
outro a
dinâmica do acidente. Sabe-se que ela chocou-se contra a traseira do carro de
Jehah Daruvala na reta principal do circuito; o piloto indiano teria reduzido
demasiadamente a velocidade ao notar bandeiras amarelas. Como consequência, seu
carro perdeu as duas rodas do lado esquerdo, rodou e chocou-se contra o
guard-rail do lado direito da pista. Uma zebra instalada no local para mitigar
disputas arriscadas de carros de turismo e grã-turismo na tomada de curva
provocou a decolagem do F-3 de Florsch, que em seguida chocou-se contra o
santântonio do carro do japonês Sho Tsuboi e alçou voo contra a barraca onde
estavam o comissário de pista Chan Cha In e os fotógrafos Chan Weng Wang e
Hiroyoki Minami, todos feridos pelos destroços do Dallara-Mercedes número 25
inscrito pela equipe holandesa Van Amersfoort, além de outros profissionais.
A condição relativamente
frágil dessa instalação absorveu boa parte do impacto e colaborou diretamente
para diminuir as consequências do impacto. Tivesse ido de encontro ao
guard-rail ou em direção a uma construção em concreto o choque teria causado
danos físicos imensamente maiores. O britânico Tom Ticktum venceu a corrida
pelo segundo ano consecutivo, resultado que consolida seu potencial como
próximo inglês a aportar no universo da F-1.
Farfus volta a vencer
Dias após
anunciar sua mudança do DTM para a categoria GT, o brasileiro Augusto Farfus
(BMW M6 GT3) voltou a vencer: ele largou na pole-position e dominou a corrida
onde o italiano Rafaelle Marciello (Mercedes AMG GT3) foi seu principal
adversário. Foi a segunda vitória do paranaense no Circuito da Guia, onde
triunfou em 2009 e marca a história esportiva da marca bávara: além de
confirmar Farfus como um dos seus pilotos de primeira linha na categoria GT,
também foi a última aparição de Charly Lamm como chefe da Schnitzer, empresa
que cuida de boa parte do programa esportivo da BMW. Seu posto será ocupado por
Herbert Schnitzer Junior, filho do fundador da empresa.
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