No mundo da engenharia automotiva existe um grupo de
elite de pilotos de teste – chamado Tier 4 –, que reúne a nata da categoria.
Eles são os únicos com permissão para acelerar até o limite máquinas de mais de
500 cv, como o Shelby GT500 e o Ford GT. A Ford tem apenas 20 pilotos com essa
certificação no mundo e um único na América Latina, Luis Gozzani, engenheiro
paulista que trabalha no Campo de Provas de Tatuí, no interior paulista.
“Quando eu tinha 3 anos, meu pai tinha uma moto esportiva
e me levou em cima do tanque para dar uma volta. No meio do passeio, ele deu
uma acelerada forte e aquela cena ficou gravada na minha memória pelo resto da
vida. Ainda me lembro do ronco do motor, da sensação de aceleração e do vento
no rosto. Acho que neste exato momento meu destino foi selado”, ele conta.
Luis Gozzani atua na Engenharia de Veículos da Ford desde
2005 e é um exemplo da paixão que os profissionais do Campo de Provas de Tatuí
têm pelo seu trabalho. A instalação é a pioneira do gênero no Brasil e está
comemorando 40 anos de operação.
Como engenheiro de desenvolvimento, Gozzani participa da
avaliação de todos os atributos dos carros. Além dos testes de pista, seu
trabalho envolve também a parte burocrática de engenharia, análise de riscos de
segurança e treinamento de outros pilotos.
Depois de correr de kart na adolescência, ele se formou
em Engenharia Mecânica e participou de campeonatos estudantis de protótipos.
Também trabalhou em uma oficina de competição, atuando como mecânico no box em
provas de longa duração, como as 1.000 Milhas de Interlagos. A Ford foi seu
primeiro emprego, onde pôde seguir a vocação e participar de treinamentos para
chegar ao nível Tier 4.
“O Campo de Provas é uma extensão da minha casa. Eu faço
o que gosto, que é levar os carros ao extremo para garantir a segurança e o
prazer de dirigir do consumidor”, diz.
Níveis de pilotagem
Na classificação dos pilotos, o nível Tier 1 identifica
um motorista comum. Como Tier 2, o piloto já pode realizar testes veiculares na
pista, como aderência lateral e longitudinal dos pneus a até 160 km/h. Ao Tier
3 é permitido, por exemplo, fazer slalom e rodar acima do limite de
aderência a até 220 km/h. Para um Tier 4, teoricamente não há limites. Para
chegar lá é preciso ser indicado por um comitê de pilotos desse nível e fazer
um treinamento especial de 10 dias em Dearborn, nos EUA – que foi criado nos
anos 2000 com a ajuda do piloto Jackie Stewart.
“Esse treinamento é totalmente prático. São
avaliados o perfil do piloto, seu controle sobre o veículo e realizadas provas
de tempo e velocidade, entre outras. Além disso, o Tier 4 deve estar preparado
para treinar outros pilotos”, explica Gozzani.
Segundo ele, a pilotagem nesse nível assume um caráter
totalmente diferente do convencional. “Quando uma pessoa está ao volante,
ela usa quase todo o cérebro para dirigir. No nosso caso, precisamos
tornar a tarefa de pilotar automática para poder focar a atenção nos
componentes do carro que estamos avaliando.”
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