Alta Roda nº 1047/347– 30/05/2019
Fernando Calmon |
Fusões
inevitáveis
A notícia era esperada, mas causou agitação no
mundo da indústria automobilística. No início da semana, a proposta da FCA de
se fundir com a Renault refletiu a atual e gravíssima pressão de custos do
setor. Embora a marca francesa deixasse transparecer uma posição mais passiva
que ativa, admitiu publicamente estudar a fusão.
Há algumas implicações em aberto. Olhando com profundidade o que ocorre hoje na
Europa, a Renault está mais bem estabelecida na maioria dos mercados quanto aos
automóveis, mas não produz SUVs de raiz como a Jeep nem uma gama de picapes, a
exemplo da RAM. FCA, por sua vez, apresenta situação financeira algo mais
delicada e se atrasou nos pesados investimentos exigidos em elétricos e
conectividade, além de depender da Waymo (Google) para veículos
autônomos.
Por sua vez, a Renault tem participação do governo francês. Se este já foi
contra uma fusão com a Nissan/Mitsubishi sem que os franceses dessem as cartas,
o que diria da FCA? Aliás, nem mesmo se sabe o que acontecerá à aliança franco-nipônica
sem a mão de ferro do executivo Carlos Ghosn, responsável pela união, mais
tempo que o esperado, de culturas tão diferentes. Uma integração
franco-italiana significaria, também, vicissitudes históricas a superar. No
Brasil, a Fiat apresenta posição de mercado mais forte que a Renault, ao
contrário da Europa.
Como já comentado aqui, a irreversível consolidação de grupos automobilísticos
ainda reservará surpresas adiante. Apesar dos desmentidos e do Brexit, a PSA
(Peugeot-Citroën-Opel) reúne mais complementaridade com Jaguar Land Rover do
que Renault-FCA. E a Nissan, se desvinculada da Renault, de qual grupo se
aproximaria? Por outro lado, a hipotética megafusão
Renault-Nissan-Mitsubishi-Fiat-Alfa
Romeo-Maserati-Lancia-Jeep-Chrysler-Dodge-RAM superaria eventuais óbices de
órgãos de defesa da concorrência? Um só país que fosse contra já
atrapalharia...
Na mesma segunda-feira do anúncio oficial do “noivado” Renault-FCA, o Automotive Business Experience, ABX19, atraiu cerca de
2 mil participantes e nada menos de 151 palestrantes. Entre os vários pontos em
debate, a coluna destaca alguns:
- a indústria aqui instalada ainda está longe da produtividade do exterior, mas
em oitos anos o tempo gasto nas linhas de produção caiu 25%, a automação subiu
de 50% para 70% e houve redução de até nove meses no processo de
desenvolvimento de um produto novo.
- o ambiente no campo da inovação ainda precisa melhorar bastante no Brasil. Há
poucos sinais nesse sentido.
- No futuro, com aumento de várias opções de compartilhamento e as fabricantes
entrando profundamente no negócio de serviços, a busca tradicional da liderança
de vendas deve ser substituída pelo maior número possível de quilômetros
rodados. Os carros ficarão menos tempo parados do que hoje.
- Em algum momento, o avanço de SUVs observado em muitos mercados pode esbarrar
em limitações de consumo de combustível, massa adicional e aerodinâmica menos
refinada. Tendem a adotar mais rapidamente hibridização e eletrificação.
- Não há sinais de que veículos autônomos se tornem corriqueiros tão cedo. Os
de Nível 4, onde volante e pedais podem ser até escamoteados para uso apenas
eventual, utilizam equipamentos específicos que custam 60 a 100 vezes mais que
o atual Nível 2. Trazem reflexos insuportáveis ao preço final, salvo em
aplicações comerciais intensivas, roteiros preestabelecidos e com
infraestrutura compatível.
ALTA RODA
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DENTRO do
novo ciclo de investimentos da FCA no Brasil, que incluirá motores turboflex e
os primeiros SUVs da marca Fiat, há outra iniciativa que chamou menos atenção,
mas igualmente importante. Será construído, em Betim (MG), um centro de
segurança veicular capaz de realizar testes de colisão. Até agora, só GM e VW
dispõem desse tipo de instalação.
TOYOTA oferece a quinta geração do RAV4 apenas na
versão híbrida (gasolina), a partir de 13 de junho. O SUV utiliza a mesma
arquitetura do sedã médio-grande Camry, o que garante generoso espaço interno e
amplo porta-malas (580 litros). Há três motores elétricos (no total, 120 cv) e
motor a combustão 2,5 L (178 cv), com potência combinada de 222 cv. R$ 165.990
a 179.990.
PORSCHE 718 Boxster GTS é um roadster (conversível
de dois lugares) com qualidades ímpares de dirigibilidade. Destacam-se motor
central traseiro (4-cilindros opostos dois a dois, turbo de geometria variável,
365 cv) e suspensões ajustáveis do conforto à firmeza esportiva ao giro de um
botão no volante. Freios potentes, direção muito precisa e acabamento
primoroso.
HERE e Mitsubishi Electric (separada da fabricante
japonesa) anunciaram novo avanço na conectividade entre veículos. Combina
sensores capazes de detectar de um carro avariado a buracos na pista ao
compartilhamento em tempo real, em “nuvem”, de forma automática. Outros
usuários da via teriam informações com antecipação a fim de evitar transtornos
e acidentes.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
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