Alta Roda nº 1045/345– 16/05/2019
Fernando Calmon |
Como virar o jogo
Entre as inúmeras frases de efeito criadas no mundo
dos negócios está o termo BTR (De Volta à Corrida, na sigla em inglês). Esse
termo se aplica bem ao esforço recente da Peugeot em mudar sua imagem no
Brasil. A marca teve algo em torno de 2,5% de participação de mercado e caiu
para menos de 1%. Hoje, ronda 1,2% ou metade do que já representou. Este
cenário coincidiu com dificuldades financeiras da matriz na França, agora
lucrativa, depois do controle tripartite das ações entre a família fundadora, o
governo francês e a chinesa Dongfeng.
A virada aqui começou pelo básico. Renovação de 70% das concessionárias,
investimento em treinamento – em três anos se gastou mais que nos últimos 15
anos – e disponibilização de uma frota própria de mil carros de reserva
distribuída entre quase 100 pontos de venda. Ao mesmo tempo bateram na tecla:
“Se o cliente não estiver satisfeito com o serviço ou atrasou a entrega, não
paga.” Foi criado serviço de reboque para veículos até oito anos de uso, em
pane ou acidentado.
Agora apresenta a primeira revitalização do SUV compacto 2008. Mudaram
para-choque dianteiro, grade, capô, o logotipo do leão estilizado saiu do capô
para a grade, DRL e rodas. A inspiração estilística veio do 3008, importado da
França, que passou a oferecer versão de entrada por competitivos R$ 139.990. No
2008, o interior recebeu nova central multimídia, teto solar e ar-condicionado
bizona. Neste caso, os preços se mantiveram nominalmente iguais de R$ 69.990 a
R$ 99.990, o que significa queda real de preços. A empresa espera aumento de
30% nas vendas do modelo.
Faz, ainda, outro movimento ousado. Torna-se a primeira marca generalista no Brasil
a aposentar totalmente a caixa manual. Tanto os motores de 1.600 cm³ de
aspiração natural (118 cv/etanol) quanto o turbo (173 cv/etanol) só são
oferecidos com câmbio automático de seis marchas.
Desde o lançamento do 2008, em 2015, apesar dos vários desmentidos da Peugeot,
essa coluna antecipou que o motor turbo seria acoplado ao câmbio automático.
Não havia empecilho técnico ao analisar o carro. Provavelmente, existia estoque
elevado, a ser escoado, da anterior e sofrível caixa automática de quatro
marchas. Para ajudar na decisão, o mercado brasileiro deu uma forte guinada e
foi deixando de lado as caixas manuais. A marca francesa afirma oferecer o
único SUV automático abaixo de R$ 70.000 para o público PcD.
O carro perde em espaço interno para seu irmão de arquitetura Citroën C4 Cactus
e ganha no volume do porta-malas. No entanto, apresenta comportamento dinâmico
um pouco melhor, em especial em arrancadas mais fortes com o motor turbo. Seu
volante ligeiramente ovalado e de pequeno diâmetro permite experiência muito
interessante, inclusive visão do quadro de instrumentos por cima da parte
superior do aro.
ALTA RODA
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FCA anuncia,
na próxima semana, que terá motores turbo de três e quatro cilindros na sua
gama Fiat e Jeep. Baseiam-se nos Firefly de 1 litro e de 1,33 litro para
fabricação em Betim (MG). Serão motores sofisticados e disponíveis para 2020. O
atual 1,75-litro de aspiração natural E-Torq (mais barato de produzir)
continuará em linha ao menos até 2023 e também receberá atualizações.
PRIMEIRO carro elétrico da Jaguar, I-Pace, chega
ao Brasil por R$ 437.000, incluídas revisões grátis nos cinco anos de garantia.
Potência total de 400 cv (dois motores, um para cada eixo, tração 4x4) e nada
menos de 69,6 kgfm lidam bem com o peso adicional das baterias de 90 kWh:
acelera de 0 a 100 km/h em 4,8 s. Autonomia de 470 km, no ciclo WLTP, mais
próximo da realidade.
USO prático do I-Pace, nas condições brasileiras
de subidas e descidas, não deve garantir tanta autonomia. Há apenas 200
carregadores públicos no País, ante 40.000 postos de combustíveis. Mas a Jaguar
criou um sistema de navegação inteligente, capaz de cruzar as informações da
rota desejada com a autonomia disponível para viagens mais descontraídas.
CHEVROLET Tracker Midnight, importado do México,
segue a moda dos apliques pretos do logotipo às rodas. O desempenho do motor
turbo (1,4 L, 153 cv) é o maior destaque deste SUV compacto. Suas dimensões
limitam o espaço interno e o tamanho do porta-malas. Direção precisa, câmbio
automático de seis marchas e suspensão bem acertada destacam-se.
PESQUISA feita na Alemanha pela Bosch revelou que
há grande demanda para aplicativos de telefone celular substituírem as chaves
tradicionais ao abrir/fechar o carro e desbloquear/bloquear a ignição. Entre as
vantagens estão menos possibilidades de extravio, mais pessoas compartilharem o
carro e a segurança em caso de furto graças ao bloqueio remoto.
EMPERRADA há mais de dois anos no Contran, a
vinculação do licenciamento anual à comprovação de atendimento a um eventual
recall pode se tornar obrigatória. Pelo menos esta é a proposta tramitando na
Câmara dos Deputados, de autoria de Juninho do Pneu (DEM-RJ). Apenas 40% dos
proprietários, no máximo, atende aos recalls, uma ameaça à segurança.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
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