Alta Roda nº 697/57 – 06/09/2012 |
Fernando Calmon |
Voltar a comentar sobre os preços dos carros no Brasil parece redundância, mas de tempos em tempos surgem comentários fora da realidade. Virou até manchete de jornal. Mais do que óbvio, o que se paga aqui é muito alto. O problema começa ao apontar os vilões por essa diferença, quando se comparam outros países. E aqui, convém ressaltar, a importância da relação cambial entre moedas, em geral, é pouco citada por “analistas”.No País, o dólar já valeu até menos de um real. Mas, também, beirou os R$ 4,00. A maior cotação aconteceu em outubro de 2002 e os carros brasileiros ficaram entre os mais baratos do mundo. Um jornal citou o fato, num canto de página. Obviamente, os mesmos modelos se alinharam entre os mais caros, mesmos reajustados abaixo da inflação, com o dólar perto de R$ 1,50, em abril de 2011.
Agora, a R$ 2,05, veículos lá fora encareceram 33%, em reais, e ninguém noticiou. Continuou grande a diferença, mas se o dólar subisse, por hipótese, para R$ 3,00 e se retirados todos os impostos, aqui e lá fora, para a comparação correta, nada se falaria. Ainda assim, desvalorização cambial é só consolo e não solução.Há erros primários em algumas comparações de preços. No Brasil, o frete é único, embutido e extremamente elevado. Além disso, desconsideram os equipamentos, como no caso do Fit, Jazz na França. O equivalente ao vendido aqui custa perto de R$ 49.000. Retirados frete e diferença de impostos, os valores ficam quase iguais.
Ideais seriam preços divulgados sem impostos e acrescidos na hora da compra, a exemplo de outros países. Nos EUA, um veículo custa 100 e tem preço de 94, sem impostos. Carga fiscal: 100 dividido por 94, igual a 6,3%. Aqui, custa 100 e preço médio na fábrica, 67. Carga fiscal: 100 dividido por 67, igual a 49%. Automóvel produzido no Brasil sobe quase 50% da fábrica para a loja, fora o frete. Essa conta vale para tudo que se vende aqui, de roupa a alimentos.Sobre os custos de produção nem adianta argumentar. Poucos levam em conta seu peso crucial na formação de preços. Se perguntar a uma pessoa comum quanto é o lucro da fábrica no valor de venda de um carro, muitos responderão 30%.
Porém, a margem média mundial, hoje, está em 5%, deprimida pela crise econômica. Fabricantes como Toyota ou o Trio de Ferro alemão (Audi, BMW e Mercedes) ganham 12%, ou mais, em tempos normais. Rentabilidade sustentável sobre as vendas é de 8% e as fábricas generalistas convergirão para essa meta, como anunciou a Nissan.Só a Fiat publica balanços de seus resultados aqui. O lucro sobre as vendas foi de 11%, em 2011. Muito ou pouco? Muito, se comparado à média (atual) no exterior. Ajudou o fato de o mercado ter dobrado de tamanho em seis anos, embora sujeito a graves depressões, como de 1998 a 2003. E dinheiro atrai dinheiro, ou seja, novos concorrentes. Os três maiores fabricantes dominam, de fato, cerca de 60% do mercado. Nos EUA, há poucos anos, a proporção era até superior. No Japão e outros países é comum os três principais terem mais de 50% do mercado.
Se o lucro, agora, fosse de 3%, ainda teríamos automóveis muito caros. Para acabar com comparações bizarras e uso de matemática frívola, custos e impostos têm que ser atacados – e resolvidos – de verdade.
RODA VIVA
HONDA terá versão do Fit com visual "aventureiro", a ser lançado no Salão do Automóvel de São Paulo (24/10 a 4/11). Nada de protótipo de verdadeiro SUV baseado na arquitetura do modelo. Assim, HB20 não estará sozinho nessa estratégia. Marca japonesa não exibirá o compacto de entrada Brio, apesar de previsto para produção no Brasil.
EXPECTATIVA de vendas elevadas do novo EcoSport, se confirmada, trará efeitos colaterais aos planos da Ford. Kuga, utilitário esporte com base no Focus, andava meio de lado na filial argentina. Mas, poderá, finalmente, sair de conjecturas e entrar em produção mais adiante. A empresa avalia: SUVs avançarão sobre outros segmentos e quer surfar na onda.
VOYAGE Comfortline 1,6/104 cv, com câmbio automatizado de uma embreagem (I-Motion), abre opção interessante na faixa de preço pouco acima dos R$ 40 mil. Linhas recém-atualizadas, bom acabamento, suspensões firmes sem provocar desconforto e motor que tem "vida" em baixas rotações são pontos altos. Instrumento combinado exige melhor visibilidade.
APESAR de otimismo após o recorde de vendas de agosto, Flávio Meneghetti, presidente da Fenabrave, preocupa-se com oportunismo de alguns escritórios de advocacia. "Ações revisionais de financiamentos, questionando juros contratuais, são propostas sem critérios. Algumas vezes, logo depois de paga a primeira prestação."
INDÚSTRIA de reciclagem, se realmente sair do papel, ajudará a resolver outra dificuldade. Acidentes com perda total (PT, no jargão segurador) criam caminhos escusos de recuperação malfeita e recolocação de um veículo inseguro no mercado. Centros de desmontagem fiscalizados resolveriam essa grave trapaça contra o consumidor.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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