Alguns componentes dos automóveis mantêm sua forma e
função por mais de um século. Um deles, o volante de direção. Os dois primeiros
carros patenteados há 125 anos, de Karl Benz e Gottlieb Daimler, usavam apenas
uma espécie de timão ou alavanca ligada à caixa de direção rudimentar. Não há certeza
de qual modelo utilizou pela primeira vez a peça circular hoje onipresente nos
carros. Sabe-se que, em 1894, Alfred Vacheron participou da primeira corrida
organizada no mundo, a Paris–Rouen, e seu Panhard estava
equipado com o volante na forma atual.Durante décadas se integrou ao habitáculo, cresceu e
diminuiu de diâmetro, evoluiu de várias formas. De elemento puramente
direcional, se transformou em produto tecnológico, por vezes complexo, que além
do conforto, pôde agregar funções e aumentar a segurança. Os primeiros airbags
foram embutidos no cubo do volante. Os aros passaram a incluir vários comandos,
antes espalhados por painel e consoles. Isso ajuda na concentração do motorista
e limita possibilidades de distração que provocam acidentes.
Entre as recentes aplicações está a de substituir até a
alavanca de câmbio. Hastes ou borboletas acopladas ao volante, em modelos equipados
com câmbios automáticos ou robotizados, dão flexibilidade e comodidade. Essa
foi a opção da Ferrari ao suprimir a tradicional alavanca e sua manopla
esférica, no 458 Itália. No caso, de forma definitiva e não opcional.
Automóveis mais caros recebem volantes personalizados revestidos
em couro sem emendas, diferentes materiais em segmentos do aro e também
aquecimento elétrico, algo bastante agradável em manhãs muito frias, depois de o
veículo permanecer uma noite ao relento.
Volantes de base achatada facilitam entrada e saída do
motorista e, ao mesmo tempo, tornaram-se símbolos de esportividade, embora o recurso
venha sendo utilizado sem critério por alguns fabricantes.
O futuro, no entanto, reserva formas bem diferentes. Um
dos estudos, da TRW, aponta o formato de manche, herdado dos aviões e já
presente nos veículos de competição. A empresa propõe duas manoplas retráteis,
que se afastam do cubo quando em uso. Ao desligar o motor, as manoplas se
recolhem e, juntas com a coluna de direção, se deslocam em direção ao painel a
fim de proporcionar o máximo de comodidade ao sair do carro. Ao entrar, o
motorista aciona o comando que traz todo o conjunto para a posição previamente
memorizada.
O crescimento das grandes cidades traz a necessidade de
veículos cada vez menores e práticos. Eles, em especial, serão beneficiados
pelo acesso ao interior mais rápido e cômodo, proporcionado por esse conjunto de
volante e coluna que pode ficar embutido no painel.
Outra vantagem do sistema: facilitar a vida de motoristas
idosos que, apontam estudos demográficos, representarão parcela crescente da
população mundial nos próximos anos e não abrirão mão da liberdade de se
locomover. Nesse caso, sua conveniência se estenderá a veículos médios e
grandes, que também dificultam entrada e saída das pessoas sem a mesma
agilidade e flexibilidade dos tempos de juventude.
A previsão é de que em cinco anos estará disponível aos
fabricantes.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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