Fernando Calmon |
O Salão do Automóvel de Paris, aberto até o próximo dia 14,
não encontra o melhor dos climas este ano. Em meio à crise econômica europeia,
que derrubou as vendas de automóveis em mais de 20% desde 2009, é difícil
passar à imprensa, este ano em menor número, e ao público, a confiança
esperada. Apesar do ambiente pesado, como o jornal Le Figaro destacou, a
exposição francesa apresenta menos novidades, porém de maior valor do que
outras edições.
O Golf VII totalmente renovado, modelo mais vendido na
Europa, e a reviravolta de estilo do Clio IV são alguns exemplos. Peugeot não
ficou para trás e exibiu, quase pronto, o SUV compacto 2008. A marca, dessa
vez, confirma sem hesitação que fabricará o carro no Brasil para concorrer com
EcoSport, Duster e o Trax, estreante em Paris, a ser importado da Chevrolet
mexicana em 2013. É reticente quanto ao sedã compacto anabolizado 301,
adversário natural de Logan, Cobalt, Versa, Grand Siena e outros.
Os fabricantes relutam em confirmar o que é antecipado nos
grandes salões internacionais. Renault nega planos sobre o Clio IV no Brasil por
ser “muito caro”, mas 208 (janeiro próximo) e C3 concorrem diretamente com ele na
Europa e aqui. As novas gerações de Logan e Sandero, estreantes em Paris e
evoluídos também na parte interna, chegam até o final de 2013 e, certamente, o
Logan terá o 301 a enfrentar.
Volkswagen continua negando o novo Golf no Paraná. O carro
pesa 100 kg menos que o anterior. Porém, apesar de sua sofisticação, foi
projetado para produção em qualquer fábrica da empresa no mundo. O carro será
vendido aqui e, outra possibilidade, importado do México. A Ford estreou o novo
Fiesta hatch retocado em Paris (igual ao que será produzido em São Bernardo do
Campo, no início de 2013) e guardou a versão sedã para o Salão de São Paulo, a partir
do dia 24. EcoSport estava no estande da empresa só nos dois dias de imprensa e
deverá ser exportado da Tailândia para Europa.
O Fiat 500 L, substituto do Idea sobre arquitetura do Punto
(nada a ver, portanto, com o subcompacto 500, derivado do Panda), tem alguma
chance de produção em Betim porque sua importação da Sérvia ficaria muito cara.
Segundo a organização do 66º salão parisiense, há 80 estreias
mundiais. Entre os modelos esporte, destaques para o inteiramente novo conversível
Jaguar F, do qual se esperava um pouco mais; a reestilização discreta do
Lamborghini Gallardo LP 560-4 e o incrível Mercedes-Benz SLS Electric Drive, 740
cv e quatro motores elétricos. No outro extremo, o Opel Adam, que parece ter
sido desenhado às pressas para concorrer com os subcompactos de butique. No
campo dos carros-conceito, o Peugeot Onyx destaca-se por materiais alternativos
e o Citroën DS9, por aprofundar a linguagem de estilo da marca.
Active Tourer, também conceitual e quase em nível de
produção, é o primeiro BMW com tração dianteira (arquitetura derivada do Mini,
marca do grupo). Modelo em exposição tem motor dianteiro a gasolina e outro
elétrico para tracionar as rodas traseiras, com autonomia de 40 km. Essa
arquitetura híbrida parece ter grande chance no futuro próximo por sua
flexibilidade, preço menor que elétrico puro e consumo/emissões bastante
baixos.
RODA VIVA
TOYOTA espera
lançar seis novos modelos de baixo custo para países emergentes até 2015. Um
deles, SUV compacto, será produzido na Índia e no Brasil. Empresa também
trabalha em um sedã compacto maior que o Etios. Americanos batizam esses sedãs de
cheap space, espaço por baixo preço, em tradução livre.
CONSUMO de
combustível ficará mais valorizado, em especial pelo novo regime industrial
automobilístico. No Salão do Automóvel de São Paulo, além dos retoques no
antigo Clio, Renault aposta que seu motor de 1 litro/16 v será o mais econômico
entre todos os modelos à venda no Brasil sob controle de etiquetagem do
Inmetro.
EVOLUÇÃO estilística
do Citroën C3 vem acompanhada por nítidas melhoras mecânicas. Versão de topo
Exclusive tem motor silencioso de 1,6 l/122 cv e boa disposição para acelerar,
suspensões mais firmes e menos ruidosas e direção de assistência elétrica
melhor que a anterior. Para-brisa ampliado alegra ambiente interno. Espelho
avulso encaixado no para-sol não é boa solução.
HYUNDAI submeterá
ao programa de etiquetagem do Inmetro todas as versões do HB20. Processo não se
concluiu antes porque a prioridade era o lançamento do carro, alega a empresa. Também
tem expectativa de ir bem no teste de impacto do Latin NCAP, sem antecipar o
que espera. Toyota, mais transparente, prevê quatro estrelas, das cinco
possíveis, com o Etios.
BRASIL tem 49
marcas de automóveis e comerciais leves em disputa. Pode parecer bastante, se
não fosse pela situação de competição ainda maior no Chile, cujas vendas
alcançam apenas 10% do mercado brasileiro. Como o país tem setor industrial muito
fraco e é grande exportador de matérias-primas, tornou-se paraíso dos
importadores. Nada menos de 65 marcas de todas as origens.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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