Alta Roda nº 702/62 – 11/10/2012 |
Fernando Calmon |
Depois de longa espera e sucessivos adiamentos, finalmente
saiu a regulamentação do novo regime automobilístico brasileiro, a vigorar entre
2013 e 2017. Batizado pomposamente de Inovar-Auto, traz estímulos fiscais e de
política industrial na direção de melhorar os carros fabricados no País.
Enfoque se concentrou em patamar tecnológico, economia de combustível, conteúdo
de peças produzidas no Brasil (Mercosul incluído), itens de segurança passiva e
ativa, geração de empregos e pesquisas com potencial de gerar inovações.
O programa é bastante complexo, entre outras razões, para
dificultar contestação em fóruns como Organização Mundial do Comércio. Além de
intervencionista e de eleger vencedores e perdedores entre os que estão ou
querem participar do mercado brasileiro, deve-se reconhecer que os objetivos
são importantes e, se alcançados, representarão um grande salto de atualização.
O regime contempla empresas que já produzem, apenas importam
ou têm projetos de investimentos. Todas, sem exceção, serão afetadas. Aquelas
instaladas há mais tempo poderão cumprir exigências de compras locais com maior
facilidade. No entanto, a estratégia de estimular novos fabricantes traz a
competição como forma realmente eficaz de alcançar preços menores ao
consumidor.
Entre as que pretendem investir, houve sensibilidade para atender
marcas especializadas em modelos sofisticados. Serão fábricas dimensionadas
para até 35.000 unidades anuais, com investimento mínimo de R$ 17.000 por
veículo produzido. Haverá índice (obrigatório) menor de compras internas e
atrairá, de imediato, BMW e Land Rover, com planos adiantados. Dificilmente,
empresas como Audi e Mercedes-Benz deixarão de aderir, mesmo porque existirão
cotas sem o superIPI, hoje incidente sobre modelos importados.
A grande maioria dos importadores também terá cotas, sem IPI
extra, proporcionais ao volume médio comercializado entre 2009 e 2011, limitadas
a 4.800 unidades/ano. Terão, porém, de investir 0,65% do faturamento líquido em
um fundo nacional de desenvolvimento tecnológico, espécie de pedágio por
usufruir do mercado interno. Alívio para quem está no negócio, à exceção da Kia,
que, sem produção local, enfrentará dificuldades comerciais por seu volume de
importações.
Um dos pontos mais positivos são as metas de consumo de
combustível. O governo foi pragmático e deixou de lado as emissões de CO2,
pois há equivalência direta com o consumo. Compulsoriamente, a média dos
automóveis de cada empresa terá de diminuir 13,6% até 2017, até atingir a média
(cidade-estrada) de 15,9 km/l (gasolina) e 11 km/l (etanol).
Há, ainda, meta audaciosa, porém incentivada, com até 2
pontos percentuais de redução de IPI para fabricantes que na média, entre 2017
e 2020, atinjam 17,3 km/l (gasolina) e 12 km/l (etanol). A nova lei deixa
dúvidas se o IPI menor deve se repassar aos preços ou servirá de compensação
aos investimentos.
Como ocorre no exterior, carros econômicos são mais caros: não
existe almoço grátis, quando se fala de tecnologia, em geral. Assim, não
acredite que a economia de R$ 1.100,00 por ano em combustível, no discurso do
governo, seja efetiva, pois dependerá do preço do carro.
RODA VIVA
RESULTADOS ruins
de vendas em setembro já eram esperados. Além da acomodação natural, depois dos
volumes estratosféricos de agosto, o mês passado teve menos quatro dias úteis.
Assim, os estoques subiram de 19 para 33 dias, o que diminuiu atrasos nas
entregas de alguns modelos. Exportações vão de mal a pior: Anfavea reduziu sua
previsão em 2012.
ARQUITETURA do
carro conceitual Active Tourer, primeiro BMW de tração dianteira apresentado no
Salão de Paris, vai gerar até nove modelos diferentes da própria marca e da sua
controlada, Mini. Com certeza, um desses carros está nos planos de produção da
fábrica catarinense, conforme a coluna antecipou. Será futuro modelo de entrada,
a preço abaixo do X1 sDrive 18i.
NOVO Mercedes-Benz
Classe B corrigiu fraquezas anteriores. Mais baixo e largo, alcança ótimo
coeficiente aerodinâmico (Cx) de 0,26. Preço: R$ 115.900 a R$ 129.900. Motor
turbo, 156 cv/22,4 kgf·m, e caixa de câmbio automatizada (duas embreagens, sete
marchas), no lugar da insossa CVT de antes, formam bom conjunto. Faltam
equipamentos, como ar-condicionado digital. Agora, sistema eletrônico permite
entrar e sair de vagas.
MITSUBISHI trabalha
para lançar, em breve, primeira picape média com câmbio automatizado (monoembreagem),
da Magneti Marelli. Estará disponível na Triton com motor flex, quatro
cilindros. Fábrica detectou interesse por essa solução mais em conta que
automático convencional.
QUANDO a Chrysler
cortou os preços de seus produtos, recentemente, nada mais fez do que se
antecipar ao que estava previsto no novo regime automobilístico. Afinal,
possuía informações sobre cancelamento do super IPI. Não faltou quem suspeitasse
de absorção de margens de lucro, apontadas por uma revista americana de
negócios.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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