Alta Roda nº 731/82 – 02/05/2013 |
Fernando Calmon |
Agora sob perspectiva de atingir metas mandatórias em
cinco anos – aumento de índice de localização, aperfeiçoamento de processos
industriais e diminuição de consumo de combustível – a indústria
automobilística deve se voltar a fornecedores de componentes e serviços. Nem
com todas as regulamentações ainda de todo conhecidas do programa Inovar-Auto,
já se fala em Inovar-Peças, ideia que surgiu sem formatação definida. Reflete
conceitos genéricos e, outra vez, cria certa dependência de iniciativas
governamentais tendentes a criar artificialismos.
Foi esse clima que marcou a recente Automec – Feira Internacional de Autopeças,
Equipamentos e Serviços – cuja 11ª edição, realizada em São Paulo, lotou os
78.000 m² do Anhembi. Trata-se de exposição para profissionais do ramo e atraiu
1.200 empresas, de 31 países, inclusive os cada vez mais presentes chineses,
tanto do continente como da ilha de Taiwan. Em edições passadas, eles ficaram
um tanto confinados, porém não dá para resistir às suas ofertas de baixo preço,
embora com qualidade, em geral, ainda a se confirmar.
Entre os
expositores felizes, sem dúvida, dois grandes fornecedores, BorgWarner e
Honeywell/Garrett. Estão confiantes de que a tecnologia downsizing, de redução de cilindrada e uso de turbocompressores, é
a tendência irreversível, reflexo do que ocorre no exterior. Se até 2017 o
mercado interno atingir cinco milhões de unidades por ano, parecem factíveis
20% (um milhão de motores) receberem tais componentes. Injeção direta de
combustível, ideal para essa aplicação inclusive em motores flex, também
disparou uma corrida que, além das tradicionais Bosch, Delphi e Magneti
Marelli, inclui agora a Continental.
De fato, se já
existe algum reflexo do Inovar-Auto, ficou explícito na Automec. Algumas
tecnologias avançavam lentamente no Brasil e passam agora por bom impulso.
Correntes de acionamento de válvulas (em substituição a correias dentadas que
exigem trocas periódicas) e compressores compactos de ar-condicionado, ideais
para os novos motores de três cilindros, são alguns exemplos. Às vezes, podem
trazer economia de combustível de apenas 1%, como velas de ignição com eletrodo
de irídio, da NGK, muito caras. Porém, duram quatro vezes mais e, assim, parte
do seu custo é compensável.
Sistemas mais
complexos, como embreagens duplas para caixas de câmbio automatizadas,
fabricadas na Alemanha pela Schaeffler, conviveram com soluções práticas e
acessíveis, na feira. Um fabricante nacional, Power Stop, desenvolveu
servofreio para modelos que nunca tiveram esse conforto: Fusca, Jeep e picapes
antigas. Gates mostrou uma ferramenta para medir desgaste de correias.
Tenneco/Monroe apresentou linha de amortecedores com garantia de três anos ou
60.000 quilômetros, impensável anos atrás.
Grandes
produtores de autopeças, a exemplo de Bosch e Delphi, anunciaram que continuam
a ampliar suas redes de oficinas com padrão definido de atendimento. Além de
estimular profissionalização em processos e garantia dos serviços, entram na
luta por atrair clientes de concessionárias, autocentros e oficinas
convencionais. Resultado tem sido manutenção de qualidade a preços menores.
RODA VIVA
OBJETIVO do
novo presidente da Anfavea, Luis Moan, é atacar a falta de competitividade para
exportação de veículos brasileiros. Hoje, o País vende no exterior menos da
metade do volume de 2005. Sem ajuda de desvalorização cambial do passado, o
chamado custo Brasil é grande empecilho, além da carga de impostos “escondida”
exportada junto com os veículos.
SUV MÉDIO S5, da JAC, que só chegará aqui
em 2014, estreia a segunda geração de arquiteturas da marca chinesa. Em rápida
avaliação em Hefei, cidade-sede do grupo, o carro passou sensação de robustez.
Interior e materiais utilizados subiram de nível, embora ainda tenham que
evoluir. No padrão de teste colisão vigente na China é primeiro a obter cinco
estrelas.
POSIÇÃO ao
dirigir e o volante de pequeno diâmetro para permitir visão do quadro de
instrumentos por cima do aro são sensações notáveis no Peugeot 208. Toda a
atmosfera interna do carro é bastante agradável, inclusive o teto solar
panorâmico, embora cortina interna devesse isolar melhor o calor. Motor de 1,45
l/93 cv não é ideal. Suspensões estão bem acertadas.
PRODUÇÃO do
utilitário esporte ix35 em Anápolis (GO), em instalações da Hyundai-CAOA, sofre
novo atraso. Primeira previsão era final do ano passado, depois passou para
março e, agora, próximo trimestre. Especulações apontam demora nas negociações
com o BVA, sob intervenção do Banco Central. Grupo CAOA tem R$ 600 milhões
emperrados naquela instituição.
PUBLICAÇÃO do
Sindipeças confirmou indicadores internacionais do Brasil em 2012: quarto maior
mercado interno e sétimo produtor mundial. Frota real de 38.025.799 unidades
(sem motos) está em nono, no mundo. Em número de habitantes por veículo – 5,5 –
o País aparece em distante 15º lugar, ou seja, muito ainda para crescer.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
Nenhum comentário:
Postar um comentário