Alta Roda nº 779/129– 10/04/2014 |
Fernando Calmon |
Ao término do primeiro trimestre, o
mercado interno apresentou números fracos, em relação ao mesmo período de 2013,
já descontado o efeito sazonal do Carnaval. Até agora as previsões para 2014
variam entre uma queda simbólica de 1% (alguns já admitem 3%) e um crescimento
também marginal de 1%. Trata-se de um ano complicado: começou com pequeno
aumento de IPI e o acréscimo de preço decorrente da obrigatoriedade de freios
ABS e airbags frontais que atingiu carros de entrada.
Embora a queda trimestral de 2014
frente a 2013 alcance 2,1%, indicador preocupante é o estoque total de todos os
tipos de veículos nas concessionárias e fábricas. Passou de 37 dias em
fevereiro para 48 dias, no final de março. Cada mercado tem um nível
considerado ideal pelo volume de vendas, opções de modelos e hábitos de compra.
Nos EUA vai até mais de 70 dias. No Brasil, o normal já foi de 25 dias, mas com
o aumento de oferta e quase 60 marcas apenas de automóveis e comerciais leves
consideram-se aceitáveis até 35 dias. Portanto, estoques estão quase 40%
maiores que o padrão, o que não acontecia desde 2008.
Do lado da produção, responsável
direta pelos empregos, a redução foi bem maior (8,4%) em razão da forte queda
de exportações para a Argentina. Diminuiu a participação de veículos importados
de todas as origens – único indicador favorável à indústria – nos
licenciamentos totais do mês passado para 16,5%, quase 10 pontos percentuais
abaixo dos picos de 2011/12.Quanto às tendências, pela primeira
vez nos últimos anos se inverteu a curva de participação declinante dos motores
de 1 litro entre os automóveis. Voltou, em março, a superar 40% e, tudo indica,
pode continuar a subir. Uma nova leva de unidades de três cilindros, mais
modernas, potentes e econômicas, aumentará a oferta e o interesse dos
compradores.
Igualmente atípico o resultado dos
modelos mais vendidos em março. Strada foi a primeira picape a liderar o
mercado, desbancando ao mesmo tempo o Gol (em terceiro) e o Palio (segundo). O
compacto da VW já perdeu a liderança outras duas vezes em meses isolados, em
anos recentes. Com o fim da versão mais antiga e barata (geração 4), o seu
substituto (up!) em processo de aceleração de produção (chegou na segunda
quinzena de fevereiro) e o anúncio do ano-modelo 2015 agora em abril, era
previsível perder uma ou duas posições, embora ainda lidere no acumulado do
ano.Da mesma forma, o fim do Mille levou
o Uno a também cair duas posições, de segundo para quarto, possivelmente seu
pior resultado desde o começo dos anos 1990. Vai se recuperar pois receberá
leve reestilização até o meio do ano.
É cedo para saber como 2014
terminará na dura disputa entre modelos. O mercado está mais informado sobre
novidades. Apenas entre veículos pequenos, a Volkswagen, além do novo motor de
1,6 litro e 1 litro/três cilindros para toda a linha, terá o up! de duas
portas, novos Fox e Saveiro de cabine dupla (duas portas). A Ford lançará o
novo Ka, hatch e sedã, simultaneamente. Nissan contará com novos March e Versa;
Renault, o Sandero. Fiat confia no ano completo do Strada de três portas e
revitalizações do Linea (ler abaixo) e do Uno.
Há que se esperar para ver a decisão
dos compradores.
RODA
VIVA
FIAT
revitalizou o Linea com retoques na frente, traseira, interior e novas rodas de
liga leve. Resultado final ficou bom, salvo o aplique no para-choque traseiro
para encobrir a reentrância da placa que subiu para a tampa do porta-malas.
Melhorou a qualidade dos materiais de acabamento, embora sem maciez ao toque.
Entre acessórios originais, tela multimídia/GPS.
SUSPENSÃO um pouco
mais macia está de acordo com a proposta do Linea. O que atrapalha é que se
trata de uma espécie de Grand Punto, semelhante ao Siena/Grand Siena. Aí fica
difícil concorrer com médios autênticos. Preços anunciados (R$ 55.850 a R$ 66.450)
estão alinhados ao que já era cobrado atualmente. Então terá baixo impacto no
mercado.
MOTORES flex são
agora disponíveis para os JAC J3 (hatch) e J3 Turin (sedã), mas versões só a
gasolina de 1,35 litro continuam. Além do sobrenome S Jetflex, motor desloca
1,5 litro e oferece 127 cv/15,7 kgfm (etanol). Destaca-se pelo funcionamento
suave e bom desempenho: 0 a 100 km/h em 9,9 s (raro nessa cilindrada). Preços: R$ 39.990 e R$ 41.690, respectivamente.
FROTA
brasileira de veículos ao final de 2013, segundo estudo do Sindipeças,
ultrapassou 40 milhões de unidades, ou exatas 40.087.191. Dados da Anfavea, com
pequena variação na taxa de sucateamento, indicam um pouco menos: 39,7 milhões.
O País alcançou, assim, a densidade de cinco habitantes por veículo. Há ainda
mais 13 milhões de motos aptas a circular.
SEMPRE se ouve
falar sobre a concentração do modal rodoviário em transporte no Brasil. Segundo
o instituto de logística Ilos, o País tem apenas 29.000 km de ferrovias, China
77.000 e Índia 63.000. Mas em rodovias pavimentadas aqui há somente 212 mil km
contra 1,57 milhão na Índia e 1,58 milhão na China. Ou seja, proporção muito
inferior de estradas em áreas semelhantes.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
Nenhum comentário:
Postar um comentário