Alta Roda nº 780/130– 17/04/2014 |
Fernando Calmon |
Nada de modismo ou coincidência, mas motores de três
cilindros chegaram para ficar também no Brasil. Essa tendência se observava em
outros mercados pela necessidade universal de ganhos em eficiência energética. Diminuição
de consumo é o único modo de reduzir emissões de gás carbônico (CO2),
um dos responsáveis pelo efeito estufa e aquecimento global. Filtros ou catalisadores
são inúteis.Unidades motrizes de três cilindros estão longe de constituir
novidade. Aqui mesmo o DKW-Vemag, motor
de dois tempos, surgiu em 1956. Também foram usadas, em carros pequenos,
unidades de quatro tempos, ciclos Otto e Diesel, na Europa e Ásia. No entanto,
nível de vibração e sonoridade levou a queixas e certo ostracismo.
Tudo mudou graças aos avanços da engenharia de motores. Marcas
premium como a BMW já oferecem motores de três cilindros de até 1.500 cm³. Entre
modelos fabricados no Brasil, Hyundai saiu na frente com HB20 (motor ainda
importado), seguido pelo VW up! e, a partir de julho, os novos Ford Ka hatch e
sedã. Outros estão na fila: PSA Peugeot-Citroën, Chevrolet, Renault, além dos
chineses que entrarão em produção Chery QQ e JAC J3. Fiat deve entrar na onda.Infelizmente, a legislação brasileira estimula motores de
1.000 cm³ (1 litro). Podem não significar a melhor escolha em razão do porte ou
utilização do veículo. Entre 1 e 1,6 litro há ampla gama de aplicações. Correto
seria estabelecer meta incentivada de redução de consumo, independentemente de
cilindrada, e que vença o melhor.
A Ford deu um salto com o tricilíndrico flex de 1 litro e
duplo comando de válvulas variável (admissão e escape), que já começou a produzir
em Camaçari (BA). Potência (85 cv a 6.500 rpm) e torque (10,7 kgf∙m a 4.500 rpm)
com etanol são os maiores entre motores aspirados equivalentes. Prevê também o menor
consumo absoluto, após crivo do Inmetro. No exterior, versões só a
gasolina/injeção direta entregam 65 cv e 80 cv, enquanto o EcoBoost
(turbocompressor) oferece 100 cv e 125 cv para Fiesta e Focus. O mais potente
está nos planos da fábrica baiana, no horizonte de um a dois anos.
Esse novo propulsor apresenta algumas curiosidades como
bloco em ferro fundido, apesar da virada mundial em direção ao alumínio, leve e
também mais caro. Os do up! e do HB20, em alumínio, têm massa em torno de 15 kg
menor. A marca americana alega ser um motor bastante compacto. Provavelmente, a
razão real se deve à robustez necessária em outra versão, de nada menos de 140
cv, para o Mondeo (Fusion), conforme se especula na Europa.
Para baixar custo de manutenção a correia dentada
(lubrificada) dura 240.000 km, dobro do up!, por exemplo. Eliminou partida
auxiliar a gasolina em dias frios. Mas, tuchos de válvulas são sólidos (mecânicos)
e exigem regulagens periódicas, ao contrário de tuchos hidráulicos. Estes dispensam
qualquer intervenção e garantem revisões mais rápidas e (teoricamente) baratas.
Resta ver a aplicação no novo Ka, maior que o anterior. Seu
torque máximo surge em rotações elevadas e costuma prejudicar elasticidade e prazer
ao dirigir. A fábrica, entretanto, afirma que trabalhou na curva de torque a
fim de compensar qualquer sensação de respostas fracas ao acelerador.
RODA VIVA
TOYOTA anunciou,
no Japão, nova gama de motores a gasolina, de 1 litro e 1,3 litro, com notáveis
avanços em economia de combustível. Serão 14 aplicações em modelos compactos e
médio-compactos nos próximos dois anos, cobrindo 30% de toda sua gama. Motores
trabalham no ciclo Atkinson e a economia de combustível vai de 15% a
inacreditáveis 30%.
VISANDO ao
transporte urbano para duas pessoas, uma pequena empresa japonesa, D Art,
resolveu ressuscitar a ideia do carro-bolha italiano Isetta, dos anos 1950.
Porta única frontal abre para cima (no original para o lado) e teria sido aprovado
no teste de impacto no Japão. Propulsão é elétrica e motor de combustão
auxiliar ajuda a dobrar a autonomia até 300 km.
SAVEIRO Cross ganhou
bastante em agilidade graças ao motor de 1,6 litro MSI, em alumínio, da família
EA 211, inteiramente novo. Tem 16 válvulas e duplo comando variável (só admissão),
120 cv e 16,8 kgf∙m (etanol). Impressiona pelas respostas em baixas rotações, em
especial com combustível vegetal, que confere mais 9% de potência e 6% de
torque.
LIMPEZA do
sistema de alimentação, descontaminação interna do motor, higienização dos
dutos do ar-condicionado e kit de lubrificação são operações criativas usadas
por oficinas para aumentar o preço das revisões, em especial as de preço fixo
sugerido pela fábrica. Trata-se de despesas, quase sempre, dispensáveis e
exigem autorização prévia.
MUITO didática a
orientação técnica do Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária) sobre
riscos de uso de películas escurecidas nos vidros dianteiros e para-brisa.
Carros atuais já estão no limite máximo de transparência permitida em lei, à
exceção dos vidros traseiros. No link tinyurl.com/m58kaxr
está tudo explicado.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
Nenhum comentário:
Postar um comentário