Wagner Gonzalez |
Demissões, debates e jeitinhos marcam início da semana. Da F-1 ao antigomobilismo brasileiro o cenário é de movimentação incomum e envolve pilotos, dirigentes e pesquisas
Stefano Domenicali |
Ontem, hoje e amanhã
Não é de ontem que Stefano Domenicali comentava abertamente sua
concordância em ceder o posto de diretor esportivo da Ferrari em prol do bem da
Scuderia. Ontem essa possibilidade foi promovida a fato consumado, diga-se de
passagem imediatamente aceito por Luca Di Montezemolo. No mesmo dia o todo
poderosocapo dei capi no Reino do Cavalo Empinado anunciou Marco
Mattiacci como seu substituto, sinal que a mudança já estava alinhava há algum
tempo.
Marco Mattiacci |
A notícia é a ponta de um iceberg que vai criar marolas, ondas e até
tsunamis no ambiente da F-1, onde a constelação da estrela de três pontas
brilha com força de astro rei, algo que não agrada ao time da península em
forma de bota. Em outro extremo do universo do automobilismo, o ambiente do antigomobilismo
verde-amarelo anda em polvorosa: a eleição para a nova diretoria está prevista
para o Encontro de Araxá, que acontece entre os dias 18 e 22 de junho na cidade
mineira, e tem movimentado grupos liderados pela situação - que propõe o nome
de Sérgio Massa - e oposição, cujo representante é Roberto Suga.
A Ferrari e a F-1
Único construtor a ter disputado todas as edições do Campeonato Mundial
de F-1 desde sua criação, em 1950, há tempos a Ferrari concentra toda a
promoção e publicidade de sua marca em torno dessa categoria. Seu carisma é
indiscutível, assim como sua importância para o status-quo do mundo dos GPs,
algo reconhecido publicamente por Bernie Ecclestone, que a meio caminho de
completar 84 anos de idade segue como homem-forte da F-1. Fundada pelo
visionário Enzo Ferrari (1898/1988), há tempos ela é comandada por Luca Cordero
Di Montezemolo, advogado de formação e empresário com passagens pelo grupo
Fiat, Confederação Italiana das Indústrias, pelo comitê gestor da Copa do Mundo
de 1990 e até mesmo na indústria de perfumes. Frente a tantos trabalhos de
vulto sua gestão à frente da marca de Maranello, porém, é marcada por altos e
baixos e reforça o caráter latino dessa constelação a ponto de sua presença nas
corridas ser considerada uma fator de azar…
Sem chances de disputar vitórias e pódios na temporada atual por causa
do rendimento inferior do equipamento entregue aos campeões mundiais
Fernando Alonso (2005/6) e Kimi Räikkönen (2007), a Scuderia paga o preço
de um projeto cujo motor é mais pesado e consome mais combustível que seus
rivais, particularmente em relação se comparado ao carro da Mercedes Benz.
Vítima de paixão e fanatismo que os italianos praticam ao mesmo nível que
brasileiros o fazem pelo futebol, a Ferrari não consolidou a experiência
multinacional que foi a base do seu período de sucesso na década passada,
quando Schumacher (2000 a 2004) e Räikkönen conquistam o título de pilotos;
entre os Construtores as conquistas foram ainda maiores: 2000/1/2/3/4/7 e 8. A
base desse período foi uma equipe que reuniu cérebros da África do Sul (Rory
Byrne), França (Jean Todt) e Grã-Bretanha (Pat Symonds e Ross Brawn),
entre várias outra origens, e que soube explorar os pontos fortes de Maranello:
a influência política, a dedicação de seus colaboradores e o orçamento farto.
Nos tempos de Enzo a atitude em um momento de crise como o atual seria
muito mais drástica: em 1964 John Surtees conquistou o campeonato disputando os
GPs dos EUA e do México com um carro pintado em azul e branco e inscrito pelo
North American Racing Team. Mais recentemente, em 1986, o modelo 637 chegou a
ser construído apenas para indicar que a Scuderia poderia abrir mão da
categoria, algo que poucos levaram a sério, afinal, o carro jamais foi levado
às pistas. Dito isso fica mais fácil entender porque Stefano Domenicali
desligou-se após as três primeiras provas de uma temporada marcada por uma
mudança radical das regras. É sempre bom lembrar que hoje em dia é
economicamente inviável uma ameaça da magnitude e impacto típicos dos dias do
mítico “ingegnere”.
Ainda que Domenicali já tivesse enviado sinais de sua disposição em
abdicar ao cargo quando, no final da temporada de 2013, Ross Brawn
anunciou seu desligamento da Mercedes, há sinais que as mudanças não param com
a chegada de Marco Mattiacci para ocupar o posto recém vago. Obviamente o nome
de Brawn já foi cogitado para voltar a Maranello, o que considero pouco
provável. Também ontem a equipe alemã informou que seu diretor técnico, o
inglês Bob Bell, entrou em período sabático e será desligado de sua organização
ao final do ano, o que, em princípio, impediria sua participação na construção
do carro da Ferrari para o ano que vem.
O que parece mais provável é que Mattiaci, nascido há 42 anos em Roma,
vai atuar discretamente nos próximos meses até tomar pé da situação e em
seguida anunciar as adequações necessárias para recompor a atual diretoria da
Scuderia, atualmente dividida em seis áreas: engenharia (Pat Fry, inglês),
técnica (James Allison, inglês), motor e eletrônica (Luca Marmorini, italiano),
produção (Corrado Lanzone, italiano) atividade esportiva (Antonello Coletta,
italiano) e projetos (Nikolas Tombis, grego). Tanto quanto escolher nomes,
Mattiaci, um executivo com atuação destacada na indústria do luxo e de trânsito
fácil na alta sociedade dos EUA, terá que desvendar os segredos de uma boa
negociação entre seus pares no mundo dos GPs, um universo onde a associação dos
líderes é conhecida, nos autódromos como “Clube das Piranhas”, referência ao
apetite que o sangue desperta nesse peixe… Em outras palavras, aguarde os
próximos capítulos.
Novas equipes
Gene Haas |
Outra coincidência de avisos dos últimos dias envolveu as equipes Force
India e Marussia e o lançamento oficial da Haas Formula, que ainda não definiu
se estreará na temporada de 2015 ou 2016. Com relação à Force India e à
Marussia o ponto comum entre ambas é com a retaguarda de ambas: questões
financeiras. Na primeira, a situação é mais complicada: Vijahy Mallya tem
sérios problemas financeiros com sua empresa aérea – a Kingfisher -, e Roy
Subrata Sahara, atualmente o principal patrocinador do time, está preso na
Índia por recusar-se a pagar uma dívida que chega a U$ 1,6 bilhão.
Vijahy Mallya |
Quanto à Marussia é fato que, legalmente, a equipe de corrida não tem
ligação com a fábrica de automóveis que fechou as portas, porém é público a
falta de patrocínio, e portanto de recursos, que caracteriza sua situação
atual. Falando recentemente sobre seus planos de promover sua empresa de
máquinas altamente automatizadas, Gene Haas não confirmou as expectativas que
seus carros usarão tecnologia e trem de força da Ferrari e teriam a manutenção
feita em uma base na Itália. O magnata norte-americano deixou em aberto a
chance de contar com back-up tecnológico da Mercedes e montar uma filial na
Alemanha, possibilidade que tem recebido pouco volume de apostas. Ante a
dificuldade natural de construir uma oficina com capacidade para operar uma
escuderia de F-1 não será surpresa se Haas for “aconselhado” por Bernie
Ecclestone e decidir assumir uma dessas operações, algo que manteria inalterado
o grid de 2015 em relação a este ano.
Enquanto isso em Interlagos
A prefeitura paulistana confirmou a realização de obras para melhorar as
instalações dos boxes e paddock de Interlagos e a renovação do acordo para a
realização do GP do Brasil até 2020. No final de junho o circuito paulistano
será interditado para ser recapeado e preparado para a corrida de novembro,
após a qual os boxes atuais serão demolidos para a construção dos novos. O
início desta obra poderá ser atrasado caso a prova “6 Horas de Interlagos”,
válida pelo Campeonato Mundial de Resistência (WEC) seja confirmada para o dia
30 de novembro, três semanas após o GP. A realização de provas nacionais e
regionais está condicionada à construção de boxes alternativos em torno da
curva do Sol. O custo desta reforma está estimado em R$ 160 milhões e será
bancado pelo PAC vinculado ao Ministério do Turismo.
F-E no Rio é cancelada
Di Grassi exibiu o F-E |
A Federação Internacional do Automóvel (FIA) informou o cancelamento da
prova de Formula Electric prevista para ser disputada nas ruas do Rio de
Janeiro no dia 15 de novembro. A categoria é aberta a monopostos movidos a
eletricidade e terá etapas nos principais destinos turísticos do mundo: Pequim,
China (3/9), Putraya, Malásia (18/10), Punta del Este, Uruguai (13/12), Buenos
Aires (10/1/2015), Miami, EUA (14/3). Los Angeles, EUA 94/4), Mônaco (9/5),
Berlin, Alemanha (30/5) e Londres, Inglaterra (27/6). A etapa do Rio
deverá ser substituída por uma prova no dia 14 de fevereiro em local a ser
definido.
Foto Fernanda Freixosa |
Stock Car Brasil
A segunda rodada do Campeoanto Brasileiro de Stock Car, disputada
domingo em Santa Cruz do Sul (RS), marcou a estreia de um novo formato que
inclui duas provas por etapa. Como o regulamento não permite o reabastecimento
entre a primeira e a segunda largada, nesta última muitos carros acabaram
parando ao longo do traçado de 3.53 km, entre eles o de Rafa Mattos, que
liderou a maior parte desta bateria. Sergio Jimenez herdou a liderança e era o
ponteiro até os 200 metros finais, quando também ficou sem combustível e cruzou
a linha de chegada, ainda no embalo, atrás de Antônio Pizzonia e Daniel Serra.
Na primeira largada os três melhores foram, pela ordem, Valdeno Brito, Cacá
Bueno e Galid Osman. O certame prossegue dia 25, em Brasília e até lá Brito e
Jimenez dividem a liderança, cada um com 37 pontos.
Foto Duda Bairros |
F-3 e Turismo completaram o programa.
A programação de Santa Cruz do Sul incluiu ainda etapas de F-3 e
Turismo. Na primeira Pedro Piquet e Vitor Baptista dividiram as vitórias;
destaque-se que Baptista compete com um carro da classe Light, reservada para
carros mais antigos e, teoricamente, de menor rendimento. Ambos lideram o
certame em suas classes. Rafael Abatte foi o vencedor na prova de Turismo, que
tem a liderança de Guilherme Salas.
F-Truck correu em Curitiba
O paranaense Leandro Totti (VW) venceu a segunda etapa do Campeonato
Brasileiro de F-Truck, que aconteceu domingo em Pinhais, região metropolitana
de Curitiba. A diferença entre o vencedor e Wellington Cirino (PR,
Mercedes-Benz) foi de apenas 62 milésimos de segundo, a menor nos 18 anos da
história da categoria. Com o resultado Totti lidera o certame com 61 pontos,
contra 33 de Geraldo Piquet.
Festival de batidas na F-Indy
Mike Conway venceu o GP de Long Beach, segunda etapa da temporada de
F-Indy e prova marcada por vários acidentes, um deles envolvendo o brasileiro
Helio Castro Neves, que ocupa a quarta colocação no certame, com 55 pontos,
contra 93 de Will Power, 66 de Conway e 60 de Simon Pagenaud.
Acidente em Monza
O inglês Will Stevens e o espanhol Carlos Sainz Jr. foram os vencedores
da primeira rodada da F-Renault 3.5, que aconteceu no fim de semana em Monza,
na Itália. O brasileiro Pietro Fantin ficou conseguiu um décimo-primeiro e um
oitavo lugares. Um acidente espetacular , que você vê clicando aqui, envolveu Marco Sorensen (Dinamarca) e Jazeman Jaafar
(Israel) e marcou a primeira volta da etapa de sábado.
Euro Nascar começou em Valencia
A série Nascar Whelen Euro Series teve início em Valencia, na Espanha,
com a presença de quatro brasileiros: Victor Guerin (12. e 20. colocado no
sábado e no domingo, respectivamente), William Ayer Jr (20. e 16.) Marçal Melo
(17. e 9.) E Alex Fabiano (20. e 11.). Na prova de domingo Melo ficou em
terceiro lugar na classe “Gentlemen Drivers”. O campeonato prossegue no
primeiro fim de semana de junho em Brands Hatch, Inglaterra e terá um
total de seis rodadas.
López e Loeb dominam abertura do WTCC
O argentino José-Maria López e o francês Sébastien Loeb dominaram a
prova de abertura do Campeonato Mundial de Carros de Turismo, disputada em
Marrakech, Marrocos, no fim de semana. O resultado colocou a estreante equipe
Citroën como a favorita para o campeonato, este ano, aberto a sedans equipados
com motores 1.6 l turboalimentados. Os resultados foram estes: Corrida
1: 1) José-María López (Argentina, Citroën C-Elysée), 14 voltas em
24m40s950; 2) Sébastien Loeb (França, Citroën C-Elysée), a 0”713; 3) Yvan Muller
(França, Citroën C-Elysée), a 1”607; 4) Tom Chilton (Inglaterra, Chevrolet
Cruze), a 8”222; 5) Dusan Borkovic (Sérvia, Chevrolet Cruze), a 11”849. Volta
mais rápida: Sébastien Loeb (1m43s777). Corrida 2: 1)
Sébastien Loeb (Citroën C-Elysée), 16 voltas em 47m50s589; 2) José-María López
(Citroën C-Elysée), a 4”321; 3) Hugo Valente (França, Chevrolet Cruze), a
7”598; 4) Tom Chilton (Chevrolet Cruze), a 18”305; 5) Mehdi Bennani (Marrocos,
Honda Civic), a 18”331. Volta mais rápida: José-María López (1m43s704). Campeonato
Pilotos: 1) José-María López, 48 pontos; 2) Sébastien Loeb, 47; 3) Tom
Chilton, 27; 4) Hugo Valente, 19; 5) Yvan Muller, 17. Campeonato
Construtores: 1)
Citroën, 95; 2)
Honda, 57; 3) Lada, 31 pontos
Eleições na FBVA
Meio onde as diferenças sempre foram resolvidas através de acordos
tácitos, o mundo do antigomobilismo brasileiro vive uma experiência rara, para
dizer o mínimo. Faltando cerca de dois meses para a eleição da nova diretoria
situação e oposição trabalham em busca de votos. Presidentes dos para angariar
o apoio dos 119 clubes que formam a Federação Brasileira de Veículos Antigos
(FBVA), desde 2007 comandada pelo mineiro Henrique Nehrer Thielmann. A atual
chapa lançou o nome de Sergio Massa, cearense radicado em São Paulo há 30 anos,
enquanto Roberto Suga, também de São Paulo, representa a alternativa apoiada
por vários clubes. Uma pesquisa telefônica realizada por uma empresa de
Araçatuba pediu a presidentes de clubes para comparar a atual diretoria com a
anterior, que de 1995 a 2006 foi liderada pelo carioca José Aurélio Affonso
Filho; entre outras questões a empresa ABR Inteligência perguntava sobre a
intenção de voto do entrevistado. A FBVA negou ter encomendado a pesquisa (veja aqui o comunicado a respeito), a ABR Inteligência nega-se a revelar a
informação alegando cláusula contratual e Roberto Suga declarou que ele e os
integrantes do grupo “Por uma FBVA para todos”, que lançou sua candidatura,
também não tem qualquer ligação com essa consulta.
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