Fernando Calmon |
O atual momento de vendas fracas no mercado brasileiro,
que pode se estender de 2014 para 2015, não representa o melhor pano de fundo
para o grande investimento
feito pela Nissan em Resende (RJ). Afinal, não é todo dia que se despendem R$ 2,6 bilhões para
produção de 200 mil carros e 200 mil motores por ano. Mas segundo o presidente
mundial da Aliança Renault-Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, o grupo considera
esse movimento estratégico.
“Não investimos pensando nos próximos seis meses e
sim nos próximos dez anos. Precisamos dessa fábrica para crescer junto com o
mercado. O Brasil, hoje, é o quarto maior do mundo em termos de vendas internas
de veículos, porém mal chega a uma taxa de motorização 200 veículos por 1.000
habitantes. O potencial, no entanto, é muito maior. Por que não 400 veículos
por 1.000 habitantes ou algo próximo, hoje, a Portugal?”, assinalou.
O executivo também considera que a participação da
Nissan no País de apenas 2%, atualmente, se deu por uma série de fatores e o
principal agora está equacionado. Prevê avançar pelo menos um ponto percentual
por ano e chegar aos 5% em 2016. Admitiu que precisa de pelo menos mais dois
modelos, além do novo March, neste momento, do sedã derivado Versa, dentro de
seis meses, e dos produtos de São José dos Pinhais (PR), México (inclusive o
antigo March) e Estados Unidos.
Atual arquitetura compacta V comporta um SUV, cujo
esboço surgiu no Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro de 2012. É
candidato natural para a nova fábrica. O monovolume compacto Note seria outra
opção, embora já seja produzido no México e a integração dos dois mercados
continuará. Há um ano Ghosn disse que a produção de algum produto da nova
submarca Datsun, de produtos de baixo custo, dependeria de uma consolidação
prévia da Nissan no mercado brasileiro. Mas, sua resposta agora à mesma
pergunta feita antes pela coluna foi menos evasiva, na linha de “uma coisa de
cada vez”, ainda para manter o ar de mistério.
Capacidade alta de produção de motores também
indica que o fornecimento das unidades de 1 litro/4 cilindros feitas pela
Renault no Paraná, pode ser trocado por motores de origem da própria Nissan.
Essa cilindrada tende a voltar a subir de participação no mercado brasileiro
(hoje, 40%) em curto prazo. E os tricilíndricos parecem que vão dominar o
cenário, abrindo essa oportunidade em instalações modernas de Resende.
Naturalmente, o executivo em alguns momentos se
mostrou de certa forma decepcionado por este período de mercado nacional
“acomodado” – para usar de polidez. Mas os planos de expansão do grupo estão
mantidos e, no dia seguinte, anunciou novo ciclo de investimentos de R$ 500
milhões para a marca Renault. Confirmou que serão dois produtos novos, sem
antecipar os escolhidos. No entanto, consideram-se certos a versão picape do
Duster e o SUV compacto Captur derivado do atual Clio IV europeu (da Argentina
vem o Clio II).
Uma coisa se tem como certa: pote de ouro é mesmo
o segmento que inclui EcoSport, Duster, Tracker e, no futuro próximo, Peugeot
2008, Taigun, GLA, X1, Captur, HR-V, Renegade (mais o Fiat correspondente) e
derivados do HB20 e até do Etios, sem falar dos chineses. Para todos os gostos
e bolsos.
RODA VIVA
MODELO alemão de enfrentamento de
crises de demanda temporárias tem alguma chance de emplacar agora no Brasil.
Para não desempregar mão de obra especializada, governo, empresas e sindicatos
estudam suspensão do contrato de trabalho em alternativa às demissões. Parte
dos salários seria pago pelo seguro-desemprego. Falta avançar nas negociações.
VOLKSWAGEN achou o caminho das pedras
para produzir, na China, um carro de entrada mais barato (equivalente a R$ 25.000
aqui). Solução é a mesma aplicada pela Renault na sua subsidiária romena Dacia:
partir de uma arquitetura fora de linha, de duas ou três gerações anteriores, e
criar nova carroceria. Como o dito popular, “o que os olhos não veem, o coração
não sente”.
APENAS no final de 2014 a JAC terá
disponível o seu novo T6, SUV de porte médio, que está à venda na China há um
ano. Surpreende pelos bons materiais de acabamento e a vedação dupla de portas
(no entanto, pesadas para manusear). Motor de 2 litros/155 cv tem ótima
resposta em baixas rotações; engates do câmbio manual poderiam ser melhores.
FORD E TOYOTA trombetearam, na mesma semana,
que Focus e Corolla, respectivamente, foram os modelos mais vendidos no mundo
em 2013. Fontes diferentes, as consultorias Polk e Focus2Move, somam todas as
versões de igual nome-modelo (hatch e sedãs). Já que é assim, Golf e sedãs
derivados Jetta, Sagitar, Bora e Lavida passam de longe os dois citados.
COM admissão da Maserati, este
ano, o exclusivo clube de 18 marcas centenárias ainda em produção aumentou. Em
ordem alfabética: Alfa Romeo, Aston Martin, Audi, Bugatti, Buick, Cadillac,
Chevrolet, Fiat, Ford, Lancia, Maserati, Mercedes-Benz, Opel, Peugeot, Renault,
Rolls-Royce, Skoda e Vauxhall. Próximo da fila a Dodge, em 2015.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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