Alta Roda nº 917/267 – 01 /12 /2016
Fernando Calmon |
Quatro grandes nomes da indústria automobilística mundial
acabam de anunciar um acordo sobre a criação de uma rede própria de
abastecimento de carros elétricos, em estradas e autoestradas europeias. Audi,
BMW, Daimler (Mercedes-Benz), Ford e Porsche decidiram adotar a tecnologia CCS
(Sistema de Carregamento Combinado, na sigla em inglês) de alta potência: até
350 quilowatts. O acordo envolve todas as marcas dos grupos e é uma plataforma
aberta para adesão de qualquer outro fabricante.
Empurrão importante, pois até pouco tempo não havia uniformidade nem no tipo de
tomada padronizada de encaixe no veículo. Por outro lado, a iniciativa prevista
para 2017 demonstra a indústria ter deixado a inércia para trás e decidido não
esperar governos ou empresas de eletricidade para investir na infraestrutura.
Mas convém certa cautela ao analisar a decisão, longe de resolver outros
empecilhos.
Primeiro: apenas 400 pontos serão inaugurados até 2020, enquanto na Europa há
mais de 180 mil postos convencionais de abastecimento em ruas e estradas.
Segundo: a recarga elétrica será ultrarrápida, mas não se anunciou qual o tempo
gasto. Em três minutos ou menos é possível restabelecer 100% da autonomia de um
veículo comum. Espera-se algo entre 10 e 15 minutos para 80% da autonomia
nominal (os 20% restantes levariam um tempo dez ou mais vezes maior).
Terceiro pormenor, ainda por esclarecer, é se as recargas desse tipo diminuirão
bastante a vida útil das baterias. Há novas unidades de íons de lítio em
desenvolvimento, até com autonomia ampliada. Porém, pelo que se sabe no
momento, abastecimento ultrarrápido (semanal, por exemplo) doerá muito no bolso
do proprietário em médio prazo.
Por coincidência, a SAE organizou semana passada, em São Paulo, o 6º Simpósio
de Veículos Elétricos e Híbridos. Foram 17 palestras, nem todas pintando
cenários róseos à frente. Entre os problemas, a grande desvalorização dos
atuais carros elétricos no mercado de usados justamente por não se saber qual é
a verdadeira durabilidade da bateria de íons de lítio (com 80% de sua vida útil
não gera mais potência para mover o veículo). Sem falar na reciclagem,
responsabilidade do fabricante do carro. A Tesla, por exemplo, suspendeu o
abastecimento gratuito de seus modelos nos Estados Unidos.
Estudo abrangente sobre o futuro desse mercado no mundo foi apresentado por
Jomar Napoleão, da consultoria internacional LMC, representada aqui pela
Carcon. A demanda por automóveis híbridos recarregáveis em tomadas, ainda com
motores a combustão, crescerá rapidamente até pelo menos 2026. Modelos
elétricos exclusivos com baterias não terão como deslanchar antes de
2022.
Somando-se os dois segmentos, a previsão é de que dentro de dez anos a
eletrificação combinada ou isolada possa alcançar 26 milhões de unidades
vendidas em um ano, ou 25% da comercialização mundial. A China estará à frente
com 10 milhões de veículos, seguida pela Europa (7,8 milhões) e Estados Unidos
(3,4 milhões). Em torno de 5 milhões estarão espalhados pelo mundo, com
predominância bastante acentuada do Japão.
Para o Brasil, em especial, a consultoria não fez previsões. Tudo o que
depender de subsídio ou estímulo ao consumidor não aparece no radar.
RODA VIVA
SALÃO do Automóvel de São Paulo, encerrado no último dia 20, não chegou a
bater recorde de público. Apesar de instalações bem superiores ao anterior
Parque Anhembi, atraiu 715.477 visitantes (ante os cerca de 750.000 da edição
anterior). Possível reflexo da situação econômica, mas foi o salão mais
conectado do mundo, com 759 mil fãs no Facebook.
NOVO motor Firefly de 3 cilindros/1 litro/77 cv (etanol) estreia agora no
Mobi. A Fiat o colocou no meio da gama de seu subcompacto com preços entre R$
39.870 e R$ 49.020. Também estreou o aplicativo que transforma o smartphone em
central multimídia, porém caro demais. Motor se destaca antes de tudo pela
suavidade. Baixo peso do modelo também ajuda.
HONDA atendeu a apelos e oferece câmbio manual no novo Civic Sport. Motor
de 2 litros e câmbio de seis marchas traz saudades (engates e curso de alavanca
ótimos), mas nível de vendas será muito baixo. No outro extremo, o Touring com
o turbo de 1,5 litro (só gasolina) tem desempenho melhor, mas só na posição “S”
do câmbio CVT anima o motorista.
PICAPE Amarok 2017 recebeu interior novo (inclui sistema de infotenimento
mais moderno), além de mudanças na grade e para-choque dianteiro. Todas as
versões receberam sistema de frenagem automática pós-colisão, que deveria ser
recurso universal de segurança. Motor V-6 diesel ficou para 2017. Preços: de R$
113.990 (cabine simples) a R$ 177.990 (cabine dupla).
EXPLICAÇÃO: na coluna anterior, sobre 60 anos do primeiro carro nacional
convencional (perua DKW-Vemag), o decreto que criou o Geia é de 16 de junho de
1956. Mas a indústria foi pautada pelo decreto de 26 de fevereiro de 1957, mais
completo e específico, exigindo mínimo de quatro passageiros (incluído o
motorista). Havia total lógica nessa decisão.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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