Wagner Gonzalez |
F-1: vitória certa com piloto errado.
Nenhuma equipe da F-1
consegue movimentar tanta gente quanto a Ferrari: única marca presente em todos
os campeonatos já disputados, a famosa Scuderia de Maranello teve um fim de
semana com sabor agri-doce, algo pouco palatável aos padrões da rica gastronomia
italiana. Em um fim de semana que seu piloto principal, o alemão Sebastian
Vettel, voltou
a cometer erros que não se espera de um tetra-campeão mundial, o
finlandês Kimi Räikkönen venceu com autoridade.
Com uma boa ajuda de Max
Verstappen a decisão do título de 2018 foi adiada para, possivelmente, o GP da
México: a diferença de 70 pontos de Hamilton (346) sobre Vettel (276) significa
que se o inglês somar cinco pontos a mais que o alemão na corrida do próximo
domingo ele terá conquistado seu quinto título mundial.
Como já é sabido, Kimi
Räikkönen deixa a Ferrari no final da temporada, trocando de lugar com Charles
Leclerc, a sensação da temporada a bordo de um monoposto da limitada e
renascente equipe Alfa Romeo-Sauber. Apesar do potencial indiscutível do jovem
monegasco e dos 39 anos, completados dia 17, do finlandês, a inversão de
empregos esteve longe de ser mera formalidade: além dos pilotos, dirigentes da
Ferrari e, em menor escala na Sauber, foram jogados em uma frigideira, de onde
saíram virtualmente selados em uma disputa de poder.
O italiano Maurizio
Arrivabene iniciou sua carreira na F-1 como executivo da Philip Morris em 1984,
onze temporadas antes do suíço Mattia Binotto graduar-se como engenheiro
mecânico na Escola Politécnica de Lausanne e ser recrutado como engenheiro de
motores para e equipe de testes de Maranello. Arrivabene só foi confirmado na
Ferrari em janeiro de 2015, mas muito antes disso estava ligado à Scuderia
graças ao patrocínio da tabaqueira aos carros italianos; mais, desde 2010 ele é
membro da Comissão de F-1 da FIA, até 2014 como representante de patrocinadores
e, posteriormente, da Ferrari. Além disso também é integrante da diretoria da
Juventus, clube de futebol ligado à FCA.
Quem acompanha as corridas
de F-1 pela TV já notou claramente que Arrivabene é mais que patrão de
Räikkönen. Exemplo disso são as duas semanas que envolveram o GP da Itália:
dias após o grupo FCA – que controla entre outras marcas a Fiat, a Chrysler e,
por vias indiretas, a Ferrari -, ter anunciado a aposentadoria inesperada de do
chefão Sergio Marchionne, o finlandês marcou a pole position para a corrida de
Monza e Maurizio foi mostrado comemorando o feito com Mirtu Virtanen, a esposa
do piloto. Dias depois foi anunciado o falecimento de Marchionne e na semana
que antecedeu o GP de Cingapura foi anunciado que Charles Leclerc tomaria o
lugar de Kimi Räikkönen em 2019.
Marchionne era tido como
um apoiador incondicional do monegasco e seu súbito desaparecimento teve como
consequência uma reviravolta nos quadros de executivos de primeira linha do
grupo FCA. Nessa movida o nome de Mattia Binotto ganhou força, a Ferrari foi
embrulhada em uma controvérsia sobre o uso de uma dupla bateria, Vettel deixou
de repetir as boas atuações do início da temporada e no último domingo,
finalmente, Räikkönen pode atuar sem se preocupar em abrir caminho para seu
companheiro de equipe.
Na mesma proporção que
Lewis Hamilton se aproxima de vencer esta temporada, um clima de reconstrução
envolve cada vez mais o ambiente em Maranello. vencer quatro títulos
consecutivos ente os anos 2010 e 2013, Sebastian Vettel desembarcou na Ferrari
em 2015 com pompa, circunstância e toda a euforia de replicar a era de ouro de
Michael Schumacher, que venceu cinco títulos com os carros vermelhos entre 2000
e 2004. Desde então o alemão mais jovem terminou as temporadas em terceiro
(2015), quarto (2016) e segundo (2017), posição que provavelmente vai repetir
este ano. Seria isto suficiente para crucifica-lo?
Não. Certamente Vettel não
desaprendeu a pilotar, porém a frequência de erros que ele comete, em
particular rodando nas voltas iniciais das últimas provas, não contribui para
melhorar o clima, em particular em um ambiente tão susceptível a chuvas e
trovoadas como é a Ferrari.
McLaren e Williams estão
aí para demonstrar que um passado com épocas de dominação não garante fartura
vitalícia; a própria McLaren já optou por refrear seus ânimos e suspendeu a
propalada incursão na temporada da F-Indy em 2019. Pode-se assumir aqui
que a chegada do brasileiro Gil de Ferran tenha contribuído para tal. Sir Frank
Williams é um abnegado de carteirinha que soube construir um império de
tecnologia, mas a disputa doméstica entre seus filhos para ver quem o sucederá
ainda implica em solavancos e a equipe tropeça entre diferenças internas e
estratégias públicas difíceis de serem sanadas.
Os grandes heróis, aqueles
que tinham apelo maior que habilidade em conduzir rápido, parecem personagens
que saíram de cena marcada por uma anemia galopante, a vitória de Kimi
Räikkönen em Austin foi uma prova de que nem tudo está perdido. Especialmente
para a Ferrari, que despediu o mocinho da sua novela atual.
O resultado completo do GP
dos EUA você encontra aqui.
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