quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Wagner Gonzalez em Conversa de pista

Wagner Gonzalez

F-1: vitória certa com piloto errado.

Nenhuma equipe da F-1 consegue movimentar tanta gente quanto a Ferrari: única marca presente em todos os campeonatos já disputados, a famosa Scuderia de Maranello teve um fim de semana com sabor agri-doce, algo pouco palatável aos padrões da rica gastronomia italiana. Em um fim de semana que seu piloto principal, o alemão Sebastian Vettel, voltou
a cometer erros que não se espera de um tetra-campeão mundial, o finlandês Kimi Räikkönen venceu com autoridade.

Com uma boa ajuda de Max Verstappen a decisão do título de 2018 foi adiada para, possivelmente, o GP da México: a diferença de 70 pontos de Hamilton (346) sobre Vettel (276) significa que se o inglês somar cinco pontos a mais que o alemão na corrida do próximo domingo ele terá conquistado seu quinto título mundial.

Como já é sabido, Kimi Räikkönen deixa a Ferrari no final da temporada, trocando de lugar com Charles Leclerc, a sensação da temporada a bordo de um monoposto da limitada e renascente equipe Alfa Romeo-Sauber. Apesar do potencial indiscutível do jovem monegasco e dos 39 anos, completados dia 17, do finlandês, a inversão de empregos esteve longe de ser mera formalidade: além dos pilotos, dirigentes da Ferrari e, em menor escala na Sauber, foram jogados em uma frigideira, de onde saíram virtualmente selados em uma disputa de poder.

O italiano Maurizio Arrivabene iniciou sua carreira na F-1 como executivo da Philip Morris em 1984, onze temporadas antes do suíço Mattia Binotto graduar-se como engenheiro mecânico na Escola Politécnica de Lausanne e ser recrutado como engenheiro de motores para e equipe de testes de Maranello. Arrivabene só foi confirmado na Ferrari em janeiro de 2015, mas muito antes disso estava ligado à Scuderia graças ao patrocínio da tabaqueira aos carros italianos; mais, desde 2010 ele é membro da Comissão de F-1 da FIA, até 2014 como representante de patrocinadores e, posteriormente, da Ferrari. Além disso também é integrante da diretoria da Juventus, clube de futebol ligado à FCA.

Quem acompanha as corridas de F-1 pela TV já notou claramente que Arrivabene é mais que patrão de Räikkönen. Exemplo disso são as duas semanas que envolveram o GP da Itália: dias após o grupo FCA – que controla entre outras marcas a Fiat, a Chrysler e, por vias indiretas, a Ferrari -, ter anunciado a aposentadoria inesperada de do chefão Sergio Marchionne, o finlandês marcou a pole position para a corrida de Monza e Maurizio foi mostrado comemorando o feito com Mirtu Virtanen, a esposa do piloto. Dias depois foi anunciado o falecimento de Marchionne e na semana que antecedeu o GP de Cingapura foi anunciado que Charles Leclerc tomaria o lugar de Kimi Räikkönen em 2019.

Marchionne era tido como um apoiador incondicional do monegasco e seu súbito desaparecimento teve como consequência uma reviravolta nos quadros de executivos de primeira linha do grupo FCA. Nessa movida o nome de Mattia Binotto ganhou força, a Ferrari foi embrulhada em uma controvérsia sobre o uso de uma dupla bateria, Vettel deixou de repetir as boas atuações do início da temporada e no último domingo, finalmente, Räikkönen pode atuar sem se preocupar em abrir caminho para seu companheiro de equipe.

Na mesma proporção que Lewis Hamilton se aproxima de vencer esta temporada, um clima de reconstrução envolve cada vez mais o ambiente em Maranello. vencer quatro títulos consecutivos ente os anos 2010 e 2013, Sebastian Vettel desembarcou na Ferrari em 2015 com pompa, circunstância e toda a euforia de replicar a era de ouro de Michael Schumacher, que venceu cinco títulos com os carros vermelhos entre 2000 e 2004. Desde então o alemão mais jovem terminou as temporadas em terceiro (2015), quarto (2016) e segundo (2017), posição que provavelmente vai repetir este ano. Seria isto suficiente para crucifica-lo?

Não. Certamente Vettel não desaprendeu a pilotar, porém a frequência de erros que ele comete, em particular rodando nas voltas iniciais das últimas provas, não contribui para melhorar o clima, em particular em um ambiente tão susceptível a chuvas e trovoadas como é a Ferrari.
  
McLaren e Williams estão aí para demonstrar que um passado com épocas de dominação não garante fartura vitalícia; a própria McLaren já optou por refrear seus ânimos e suspendeu a propalada incursão na temporada da F-Indy em 2019. Pode-se assumir aqui que a chegada do brasileiro Gil de Ferran tenha contribuído para tal. Sir Frank Williams é um abnegado de carteirinha que soube construir um império de tecnologia, mas a disputa doméstica entre seus filhos para ver quem o sucederá ainda implica em solavancos e a equipe tropeça entre diferenças internas e estratégias públicas difíceis de serem sanadas.

Os grandes heróis, aqueles que tinham apelo maior que habilidade em conduzir rápido, parecem personagens que saíram de cena marcada por uma anemia galopante, a vitória de Kimi Räikkönen em Austin foi uma prova de que nem tudo está perdido. Especialmente para a Ferrari, que despediu o mocinho da sua novela atual.

O resultado completo do GP dos EUA você encontra aqui.

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