Wagner Gonzalez |
Espanha é freada de arrumação
Palco dos testes de pré-temporada e autódromo que fornece
incomensurável base de dados para as equipes de F-1, o Circuit de Catalunya
recebe a F-1 neste fim de semana para a abertura da verdadeira temporada
europeia deste ano, o GP da Espanha (foto de abertura da corrida de 2018,
f1.com). Tal circunstância pode determinar a recuperação de equipes que não
realizaram as aspirações representadas por seus projetos 2019 e, da mesma
forma, determinar uma alteração radical de planos em seus programas para o
atual campeonato. Na berlinda
dessa situação está a Ferrari, envolta no cenário
típico que reveste o time de Maranello, enquanto outros têm problemas mais
práticos e claros para resolver
Eterno personagem importante da F-1 mesmo quando seus
carros apresentam desempenho abaixo da crítica, este ano a Ferrari brilha bem
menos do que esperavam seus torcedores e, sem dúvida, seus dirigentes nas
quatro primeiras provas do ano: Austrália, Barhein, China e Azerbaijão.
A
atuação do recém-chegado Charles Leclerc na pista de Manama, logo na segunda
corrida do ano, causou impacto de grande espectro; à fiabilidade do equipamento
que impediu uma possível primeira vitória do novato contrastou o efeito
positivo nos índices de audiência: não foram poucos os que enxergaram
ali uma
pitada de muito bem-vinda emoção. Infelizmente a decisão da Scuderia em
privilegiar Sebastian Vettel não mitiga afrustração de quem enxerga o alemão em
uma fase menos combativa que a fome se resultados do monegasco.
Na esperança de fornecer a Leclerc e Vettel um
equipamento mais competitivo o time liderado por Mattia Binotto adiantou a
estreia da evolução do motor que equipa o chassi 064:
“Vamos estrear na Espanha o motor que deveria ser
apresentado apenas no GP do Canadá. Essa estreia chega com o uso de um
lubrificante de nova formulação desenvolvido pela Shell, e tal combinação
resulta em maior potência. Um novo pacote de mudanças na aerodinâmica do carro
também será apresentado na
Espanha.”
Mais otimista que Leclerc para quem a pista de Barcelona
depende mais dos carros que dos pilotos, Sebastian Vettel mostra-se confiante:
“Conheço Barcelona como a palma da minha mão e as curvas
3, em ligeira subida, e a 9 são as mais divertidas do traçado. O último setor
já foi mais desafiador mas hoje em dia é importante porque é ali que você pode
destruir os pneus do seu carro. Tenho boas lembrança de Barcelona desde que vim
para a Ferrari e espero que este ano marque minha primeira vitória com a
minha rossa nessa pista.”
Equipe com passado de títulos e vitórias seja como
construtor, seja como fornecedor de motores, a Renault também corre contra o
tempo para recuperar o prejuízo de um início de temporada aquém das suas
próprias expectativas. A contratação de Daniel Ricciardo ainda não rendeu os
frutos desejados e tanto o australiano quanto o alemão Nico Hulkenberg foram
traídos pela baixa resistência do V-6 fabricado em Viry-Châtillon, ao sul de
Paris. Não são poucos os que criticam o trabalho de Cyril Abiteboul, diretor do
time, e o responsabilizam pelos resultados conseguidos até agora. Coordenar e
fazer funcionar uma equipe de F-1 é tarefa das mais difíceis e mesmo com a
ajuda de Jérôme Stoll (que presidiu a marca no Brasil entre 2006 e 2009) e
Alain Prost os resultados ainda não chegaram. Para reverter esse quadro os
carros enviados à Espanha apresentarão várias alterações de aspecto
aerodinâmico nas asas dianteira e traseira, passo importante para recuperar a
condição de quarta melhor equipe da temporada passada.
“Até agora tivemos um início bem duro e a corrida no
Azerbaijão marcou uma fase de resultados muito abaixo das nossas expectativas”,
explica Abiteboul. “O GP da Espanha é uma boa oportunidade para comprovar que
nosso trabalho em várias áreas foi correto e voltar a ser competitivos.”
Esse trabalho focou no desenvolvimento do chassi tanto em
seu projeto quanto no comportamento dinâmico em pista e garantir todas as
condições para que seus dois pilotos possam obter seus melhores desempenhos.
Quando muitos esperavam que Daniel Ricciardo fosse mostrar-se mais rápido que
Nico Hulkenberg, o alemão mostrou-se mais eficiente que o australiano, condição
que gerou questionamento amplo. Hulkenberg está confirmado para testar na
terça-feira e o inglês Jack Aitken na quarta-feira. Nesses dois dias todas
equipes participam de um programa de testes livres.
Equipes como a Haas e a Williams também enxergam a prova
do fim de semana como uma oportunidade única para reverter a sorte na
temporada. Gunther Steiner, o italiano que comanda a operação da equipe
norte-americana, anuncia uma lista ampla de mudanças:
“Teremos as primeiras evoluções, nossos primeiros upgradesda
temporada: asa dianteira, assoalho, uma porção de pequenas partes, até mesmo os
espelhos foram modificados. Vamos comparar tudo isso como nosso desempenho em
Barcelona nos testes de pré-temporada. Já sabemos que vamos bem nas provas de classificação,
agora precisamos transformar isso em resultados, especialmente se conseguirmos
que os pneus trabalhem na temperatura certa.”
O franco-suíço Romain Grosjean, que atravessa outra de
suas fases conturbadas, mostra-se mais cauteloso com as expectativas:
“Todos sabem que todo mundo trará novidades para
Barcelona, quase como apresentando uma versão B de todos os carros do grid, o
que pode mudar a ordem das coisas. Para nós o importante é que as alterações
funcionem e que a gente possa entender o que atrapalha nosso ritmo de corrida.”
O “todo mundo” mencionado por Grosjean inclui, obviamente
a equipe Williams, que amarga uma de suas temporadas mais desanimadoras desua
história e que já custou o emprego de Paddy Lowe, eufemisticamente tratado como
“afastado por razões pessoais”. Um dos alicerces do sucesso do time, Patrick
Head está de volta como consultor temporário na esperança de recolocar o time
de Grove nos trilhos que o levem a recuperar a competividade das épocas de
ouro. As novidades, ainda por serem apresentadas mas que são apenas parte do
pacote de melhorias para este semestre, já deixaram o novato George Russell
otimista, reflexo do rendimento abaixo da crítica mostrado até agora:
“Definitivamente vai ficar tudo mais fácil agora e estou
confiante que vamos evoluir. A equipe está trabalhando muito duro, mas o quanto
vamos nos aproximar de nossos rivais eu não sei. Só posso dizer que os
resultados das últimas provas nos tornou mais fortes e mais cedo ou mais tarde
vamos dar a volta por cima.”
Claire Williams, a responsável pelo dia a dia da mais
inglesa das escuderias da F-1, admite que o atraso no fornecimento de várias
peças foi superado e que agora o momento do time é outro:
“Após a China vemos alguma luz no fim do túnel e, apesar
da distância que nos separa do rival mais próximo, já notamos alguma melhora.
Mas ninguém aqui está esperando por um milagre, estamos trabalhando duro para
reverter o jogo.”
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