O futuro bate à porta e o presente nas rodas
Wagner Gonzalez |
A saga do futuro da F-1 teve um segundo capítulo positivo
e consecutivo no último fim de semana. Após dois anos de longas tratativas o
circuito de Silverstone garantiu sua permanência no calendário da categoria e
dois pilotos mostraram que uma rivalidade anunciada no kart está presente e
consolidada no principal palco do esporte. Num mundo onde as mudanças acontecem
com velocidade incrível, tais fatos são indicações saudáveis de que nem tudo
está perdido.
Quando adquiriu os direitos comerciais da F-1 de Bernie
Ecclestone o grupo norte-americano Liberty
Media começou a descobrir que a mão
de ferro do antigo dono criou riquezas a um custo insustentável. De acordo com
artigo publicado pelo jornal inglês The Guardian, o preço cobrado para realizar
uma corrida em 2026 seria de £ 25 milhões, algo como R$ 125 milhões, contra os
R$ 58 milhões cobrados em 2011 e os R$ 83 milhões pagos em 2017. Trata-se de
uma contabilidade insustentável até mesmo em países de primeiro mundo e, pior,
naquele que tem no esporte a motor uma significativa receita do seu PIB.
As negociações entre Chasey Carey, o executivo maior da
Liberty Media, e David Grant, o presidente do British Racing Drivers Club
(clube proprietário de Silverstone) foram longas e difíceis. Tentativas de
transferir o GP britânico para um circuito montado nas ruas de Londres (algo
que ainda pode acontecer, mas como GP da Inglaterra) e a pura e simples ameaça
de extirpar o palco da primeira corrida da F-1, em 1950, fizeram parte desse
processo que durou mais de dois anos. Ante o cenário de uma categoria com
corridas pouco interessantes, declínio de audiência e ausência de novos fãs, a
razão prevaleceu sobre a ganância e no fim de semana foi possível ouvir esta
declaração de Carey:
“Silverstone é uma grife do nosso calendário e, sem
dúvida, um evento especial. Nossa primeira corrida aconteceu aqui, há 70 anos e
o Reino Unido tem um lugar especial na F-1. Assegurar o futuro desta corrida é
um alicerce para o futuro do esporte, e Silverstone é uma grande parte desse
futuro.”
Cabe perguntar se é tudo assim, tão bonito, por que as
negociações foram tão longas? Certamente porque a Liberty Media demorou para
entender que não poderia manter o mesmo estilo de negociação de Ecclestone, que
nunca nutriu um grande amor por Silverstone, quem sabe por que no fundo sonhava
em adquirir essa pista criada em torno de um aeródromo militar construído para
a II Guerra Mundial. O lucro maior da continuidade do autódromo localizado no
condado de Northamptonshire nos calendários até 2024, porém, é que os
promotores de GPs mundo afora ganharam um presente único: já sabem que podem
negociar a renovação de seus contratos em termos mais factíveis. Brasil,
Espanha e México são alguns dos países que negociam a renovação de seus
contratos atuais.
O que se viu domingo, na pista, poderia até mesmo
obscurecer as consequências positivas dessa negociação, posto que Lewis
Hamilton e Valtteri Bottas mais uma vez dominaram a corrida e ocuparam os dois
lugares mais altos do pódio, nessa ordem -veja aquio resultado completo do GP da Grã-Bretanha. Ledo
engano: o inglês usou de manhas e artimanhas para superar o companheiro de
equipe e dois dos pilotos mais jovens do grid deram irrefutável que uma nova era de disputas começou.
Após a derrota para Max Verstappen no GP da Áustria,
disputado há pouco mais de duas semanas, Charles Leclerc deixou claro que não
será na pista que voltará a ser superado pelo adversário holandês: se foi
novamente prejudicado pela estratégia equivocada da Ferrari no que se refere a
parar para trocar pneus, o monegasco saiu no lucro quando Sebastian Vettel
colidiu contra a traseira do piloto da Red Bull. Acabou completando o pódio e
agora está a apenas três do seu companheiro de equipe na classificação do
campeonato.
Quem refletir
sobre a colisão entre o Red Bull #33 e o Ferrari #5 certamente vai considerar
se o alemão não vive o ocaso de sua carreira: desde o GP da Alemanha do ano
passado Vettel tem se destacado mais por erros de pilotagem do que por ausência
de vitórias e ultrapassagens dignas de um tetra-campeão que pintou como o único
capaz de superar os recordes do compatriota Michael Schumacher. O que se tem
visto nas pistas é que Charles Leclerc vai tomar seu lugar em uma bate-bate com
Max Verstappen e que será Lewis Hamilton o novo recordista de números da
categoria. Silverstone já garantiu presença no calendário do ano que vem,
quando esta previsão poderá ser um fato consumado.
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