É muito comum em países que, repentinamente, descobriram
o “objeto” dinheiro e tudo o que esse “objeto” traz, como alegria, conforto,
alimentação – e riscos enormes a quem resolve ter demais, principalmente quando
a maioria continua tendo-o de menos – que produtos e serviços voltados ao
conforto, bem estar e segurança desses acumuladores sejam oferecidos
ininterruptamente. Entre esses
incontáveis produtos e serviços, pipocam todo tipo de parafernália (conjunto de
coisas que você não sabe os nomes tampouco para que servem) imaginável e
inimaginável. Como um dos maiores símbolos de status que os novatos na arte de
ter dinheiro adoram ostentar são os carros, é claro que estes se tornam,
também, os objetos de maior interesse da “Banda B” da sociedade. Não os carros,
propriamente ditos, mas sim quem está dentro deles. Ninguém é burro o
suficiente para roubar um importado de alto valor, pelo simples fato de não ter
nada o que fazer com o carro depois – vender pra quem? Nem desmanche quer...a
“vida” desses carros é inteiramente rastreada, e em qualquer de suas
concessionárias descobre-se a “história pregressa” de cada um de seus modelos.Para
proteger-se, então, de possíveis ataques criminosos, apela-se para os
mirabolantes sistemas de rastreamento, alarmes e travas e, em um grau que vem
crescendo gigantoscopicamente no Brasil, para a blindagem. É aqui que começa
esta matéria, que, pelo volume de informações, será dividida em capítulos
diários. Focarei exclusivamente na blindagem, pela complexidade, fantasias e
tabus que o tema envolve, além da montanha de dinheiro que movimenta.Vamos lá!
A blindagem é feita para evitar assaltos e proteger os
ocupantes de um veículo, certo? Mais ou menos. Aliás, está bem “mais para menos”,
porque a realidade é bem diferente dos filmes hollywoodianos ou dos panfletos
de propaganda ou dos depoimentos em sites etc. Em síntese, a blindagem esta,
para a sua proteção, no mesmo nível que um alarme impede o roubo do carro,
porque ambos os sistemas dificultam as ações de ataque, porém não as impede. Internacionalmente
regularizada, a blindagem atende pré-requisitos de acordo com um nível de
proteção, para superfícies opacas (carroceria) e transparente (vidros), definidos
como Nível I, Nível II-A, Nível II, Nível III-A, Nível III, Nível IV e Nível V.
cada um referindo-se ao calibre da arma que se propõe a resistir. É exatamente
aqui que começa a parte que ninguém explica direito, porque todo mundo acha que
se alguém contar, estará ensinando o caminho das pedras ao mundo do crime, como
se os criminosos não soubessem de cor e salteado sobre o assunto. Então, o
primeiro mito a ser derrubado, em qualquer nível de blindagem,é com relação ao
calibre da arma, só que definindo o tipo de arma com o calibre indicado e, o
principal, o tipo de munição utilizada. Ou você também acha que toda “bala de
trezoitão” é igual? Se acha, então esta matéria está no caminho certo! Para
começo de conversa, o “ponto” antes do número indica fração de polegada, como
são definidas determinadas munições, enquanto outras são em milímetros. Essas
munições são carregadas com diferentes tipos de componentes, de acordo com o
objetivo – por exemplo, se é para deter com vida ou matar um oponente. Da mesma
forma, munições diferentes com ogivas diferenciadas são desenvolvidas para
penetrar, perfurar ou explodir os alvos e o alvo, nesse caso, é a blindagem.
O
convencional é que, em termos gerais, os níveis de proteção de blindagem são
assim definidos:
Nível I - oferece proteção contra o disparo de revólveres
calibres .22, .32 e .38 e pistolas 7.65, que é o mesmo calibre do revólver .32.
Nível II-A - Oferece proteção contra munição de pistola calibre
9mm – que é o mesmo que .357ou .380 ou revólver .38 Special.
Nível II - Resiste aos mesmíssimos calibres anteriores,
porém com munições compostas por outros elementos e ogivas.
Nível III-A - Suporta o disparo de calibres 9mm e .44
Magnum, que seria algo próximo a 10mm.
Nível III - Se propõe a resistir a tiro de calibre
7,62mm. Esse calibre só cabe em fuzil de assalto, erroneamente anunciado nas
propagandas como submetralhadora, além de se referirem aos fuzis AK-47, FAL, G36,
G3, M-16 e AR-15 como se fossem absolutamente iguais. Não são. O AR-15 é uma
derivação do M-16, e seus calibres não são 7,62mm, mas sim 5,56x45mm. As
munições 7,62mm dos demais variam entre 7.62x39mm, 7.62x54R, 7.62x25mm e isso
define a quantidade de carga – logo, a velocidade, a força e o poder de
destruição da ogiva.Enquanto o calibre 5,56x45mm, apesar de parecer inferior
em “tamanho” é mais letal ou indicado contra blindagens por contar com diversas
versões de carga e ogiva, inclusive a HEIAP (High ExplosiveIncendiary/ArmorPiercingAmmunition),
especificamente desenvolvida para perfurar blindagens.
Nível IV – Agrega proteção contra todas as ameaças
anteriores, além de munições mais perfurantes, como a .30-06, .338 e granadas.
Nível V – É a soma de todos os níveis anteriores,
acrescentando-se resistência a munição 12,7 x 99 mm e ataques de mísseis
Stinger e Tomahawk. Os dois últimos níveis são oque existe de mais seguro disponível
a civis, mas esse nível de blindagem é altamente exclusivo, com autorização especial
do Exército e do Ministério da Defesa, sendo necessário apresentar um
requerimento que justifique tal proteção, como as Forças Armadas, Chefes de Estado,
Presidentes e, com raras exceções, a megaempresários que consigam justificar a
real necessidade de tamanha proteção.
Toda essa explicação é necessária para o seu entendimento,
de maneira fácil, que a menos que você entenda profundamente de armas, jamais
conseguirá identificar o que, exatamente, estão te apontando e se a blindagem
de seu carro resiste ao tiro ou não. Para ficar bem claro, o nível de blindagem
mais comercializado no Brasil é o III-A, não porque os nossos acumuladores de
dinheiro não saibam que os marginais, situados um andar acima do nível
pé-de-chinelo, costumam possuir todo o armamento mencionado para enfrentar o
Nível III, mas sim por questões de custos mesmo.
Renato Pereira – renato@autopolis.com.br
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