Alta Roda nº 740/891– 04/07/2013 |
Fernando Calmon |
Quem
ainda não ouviu falar de gás de xisto, mais ou cedo ou mais tarde vai ouvir.
Trata-se de extrair do subsolo gás natural impregnado em rochas ou areias
betuminosas por meio de nova técnica conhecida como fratura hidráulica.
Aplicado em grande escala nos EUA, significou um corte de mais de 70% no preço
daquele combustível. Pode-se obter petróleo dessa forma também, porém a custo
maior.Ainda
se discutem todos os riscos ambientais já que exige quantidade enorme de água.
Por outro lado, gás é combustível fóssil e, portanto, colabora para o
aquecimento do planeta. Formar uma rede de seu abastecimento para veículos
exige grandes investimentos. Entretanto, gás muito barato pode impactar o preço
do petróleo. Alguns falam até em revolução energética, talvez um exagero, mas
existe potencial de tirar competitividade da exploração de petróleo mais caro,
em águas marítimas muito profundas, como o nosso Pré-sal.
Essa
novidade igualmente traz incertezas à política brasileira de combustíveis
líquidos. Depois de congelar o preço da gasolina para combater a inflação, o
governo viu o consumo e importações subirem muito pela falta de capacidade nas
refinarias. Ao mesmo tempo, inviabilizou o etanol. Em 2009, a soma de consumo
de etanol hidratado (para motores flex) e anidro (adicionado à gasolina)
superou o de gasolina. Como a frota aumentou e houve migração para gasolina por
seu preço convidativo, o biocombustível recuou de mais de 50% para 30% de
participação.
Mais
complicado: as duas novas refinarias, em construção pela Petrobrás (Rio de
Janeiro e Pernambuco), foram planejadas com foco no diesel. Então, ou se
importa mais gasolina ou se estimula a produção de etanol. Durante a recente
conferência internacional Ethanol Summit 2013, organizada a cada dois anos pela
Única (entidade do setor sucroenergético de São Paulo), não se constatou grande
entusiasmo para investir em novas usinas. Isso apesar de a Anfavea ter
anunciado, no último dia 28, que se atingiu a produção de 20 milhões de
veículos com motores flex.Falta,
de fato, definir a matriz energética de combustíveis do País. O atual governo
já deu sinais de pouca importância ao etanol. Agora, como precisa dele, acena
com afagos, sem a firmeza necessária para que de 2013 a 2020 a produção
desejada suba de 26 bilhões para 73 bilhões de litros/ano, metade do que
produzirá os EUA.
Um
ponto que mereceu bastante atenção na conferência foi o etanol de segunda
geração (2G). Ao aproveitar palha e bagaço da cana, a produtividade subirá até
50%, numa primeira etapa, a preço competitivo. Primeira unidade industrial será
inaugurada em 2014, em Alagoas, pela GranBio.
Paralelamente, se desenvolveu a
chamada cana-energia, com o dobro da quantidade de fibra (celulose) e metade da
sacarose (açúcar). Pode ser plantada em solos degradados, exige menos água e
insumos, além do potencial de colheita três vezes maior na mesma área.
Não
se trata, aqui, de qualquer revolução energética, mas de uma enorme evolução de
processos e tecnologias que se estudam há mais de uma década. Do ponto de vista
ambiental, o etanol 2G é superior, porém antes de tudo precisa ser levado a
sério de verdade, sem políticas de oportunismo.
RODA
VIVA
MUDANÇA de patamar na
cotação menor do real frente a outras moedas começa a enfraquecer comparações
de preços com o exterior. Se a referência, então, for automóveis europeus,
poderá causas surpresas. Boa parte dos carros fabricados aqui já apresenta
preços iguais ou menores do que os vendidos na Europa, igualados os equipamentos
e, claro, os impostos.
IMPASSE com argentinos
deixou, até o final do ano, comércio livre com Brasil. Dessa vez o País decidiu
endurecer o jogo. Situação sempre contrariou regras do Mercosul. Para
complicar, aumento de inflação (e salários) no país vizinho puxou os custos por
lá. Prevê-se para o final deste ano nova Política Automotiva Comum que possa
conduzir à abertura total das fronteiras.
FOX BLUEMOTION traz novas referências em
termos relação consumo-desempenho para um motor de 1 litro de cilindrada. É o
primeiro três-cilindros ciclo Otto fabricado no Brasil. Versão flex do motor
mais moderno da VW (EA211) tem a maior potência com etanol (82 cv) do mercado,
claramente sentida ao guiar o carro. Com gasolina são 75 cv, aqui e na
Alemanha.
REDUÇÃO do consumo
energético de 17%, nessa versão do Fox, visa o programa Inovar-Auto. Em trecho
urbano de Campinas (SP), esse colunista alcançou 18,9 km/l (gasolina), sem
ar-condicionado e pouco trânsito. Suspensões, câmbio e aerodinâmica seguem o
pacote Bluemotion (R$ 745,00), sem prejuízo do prazer de dirigir. Mesmo motor
estreará no VW up! em 2014.
MITSUBISHI descartou, no
momento, fabricação do compacto Mirage em Catalão (GO). Investimento de US$ 550
milhões do Grupo Souza Ramos, no período 2010-15, incluiu as duas picapes L200
Triton (cabine simples e dupla) e os SUV Dakar e ASX. Sedã Lancer chega no
próximo ano. No total, 330.000 veículos em 16 anos.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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