O
desempenho da indústria automobilística no segundo semestre deste ano
representará um importante marco para o setor: a retomada do crescimento. É o
que apontam os dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos
Automotores, Anfavea, divulgados na segunda-feira, 7, em São Paulo – que trazem
novas projeções para o encerramento do ano.
Luiz Moan Yabiku Júnior |
A justificativa
para esta alteração de viés, na visão de Luiz Moan Yabiku Junior, presidente da
entidade, baseia-se no fato de que boa parte dos desafios do primeiro semestre
foi superada:
“As turbulências
que pairaram sobre o setor neste primeiro semestre estão sendo superadas e o
viés agora é de crescimento. As questões de financiamento pelo PSI, que
travaram a comercialização de veículos pesados e máquinas autopropulsadas no
início do ano, foram resolvidas. O acordo com a Argentina foi assinado e já está
em vigor. As alíquotas do IPI foram mantidas até o fim do ano. São fatores que
nos fazem ter a convicção que o segundo semestre será melhor que o primeiro”.
Luiz Moan Yabiku
Junior lembra que o cenário pode ser ainda mais positivo se houver oferta de crédito:
“Ainda há um cenário de forte restrição ao crédito, que se for minimizado
poderá funcionar como catalisador do desempenho”.
Tributos
A Anfavea também
apresentou, na ocasião, estudos sobre a geração de tributos da indústria
automobilística, a carga tributária que incide sobre os veículos e os impactos
da manutenção das taxas do IPI até o fim do ano. No caso do IPI, de acordo com
as estimativas apresentadas, se a decisão fosse pelo aumento das alíquotas,
haveria redução de vendas de 165,2 mil veículos leves nos últimos seis meses de
2014.
Para Luiz Moan
Yabiku Junior, “se o IPI fosse elevado, o panorama previsto para o segundo
semestre poderia ser comprometido, pois cada ponto porcentual de aumento do
imposto incidiria um aumento no preço de 1,1% e impacto de 2,6% de queda no
mercado. Além de elevar a carga tributária no veículo brasileiro, que já é uma
das mais altas do mundo”.
O estudo sobre a
carga tributária do veículo brasileiro mostra que 28,1% do preço de um
automóvel flex com motorização entre 1000cc e 2000cc são de impostos. Esse
número é maior, por exemplo, do que os 18% de um veículo similar na Itália, 7%
nos Estados Unidos e 9,9% no Japão.
Essa comparação
é feita com base na participação dos impostos no preço final ao consumidor, critério
diferente daqueles utilizados em outros países, que indicam qual é a carga
tributária adicionada ao preço do veículo sem impostos. Neste critério,
proposto pelo estudo, a totalidade da carga adicionada a esse mesmo automóvel
no Brasil é de 54,2%.
A carga
tributária neste patamar, considerando não só o veículo em si mas também a
cadeia produtiva e pós produtiva, coloca a indústria automobilística como uma
das mais importantes para a economia do País: mesmo com o IPI reduzido em 2013
a geração de tributos do setor naquele ano, segundo estimativas da Anfavea, foi
de R$ 178,5 bilhões, o que representa cerca de 12% do total de tributos
considerados.
Mercado
A indústria
automobilística registrou retração no licenciamento de autoveículos quando
comparadas as 263,6 mil unidades comercializadas em junho deste ano com as
293,4 mil de maio – baixa de 10,2% – e com as 318,6 mil do mesmo mês do ano
passado – menor em 17,3%. O período acumulado do primeiro semestre também
apresenta recuo: 7,6% ao se comparar as 1,66 milhão de unidades de 2014 com as
1,80 milhão de igual período de 2013.
Nas exportações
o sexto mês teve queda de 31,2% com relação a maio – 24,2 mil unidades contra
35,2 mil – e de 51,1% frente a junho de 2013, quando saíram do País 49,4 mil
autoveículos. O total de unidades exportadas na primeira metade do ano ficou
35,4% abaixo do mesmo período de 2013: foram 169,5 mil este ano contra 262,3
mil no ano passado.
Com este cenário
a produção também apresentou recuo: de 16,8% no acumulado do semestre, ao se
defrontar as 1,57 milhão deste ano com as 1,88 milhão do ano passado. Em junho
de 2014 foram produzidos 215,9 mil autoveículos, o que representa diminuição de
23,3% com relação as 281,4 mil de maio e de 33,3% sobre as 323,9 mil de junho
de 2013.
No segmento de
máquinas agrícolas e rodoviárias as 5,9 mil unidades de junho ficaram 23,2%
menor com relação as 7,6 mil de maio e 29,7% aquém das 8,3 mil de junho de 2013.
O primeiro semestre acumulado apresenta redução de 16,5%: foram 40,4 mil
máquinas produzidas no período em 2014, enquanto em 2013 foram 48,4 mil.
As vendas
internas de máquinas autopropulsadas no atacado em junho deste ano ficaram 6%
inferiores do registrado em maio – 5,8 mil contra 6,2 mil – e 21,5% abaixo das
7,4 mil comercializadas no sexto mês de 2013. No acumulado, as 32,9 mil
unidades dos primeiros seis meses deste ano estão 20% abaixo das 41,1 mil de
igual período de 2013.
Caminhões
e Ônibus
O licenciamento
de caminhões registrou 10,6 mil unidades em junho de 2014, retração de 16,7%
ante as 12,7 mil de maio do mesmo ano e de 19% com relação as 13,1 mil de junho
de 2013. O acumulado mostra baixa de 12,7% quando confrontadas as 64,6 mil da
primeira metade de 2014 com as 74,0 mil do mesmo semestre de 2013.
Na produção o
desempenho do sexto mês deste ano ficou abaixo em 35,5% sobre maio – 8,2 mil
contra 12,7 mil – e em 49,3% ante as 16,2 mil de junho de 2014. O resultado
também é negativo, em 18,8%, no período acumulado: 76,0 mil unidades em 2014
contra 93,6 mil em 2013.
A produção de
ônibus seguiu trajetória de queda no acumulado: as 19,2 mil unidades de 2014
estão 11,1% menores do que as 21,6 mil do mesmo período do ano passado. No
comparativo mensal, os 2,5 mil chassis produzidos em junho estão abaixo em
25,3% com relação as 3,4 mil de maio deste ano e em 37,9% frente as 4,1 mil de
junho de 2013.
Os 2 mil ônibus
licenciados em junho ficaram 12,5% abaixo dos 2,2 mil comercializados em maio e
20,5% dos 2,5 mil do sexto mês do ano anterior. O primeiro semestre aponta
redução de 13,7% ao se comparar as 13,4 mil unidades deste ano com as 15,5 mil
de 2013.
Novas
projeções
A Anfavea
revisou suas projeções para o fechamento de 2014. A expectativa agora é de
retração de 5,4% nos licenciamentos, enquanto na produção é de 10% e nas
exportações é de 29,1%. Os números, apesar de negativos, indicam que o segundo
semestre será melhor que o primeiro em todos os itens.
As projeções
para encerramento do ano no segmento de máquinas agrícolas e rodoviárias também
foram revisadas: a nova perspectiva é de queda de 12% nas vendas, baixa de
13,3% na produção e recuo de 10,3% com relação às exportações. Se confirmado,
este ano caminha para terminar em patamares maiores do que aqueles de 2012 e
atrás apenas de 2013, que registrou recordes históricos.
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