Alta Roda nº792/142 – 10/07/2014 |
Fernando Calmon |
Resultados ruins em vendas internas, produção e
exportação (unidades) ao final deste primeiro semestre refletem economia fraca,
inflação alta e insegurança sobre o futuro. Em relação ao primeiro semestre de
2013, os recuos foram de 7,6%, 16,8% e 35,4%, respectivamente. Tombo foi maior
do que se previa no final do ano passado, quando especialistas acreditavam que
a economia brasileira cresceria em 2014 um pouco além que os 2,5% de 2013.
Agora falam em apenas 1% a mais no PIB.
A própria Anfavea refez suas previsões que se mostraram
otimistas demais em dezembro último. Graças à manutenção do IPI parcialmente
reduzido, anunciada em 1º de julho, os números no fechamento do ano seriam um
pouco menos negativos: 5,4%, 10% e 29%, respectivamente. Ou seja, crescimento
no segundo semestre (14,3%, 13,2% e 36,9%, na mesma ordem) compensaria em parte
o raquítico início de ano.
Engana-se quem pensa que a volta do IPI cheio resolveria
graves problemas fiscais do governo. Cada 1 ponto percentual de aumento na
alíquota, reflete-se em acréscimo de preço de 1,1%. Cada 1% no preço resulta em
vendas 1,6% menores. Multiplicados os fatores, 1% a mais de imposto, na
prática, significa 2,5% de queda no mercado. Em números redondos, 4 p.p. do IPI
(de 3% atuais para os 7% originais) repassados
aos preços, significariam um mergulho de 10% nas vendas e arrecadação final de
impostos menor.
O cenário piorou por uma conjugação de fatores. Produção
foi duplamente prejudicada: mercado interno e situação na Argentina que recebe
quase 80% dos veículos exportados daqui. Muito se comenta que os feriados da
Copa do Mundo prejudicaram as vendas. Porém, se o mercado estivesse aquecido,
os compradores apenas teriam adiado sua ida às lojas. Carros não faltam, pois
há 45 dias de estoque (30% acima do normal), e as concessionárias conseguem
emplacar mais de 15.000 veículos/dia útil. No primeiro semestre foram apenas
11.500, em média.
Resta saber as causas da apatia e há várias explicações.
A primeira é certa acomodação, depois de nove anos de crescimento firme.
Inegável que as pessoas também anteciparam compras e a procura sofre mesmo um
abalo. O mercado, no entanto, continua com grande potencial, já que mal
chegamos ao índice de 5 habitantes/veículo, pouco abaixo da média mundial, mas distante
de México e Argentina, por exemplo.
Financiamento, responsável por dois terços das vendas,
ficou mais restrito. Embora a inadimplência seja um complicador impactante
sobre os juros, outro problema é menos comentado. Planos artificiais de redução
de taxa têm eficácia limitada. Se mudassem as regras de retomada dos bens, hoje
lenientes para quem deixa de honrar as prestações, certamente aumentaria a
oferta de crédito. Em outros países até o pagador com restrições consegue se
financiar, pois afinal o veículo pode ser recuperado em pouco tempo.
Simultaneamente, o cliente pontual paga menos juros e ganha prazo. O fim do
paternalismo criaria um mercado de crédito bem maior e saudável.
De qualquer forma, este semestre tem potencial de ser
melhor que o primeiro também porque haverá pelo menos 14 lançamentos, é ano do
Salão do Automóvel e a indústria ainda demonstra fôlego para promoções.
RODA VIVA
Aumentar etanol
na gasolina de 25% para 27,5%, em estudo pelo governo, traria mais desvantagens
que benefícios. Gasolina padrão tem 22% de etanol e assim se homologam motores
para consumo e emissões. Mais interessante a decisão recente de imposto menor para
motor flex com relação de consumo entre etanol e gasolina superior a 75%, sem
prejuízo da eficiência energética da gasolina. Ainda não se anunciou a nova
alíquota.
Anfavea mudará
suas estatísticas, inclusive série histórica de 58 anos, para enquadrar SUV
como automóvel de passageiros e não mais comercial leve, conforme a legislação
tributária. Comerciais leves, além de pequenos caminhões e furgões, serão
apenas veículos com caçamba, a exemplo de picapes de qualquer porte com cabine
simples, estendida ou dupla.
Grupo Caoa-Hyundai
reforça sua estratégia de marketing para inserir com maior ênfase no mercado o
SUV de sete lugares Grand Santa Fe. Motor é o mesmo V-6/3,3L/270 cv (gasolina)
do Santa Fe, de 5 e 7 lugares. Acabamento e equipamentos semelhantes, porém com
espaço interno maior, suspensões um pouco mais macias e tração 4x4. Preço: R$ 173.990.
Santa Fe, 7 lugares, custa R$ 12.000 menos.
Mitsubishi Lancer
sofreu um pequeno atraso até a entrada em produção nas instalações do Grupo
Souza Ramos, em Catalão (GO). Ficou para outubro próximo e início de vendas no
final de novembro. É o primeiro automóvel da marca japonesa de produção
nacional. Além desse médio-compacto, é possível a produção também de um
compacto em 2016.
Correção, na
coluna da semana passada. O número total de modelos compactos e subcompactos hoje
no mercado brasileiro é de 32, quatro a mais que os 28 informados.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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